Região das Américas registra quase 155 mil mortes no trânsito por ano, diz agência da ONU
Em relatório divulgado nesta semana (17), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) revela que o número de mortes no trânsito continua aumentando nas Américas, chegando a quase 155 mil por ano. O número de óbitos equivale a 11% do total global de falecimentos associados a transporte e deslocamento.
Segundo o documento, a região não conseguirá reduzir pela metade as mortes no trânsito até 2020, conforme previsto pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS).
A publicação da agência da ONU destaca que as lesões no trânsito são a principal causa de morte de crianças entre cinco e 14 anos de idade. O problema é também a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Quando consideradas todas as faixas etárias, os acidentes são considerados a décima maior causa de morte nas Américas.
“Essas descobertas indicam a necessidade de priorizar a prevenção dessas lesões com intervenções que sabemos que funcionam”, ressaltou a diretora da OPAS, Carissa Etienne.
“Lesões no trânsito não só tiram a vida de milhares de pessoas a cada ano, mas também deixam outras milhares com incapacidade, problemas emocionais e financeiros, além de sobrecarregarem os serviços de saúde.”
Motociclistas em risco
Nas Américas, quase metade das pessoas que morrem por lesões no trânsito são motociclistas (23%), pedestres (22%) e ciclistas (3%). Esses grupos são considerados usuários vulneráveis das vias, por circularem com mínima proteção e por não terem outra opção senão utilizar uma infraestrutura de trânsito pouco segura.
O percentual de motociclistas vítimas de acidentes de trânsito aumentou de 20% para 23% entre 2013 e 2016 — o que pode estar relacionado a um aumento de 23%, registrado no mesmo período, no número de veículos motorizados de duas a três rodas.
Panorama regional
O relatório apresenta dados relatados por 30 países das Américas sobre mortalidade, legislação, avaliação das vias e padrões de veículos. Segundo a pesquisa, embora tenha havido avanços nas leis, na gestão da segurança no trânsito e na atenção pós-trauma às pessoas afetadas, os países das Américas não conseguirão alcançar a meta de reduzir as mortes no trânsito pela metade até 2020.
Com 15,6 mortes no trânsito por cada 100 mil pessoas, as Américas têm a segunda menor taxa de mortalidade no trânsito em comparação com outras regiões da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas existem discrepâncias significativas entre as sub-regiões e países.
A taxa de mortalidade do Brasil foi estimada em 19,7 — acima do índice regional e também da média do Cone Sul, que chegava a 20,9 em 2013, mas teve queda para 18,4 em 2016. O índice brasileiro também é mais alto do que a média da América do Norte (11,7) e da Meso-América (14,2) — região que reúne Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Panamá.
O Caribe latino (21,1 mortes por 100 mil habitantes), a Região Andina (20,9), o Cone Sul e o Caribe não latino (16,7) são as sub-regiões das Américas que concentram as taxas mais altas de mortalidade no trânsito.
De acordo com o relatório, Barbados e Canadá têm taxas equivalentes a menos da metade das suas médias regionais — 5,6 e 5,8 por 100 mil habitantes, respectivamente. Já Santa Lúcia e República Dominicana apresentam índices que são mais que o dobro da taxa de mortalidade regional — 35,4 e 34,6.
Avanços limitados na legislação
O relatório analisa os avanços nas legislações nacionais sobre os cinco principais fatores de risco para prevenir mortes e lesões no trânsito, como o excesso de velocidade, condução sob efeito do álcool, falta do uso de cintos de segurança, capacetes e sistemas de retenção para crianças.
Desde 2014, dois países – República Dominicana e Uruguai – estabeleceram leis sobre a condução sob a influência do álcool, o que eleva para oito o número total de nações das Américas com legislações sobre o tema.
O Equador implementou legislação sobre o uso de capacetes, aumentando para sete a lista de países com regulações acerca desses instrumentos de proteção. A República Dominicana se uniu aos 18 países que já tornavam obrigatório o uso dos cintos de segurança. O Chile adotou medida sobre sistemas de retenção infantil.
Mas nenhuma nova lei foi promulgada para reduzir os limites de velocidade — uma medida importante que salva vidas, de acordo com a OPAS. Nas Américas, apenas cinco países possuem padrões que se alinham às melhores práticas, com limites de velocidade de 50 quilômetros por hora em vias urbanas.
“A promulgação de leis e sua aplicação efetiva são essenciais para evitar mortes no trânsito. No entanto, isso continua sendo um desafio na maioria dos países”, aponta Eugenia Rodrigues, assessora regional de Segurança no Trânsito da OPAS.
A especialista também ressaltou a importância de contar com agências de segurança viária, que existem em 29 dos 30 países. Eugenia defendeu ainda a coordenação e colaboração entre diversos setores.
O relatório da OPAS avalia a situação das normas de segurança dos veículos e infraestrutura viária, além de analisar o progresso e os desafios para melhorar a atenção de saúde após colisões. Acesse a publicação na íntegra clicando aqui.
As informações são da ONU