Comprovadamente prejudicial à saúde dos sistemas respiratório e cardiovascular, a poluição também está ligada à deterioração do cérebro. Foi o que concluiu um estudo da Ohio State University (EUA) publicado ontem pela revista científica Molecular Psychiatry. De acordo com os pesquisadores, as evidências indicam que a poluição pode interferir no surgimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, por exemplo. No experimento, um grupo de camundongos foi exposto ao ar poluído e o outro permaneceu em um ambiente com ar filtrado. O nível da poluição usada, segundo os pesquisadores, foi semelhante ao que se encontra nas grandes cidades industrializadas, como São Paulo, com a presença de partículas poluentes menores que 2,5 micrômetros – quanto menores, mais nocivas elas são ao corpo. Após 10 meses de exposição, os animais foram submetidos a uma série de testes comportamentais que avaliaram o aprendizado e a memória, além da presença de ansiedade e de depressão. Os camundongos expostos à poluição se mostraram mais depressivos, mais ansiosos e com mais dificuldade de aprendizado. “Os resultados sugerem que a exposição prolongada ao ar poluído tem visíveis efeitos negativos para o cérebro, o que pode levar a vários problemas de saúde”, afirma a autora do estudo, Laura Fonken. Para ela, essas conclusões têm implicações importantes para pessoas que vivem e trabalham em áreas urbanas poluídas. Os cérebros dos camundongos também foram avaliados. Nos neurônios daqueles submetidos ao ar poluído foram encontradas alterações físicas relevantes quando comparadas ao outro grupo. “A poluição aumenta o estresse oxidativo de todas as células”, explica a psiquiatra Fernanda Piotto Fralonardo, da Faculdade de Medicina do ABC. “O neurônio é uma célula também e, a partir desse processo, ele tende a ter menos conexões”, analisa. Quanto mais conexões as células cerebrais fazem, mais o indivíduo absorve informações. O coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Saldiva, lista trabalhos que chegaram a resultados semelhantes. Em um deles, sua equipe submeteu roedores à fuligem paulistana e identificou um impacto significativo na memória. “Está crescendo o número de estudos sobre esse impacto no sistema nervoso”, constata. O levantamento da Molecular Psychiatry mostra que os efeitos cerebrais da poluição podem ter a ver também com mudanças no humor dos pacientes. “A exposição a partículas poluidoras está relacionada à potencialização da asma e de outras doenças cardiopulmonares. E a alta inflamação das vias aéreas e a asma estão associadas ao humor negativo”, informa o estudo. Segundo o pneumologista José Roberto de Brito Jardim, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é conhecido entre os especialistas que os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) – um dos problemas respiratórios relacionados à poluição – têm mais depressão do que as pessoas saudáveis. “A hipótese é a de que a circulação dos mediadores inflamatórios por causa da doença possa atingir e estimular o centro da depressão no cérebro.” Pesquisas anteriores já relacionaram a poluição a quadros de sinusite, bronquite, faringite, asma, pneumonia e DPOC. Além disso, o ar poluído pode contribuir para o surgimento de doenças cardiovasculares como arritmia, hipertensão, enfarte, aterosclerose, angina e acidente vascular cerebral (AVC). Os estudos também ligam as condições ambientais a riscos de aborto espontâneo e desenvolvimento de tumores. Fonte: Jornal da Tarde