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Infratores sinceros


Por Celso Mariano Publicado 04/10/2016 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h23
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flagrante-de-infracaoE se os infratores assumissem suas traquinagens? Se lhes fosse dada a oportunidade de confessar aberta e francamente seus pecados no trânsito, a que tipo de manifestação assistiríamos? O que ouviríamos? Provavelmente nada. Nenhuma declaração.

Vou fazer justiça: em minhas palestras, seminários e cursos, sempre conduzo as coisas para que as pessoas se sintam à vontade e então… acontece algo incrível: mãos se levantam admitindo que dirigem ou já dirigiram sem CNH, que já atenderam o celular, enviaram mensagens, comeram, se maquiaram e até cochilaram, dirigindo! Em um ambiente controlado, funciona. Devidamente estimulados e tranquilizados quanto ao sigilo, a enxurrada de pecados brota de bocas insuspeitas. E você pode ficar muito impressionado.

O surto de sinceridade possivelmente nunca será obtido por manifestações expontâneas. À propósito, uma das modificações que estão a caminho para o nosso CTB, trazidas pela Lei 13.281 que entra em vigor a partir de novembro é, justamente, um estímulo para que os infratores admitam sua culpa e não utilizem os recursos disponíveis para tentar anular a punição. A recompensa, claro, não será o perdão integral, mas um bom desconto na multa.

Sensibilizar as pessoas para que considerem a possibilidade de admitirem seus erros não é tarefa fácil. E há dois níveis a serem considerados: a coragem para assumir publicamente o que fez. Este, difícil, mas não impossível. E a auto-percepção de que fez coisa errada. Este, muito complicado. Na maioria dos casos, a indignação contra a limitação da regra grita tão alto que a pessoa não consegue ouvir a voz da própria consciência sussurrando, tímida e envergonhada, que admite não ter feito o certo.

Em 23 de setembro deste 2016, em plena Semana Nacional de Trânsito, a Rádio BandNews FM de Curitiba fez uma experiência interessante. Propôs aos ouvintes que revelassem o que fazem ou fizeram de errado no trânsito. Claro que com o comprometimento da emissora de não terem suas identidades revelados. O exercício de mea culpa foi revelador. Várias barbaridades foram reveladas. Mas não se tratava de um tribunal. E então a melhor forma de aproveitar as manifestações de tantos réus confessos foi pelo viés educativo. Por isso me convidaram para comentar.

Se a pessoa tomou consciência de que está se comportando de forma inadequada, a ponto de admitir isso para uma emissora de rádio, por que continuar fazendo errado?

Comentei nesta entrevista sobre as dificuldades que ainda temos em associar as regras e suas imposições de limites e obrigações, com a segurança. É incrível: até admitimos os erros que cometemos, mas também reclamamos de indústria da multa. Meio infantil isso, não acha?

Curiosamente, o programa aconteceu, justamente, no Dia do Agente de Trânsito. Este incompreendido agente da lei de quem os aluninhos travessos esperam a doçura do professor paciente e compreensivo, nunca o amargo da punição corretiva.

Pode-se até repensar o papel dos agentes de trânsito. Mas alguém vai ter que fiscalizar. Ou durante uma partida de futebol o juiz deveria ensinar as regras ao invés de aplicar o cartão?

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