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21 de novembro de 2024

Sair mais cedo adianta para não ficar apertado no coletivo?


Por Mariana Czerwonka Publicado 29/06/2014 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 23h09
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Transporte coletivoJogue a primeira pedra quem nunca ouviu algumas frases irônicas no transporte coletivo tais como: “Está reclamando que está cheio? Sai mais cedo de casa!” ou “Está apertado aí? Vai de táxi.” Sair mais cedo de casa realmente ajudaria o usuário a enfrentar o problema diário de superlotação do transporte coletivo da cidade? Este texto vai tentar argumentar que é apenas uma medida paliativa. A esperança que o ônibus, o trem ou o metrô estejam mais vazios tende a virar uma roleta russa diária para o usuário, pois nem sempre ele terá a sorte de ir sentado ou ter mais conforto em sua viagem diária. Alguns fatores podem atrapalhar o usuário que busca mais qualidade em sua viagem diária, tais como: acidentes de trânsito, falhas nos sistemas metroviário e ferroviário da cidade, além, claro, a chuva. Tais fatores não são de controle do usuário e influem e muito na equação: “sair mais cedo de casa = maior qualidade de viagem até a faculdade/trabalho.”

É louvável que o governo do Estado tenha criado o programa “Tarifa do Madrugador” que beneficia aquele trabalhador que resolve mudar sua rotina e utilizar o serviço de transporte coletivo mais cedo. Por isso, ele ganha o direito de pagar uma tarifa mais barata. A intenção do governo é fazer com que a população se dilua durante o horário de pico, e que, por hora, menos trabalhadores estejam ao mesmo tempo utilizando um mesmo modal. Com quase 7 milhões de usuários dentro de um universo de quase 14 milhões de habitantes, é uma tentativa fantástica de tentar ajudar a população. Mas ela é apenas uma medida paliativa.

São Paulo como muitas outras cidades cresceu sem organização habitacional e financeira onde existem poucos centros comerciais e muitos bairros dormitórios. Mas até aqui, nenhuma novidade. E é preciso reafirmar: a superlotação não é uma questão que o Metrô, CPTM ou SPTrans possam resolver.  Pode parecer loucura afirmar isso, mas não é. Em um português claro, as três companhias lidam com  “batatas quentes”. Batatas estas que refletem a falta de qualidade não só na administração atual, mas principalmente nas anteriores. Batatas quentes que parecem mais “presentes de grego”, digamos assim.

Todo e qualquer sistema de transporte possui um limite de operação. Um exemplo é o sistema de BRT que a  cidade de Curitiba por muitos anos investiu. Era um sistema exemplo e modelo para várias outras cidades. E que, por muitas décadas, atendia bem à população curitibana. Mas recentemente o governo da cidade afirmou que a cidade precisa ter um sistema metroviário. O que houve? A cidade cresceu e o sistema de BRT mesmo sendo um sucesso chegou ao limite de capacidade e é preciso partir para um novo modal com maior capacidade.

O que acontece em SP é que os sistemas atuais já operam no limite. Por isso que os usuários são “presenteados” quase que diariamente com falhas em equipamentos de via e nos carros. Assim como o corpo humano possui um limite e pode adoecer, os sistemas sobre trilhos de SP estão doentes. Mas qual seria a vacina para esta cura? A vacina é uma agulha que vai doer em muitos setores acomodados da sociedade. Será preciso fazer acordos com os empresários para a criação de horários flexíveis de trabalho, muitas obras serão necessárias, não só para expandir com mais rapidez as linhas do Metrô e da CPTM, assim como é preciso repensar todo o trânsito que a cidade possui. Linhas de ônibus, corredores de ônibus e até a adoção do sistema BRT podem ser soluções que ajudariam a cidade de SP a não ter um trânsito impossível de ser utilizado nos próximos anos.  E tais medidas precisam ser tomadas o quanto antes, por mais que sejam vistas como ousadas e até antipopulares. E que, além de tudo, precisam ser bem pensadas, por que criar soluções que durem apenas um mandato só irão refletir em menos qualidade de vida para o cidadão no futuro próximo. Se hoje já é difícil convencer comerciantes e cidadãos da necessidade de mudanças estruturais em algumas ruas e avenidas (isso sem falar nas desapropriações necessárias para a criação de novas linhas de Metrô), como fazer a cidade progredir sem que, infelizmente, alguns sejam penalizados?

Atualmente existem quatro linhas de Metrô sendo construídas ou expandidas de forma simultânea. Em 40 anos de Metrô na cidade, é um fato histórico. Mas mesmo sendo um fato histórico, tais obras estão demorando para serem entregues e quando o forem, já serão obras defasadas e que já nascerão superlotadas e que deixarão de atender a demanda cada vez maior de mobilidade da população.

Do que foi exposto aqui, acordar cedo pode dar aquela falsa ilusão de que contornamos o problema. Mas o problema de mobilidade urbana é algo bem mais intrínseco para a população paulistana. Faz-se preciso que o usuário entenda que ele pode contribuir sim tentando escalonar seu embarque ao transporte público, mas quem deve agir com mais ousadia com obras e prazos são os governos municipal e estadual.  Se por um lado as obras começarem mais rapidamente a saírem do papel e venham a auxiliar mais rapidamente a população, os acordos com os empresários paulistanos ajudariam e muito a organizar os horários de pico da cidade, trazendo mais conforto, qualidade de vida e produtividade aos trabalhadores. Por que acordar cedo e dormir cada vez menos horas pode, em algum momento  causar um dano à saúde do trabalhador.

Fonte: Via Trolebus

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