Mortes de ciclistas: a importância de abordar o tema na Primeira Habilitação
Para o seu CFC: como o processo de primeira habilitação pode contribuir para evitar a morte de ciclistas no trânsito?
O processo de formação de condutores, muitas vezes, ainda é o único contato que a maioria dos cidadãos tem com a educação para o trânsito. Por mais que nem todos os usuários das vias passem por um Centro de Formação de Condutores (CFC), os que pretendem tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) são obrigados a frequentar um curso teórico e também um prático para obter o documento.
Na madrugada do último domingo, a morte de Marina Kohler Harkot, de 28 anos, que foi atingida enquanto pedalava na Avenida Paulo VI, em São Paulo, chocou o País. Não só pela fuga do condutor do veículo que atingiu Marina, mas por ela ser uma cicloativista, pesquisadora e lutadora em favor da segurança viária.
Diante deste fato, a grande questão é: como o processo de primeira habilitação pode contribuir para que situações como essa não ocorram?
Para Raphael Dornelles, coordenador-geral da ONG Rodas da Paz, que participou da Live Portal Convida, da semana passada (que aconteceu antes do acidente envolvendo Marina), os CFCs devem participar desse processo ativamente.
“Aqui em Brasília, por exemplo, não tem questão sobre bicicleta na prova teórica, e na prova prática menos ainda. Poderiam ocorrer simulações com ciclistas, para ensinar ao condutor como se portar nessa situação”, explica.
Raphael acredita, ainda, ser possível trabalhar por uma formação conjunta. “O CFC poderia trabalhar a formação, ao mesmo tempo, do motorista de carro e do ciclista”, sugere.
Fragilidade do ciclista
Uma das formas de trabalhar o tema é chamar a atenção para a fragilidade do ciclista, assim como do pedestre. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os ciclistas e pedestres são mais vulneráveis e têm a preferência sobre os veículos automotores.
“Falta uma mudança de cultura. O trânsito não é sobre chegar mais rápido, mas sim, sobre chegar bem. Se mudar esse paradigma, muda a cidade inteira. Uma pesquisa, nos EUA, inclusive mostrou que o ciclista vai contra as regras de trânsito para sobreviver, o motorista de carro vai contra as regras de trânsito para ganhar tempo. O pedestre, muitas vezes, atravessa no lugar errado porque não tem faixa, porque não para de passar carro, ele então se arrisca. Não tem uma estrutura, fiscalização, educação, nada que incentive o caminhar. Da mesma forma o ciclista”, diz o Dornelles.
Banco de Questões
Como citou o cicloativista, apenas alguns estados possuem questões, no exame teórico para obtenção da CNH, referentes ao comportamento dos motoristas em relação aos ciclistas. No Paraná, desde 2014, das 30 questões que compõem o exame, pelo menos uma é diretamente relacionada ao tema.
Em Pernambuco, também no ano de 2014, o Detran/PE incluiu questões ligadas ao ciclismo em seu banco. Além disso, no ano seguinte, inseriu testes de respeito ao ciclista na prova prática.
“Falta empatia no trânsito. É preciso entender que o dano gerado por uma transgressão do ciclista, ou pedestre, é muito menor que um dano gerado pela transgressão de um condutor de veículo automotor”, afirma Dornelles.
Para Celso Alves Mariano, que é especialista e diretor da Tecnodata Educacional, atualmente muitos CFCs já desenvolvem um intenso trabalho de prevenção, segurança e valorização da vida.
“O CFC é uma instituição de ensino, certificada e credenciada pelo Detran, com qualidade e responsabilidade para despertar no cidadão todos os requisitos necessários para que ele seja um condutor mais responsável, que conheça e respeite as leis, e que olhe os outros usuários com mais compreensão e dignidade”, conclui Mariano.