Precisamos de carros mais modernos para combater mortes no trânsito
Representantes da indústria da mobilidade se reuniram em Sorocaba, SP, no dia 19, para discutir as necessidades de carros com equipamentos mais modernos e eficientes
Precisamos investir em tecnologia para que tenhamos cada vez menos mortes em nosso trânsito. Essa foi a linha de discussão que norteou o Simpósio SAE BRASIL de Dinâmica Veicular, neste dia 19 de março, em Sorocaba, onde compareceram cerca de 130 profissionais da indústria, acadêmicos e estudantes de engenharia.
Segundo Antônio Carlos Canale, professor doutor na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. Pesquisador e consultor em dinâmica veicular, Canale afirmou que a dinâmica está diretamente ligada à segurança e à economia de combustível nos veículos. “Essa área pode e tem muito a contribuir com o desenvolvimento de tecnologias para deixar nossos carros mais seguros”, diz.
Silvia Faria Iombriller, supervisora de desenvolvimento de freios para caminhões da Ford, apresentou dados alarmantes das mortes nas vias urbanas. Segundo Silvia, as vítimas do trânsito em 2012 lotariam nove dos 12 estádios que terão partidas da Copa do Mundo de 2014. “É como se tivéssemos uma queda de avião por dia. Isso é inaceitável”, afirmou.
Para a engenheira a obrigatoriedade do uso do ABS no Brasil foi um fator muito importante para a busca da diminuição de acidentes, pois a União Europeia reduziu seus acidentes viários em 60% desde a obrigatoriedade do sistema de antitravamento de rodas em seu mercado. “Quando o veículo possui essa tecnologia o condutor se sente motorista o tempo todo, pois ele sabe que terá controle total do carro mesmo em circunstâncias de perigo”, disse.
O analista técnico do CESVI Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária), Gerson Burini, falou sobre segurança na frenagem das motocicletas. Atualmente rodam nas vias brasileiras 18 milhões de motos, em 2000 eram apenas 4 milhões, isso representa um aumento de 357% em 11 anos. “Com esse considerável crescimento as estatísticas de mortes em acidentes também subiram de 7 mil para 17 mil no mesmo período”, comentou.
Burini concluiu que a aplicação do sistema ABS nas motocicletas se torna cada vez mais necessária, mas ainda há condutores que não conhecem a tecnologia ou mesmo aqueles que acham que ela é desnecessária. “Como esse veículo se equilibra em apenas duas rodas, a frenagem deve ser muito precisa, por isso o uso do sistema é muito importante”, afirmou.
Interação homem x máquina
Os especialistas também abordaram a questão da interação do ser humano com a máquina. O tema Human-in-the-Loop foi tratado na palestra de Cláudio Fernandes, gerente de produto na PSA Peugeot Citroën, na área de arquitetura de suspensão.
Fernandes mostrou a importância dessa relação, pois somente a partir das reações do condutor em manobras de emergência, é que as tecnologias do veículo podem agir. “Loop é um circuito fechado em que a reação humana alimenta uma reação do veículo que irá agir de uma determinada forma. Human-in-the-Loop significa colocar o homem nesse circuito”, ressaltou.
Ferroviária
A aplicação da dinâmica veicular no setor ferroviário também foi discutida durante o encontro. Thiago Ragozo Contin, professor da Fatec de Sorocaba, e Paolo La Rosa, especialista na área de automação e segurança que atua no desenvolvimento de software em projetos de parceria com a USP nas áreas de simuladores de trens, Interfaces Homem Maquina (IHM) e sistemas embarcados, mostraram um software de simulação ferroviária desenvolvido em parceria com a Poli USP e a Vale.
De acordo com os especialistas, a Vale consome cerca de 8% de todo diesel produzido no País, daí a necessidade de desenvolver um software que proporcione condução melhor e que promova a economia de combustível.
A parceria da empresa com a universidade resultou no desenvolvimento de um programa capaz de simular o comportamento de locomotivas em um comboio de 3 km de comprimento sobre trilho, que hoje já está em aplicação no treinamento dos condutores da empresa. “Para chegarmos nesse resultado foi feito um grande estudo, via satélite, das ferrovias e de todo o terreno que as locomotivas trafegam, e conseguimos obter um resultado espetacular para simular o comportamento desse veículo”, comentou.
Além desse trabalho, Denílson Grando, supervisor de modelagem e simulação dinâmica de sistemas da Multicorpos, apresentou sua tese de mestrado que aprofundou a modelagem matemática na área ferroviária, e desenvolveu um programa de simulação que permite grande detalhamento do comportamento dos vagões e dos trilhos. “Fico muito orgulhoso de ver que temos toda essa tecnologia desenvolvida aqui no Brasil. Isso é um sinal de que estamos sim desenvolvendo conhecimento em nosso País”, afirma Argemiro Costa, coordenador da Comissão Técnica de Dinâmica Veicular da SAE BRASIL.
Legislação
Os especialistas também discutiram a questão do quanto o comportamento do homem interfere na causa de um acidente. “E isso não é apenas na questão de fazer ultrapassagens erradas, não respeitar os limites de velocidade ou mesmo de não fazer a manutenção, falo também na questão das modificações dos carros. Algumas são graves e podem causar acidentes, como as de pneus e elevação de carroceria, por exemplo. É preciso ter muito cuidado”, alertou Silvia Faria Iombriller.
“Precisamos ter boa conduta ao colocar um carro na estrada. A obrigatoriedade do ABS foi apenas o 1º passo para melhorar nosso trânsito. Ainda há muito a evoluir. Acredito que precisamos ter leis mais severas e legislações mais precisas, pois elas estão muito ultrapassadas e se não corrermos ficaremos muito obsoletos perante o resto do mundo”, avaliou Silvia.
O engenheiro de produto e aplicação da Bosch, Leimar Mafort, refletiu sobre a forma de cobrança do IPVA. “A política de que quanto mais velho menor será o imposto para o veículo vai totalmente contrária à necessidade que temos de renovação de frota. Como pode um carro mais velho que polui mais, quebra mais e dá mais gasto ao governo, pagar menos imposto? E se isso fosse invertido? Afinal o carro novo polui menos, quebra menos e consequentemente dá menos gasto para o governo”, questionou.
Fonte: Portal Nacional de Seguros