Pacientes de hospitais SUS passam por reabilitação longa após acidentes de trânsito
Com R$ 18 milhões gastos em internações, somente no Paraná, violência nas estradas deixa uma pessoa inválida a cada minuto e causa sobrecarga no SUS.
“Tudo foi muito rápido. Estávamos voltando de moto da nossa lua de mel, quando, num instante, eu e minha esposa já nos vimos dentro de uma ambulância, sendo levados para o hospital”. O relato é de Domingos Moreira da Costa, que teve a viagem de celebração de casamento interrompida por um acidente de trânsito. O casal está entre os 13% de pacientes internados no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba (PR), devido a algum tipo de incidente nas ruas e estradas. Considerados um problema grave de saúde pública, as ocorrências com motos representam 54% de todos os acidentes de trânsito do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego.
Além do alto risco de morte, esse tipo de sinistro provoca muitas lesões que podem deixar sequelas incapacitantes definitivas.
A estimativa do Observatório Nacional de Segurança Viária é de que 400 mil acidentados fiquem com algum tipo de sequela a cada ano no Brasil. O fisioterapeuta Rafael Cavalli, que atua dentro do hospital com atendimento 100% SUS, explica que os traumas costumam incluir desde uma perna ou braço quebrado até casos mais complexos, como lesões cerebrais e medulares.
“Para devolver a funcionalidade ao paciente, são fundamentais os exercícios de fortalecimento, alongamento, treino de equilíbrio e de força para que voltem a realizar atividades rotineiras e levar uma vida social normal”, detalha.
Com uma reabilitação longa pela frente devido ao acidente, Domingos e sua esposa Azenate Neris da Silva encaram esse processo com paciência. No entanto, estão ansiosos para retornarem para sua casa, em Goiânia (GO). Eles contam com o apoio da família, o suporte dos profissionais de saúde e, além disso, as sessões de fisioterapia para realizar a reabilitação, superar os obstáculos e retomar a vida que tinham antes do acidente. “Apesar de ser um momento desafiador, não podemos deixar de ser gratos por estarmos vivos e termos a oportunidade de recomeçar. Um passo de cada vez e logo teremos nossa vida normal de volta”, afirma a paciente Azenate.
Reabilitação e acidentes: problema de saúde pública
Os acidentes de trânsito deixam uma pessoa inválida a cada minuto e tiram a vida de outra pessoa a cada doze minutos. Nesse sentido, excesso de velocidade, ingestão de álcool e uso do celular são alguns dos principais fatores que causam uma colisão nas vias. Somente no Paraná, a gravidade destes acidentes resultou em um gasto de R$ 18 milhões em internações hospitalares ao longo de 2022. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do SUS. Nesse cenário, profissionais de saúde de hospitais com atendimento de trauma e emergência vivem diariamente o desafio de atender esses pacientes. Como é o caso do próprio Hospital Universitário Cajuru, que concentra grande parte dos atendimentos de trauma da capital paranaense e região metropolitana.
Com uma média de 147 mil atendimentos por ano, entre internamentos, urgências e emergências, cirurgias bem como consultas ambulatoriais, foram mais de 4 mil pacientes que deram entrada no Pronto Socorro devido a acidentes de trânsito ao longo de 2022.
Desse total, mais da metade estavam em motocicletas.
Os primeiros quatro meses deste ano seguiram a mesma tendência, somando 1,4 mil pacientes atendidos por conta de alguma ocorrência nas ruas ou estradas. “É elevado o número de vítimas que chegam aqui com um quadro clínico de alta complexidade. Acidentes com motos assim como atropelamentos são os que costumam resultar em lesões de maior gravidade. Nessas situações, a manutenção da vida é a prioridade do atendimento”, explica o coordenador médico do Pronto Socorro do Hospital Universitário Cajuru, José Arthur Brasil.
Números da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que o Brasil é, atualmente, o terceiro país com mais mortes causadas por acidentes de trânsito no mundo. O problema se transforma em questão de saúde pública, já que o aumento da imprudência no trânsito sobrecarrega o SUS. Diante desse cenário preocupante, o coordenador do Pronto Socorro do Hospital Universitário Cajuru ressalta a importância de adotar uma postura prudente ao volante.
“É fundamental pensarmos na saúde pública como um todo e agirmos de maneira preventiva. Ser responsável no trânsito desempenha um papel crucial na redução de acidentes e na prevenção de sobrecarga ao sistema de saúde”, conclui.