Exame toxicológico constata uso de drogas entre motoristas de ônibus
Número de exames toxicológicos positivos de motoristas de ônibus supera o de motoristas de caminhão e carreta.
Entre os exames toxicológicos de larga janela de detecção que deram positivo para o uso regular de drogas ou substâncias psicoativas, 57,68% foram testes feitos por motoristas com Carteira Nacional de Habilitação (CNH) da categoria D, necessária para dirigir ônibus e vans. Os dados são da pesquisa As Drogas e os Motoristas Profissionais, divulgada pela Associação Brasileira de Toxicologia (ABTox).
O levantamento se baseia no Painel Toxicológico do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e traz informações referentes ao período entre março de 2016, quando o exame passou a ser obrigatório para a obtenção e renovação da CNH nas categorias C , D e E, e agosto de 2022.
No período analisado, foram identificados 111.475 exames positivos de motoristas habilitados na categoria D; 18.314 da categoria C assim como 63.475 positivos com CNH E. De acordo com o Registro Nacional de Condutores Habilitados, da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), em julho de 2022 o país tinha 1,5 milhão de motoristas de carreta, 7 milhões de motoristas de ônibus e van e 12,2 milhões de habilitações para caminhão.
Conforme o coordenador do programa SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, responsável pelo estudo, a taxa de positividade nos exames toxicológicos é de 2%, a mesma taxa encontrada nos exames de alcoolemia das blitze da Lei Seca, feitas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
“A situação é muito mais grave do que os positivos revelam, porque o positivo é alguém que perdeu completamente a noção do volume de drogas que tem no seu organismo e vai pagar para fazer o exame que detecta o uso regular de drogas nos últimos 90 dias. Ou seja, vai pagar para dar positivo. É como um bêbado procurar a Operação Lei Seca e pedir para pagar o teste do etilômetro e vai dar positivo, está alcoolizado”, explica Rizzotto.
De acordo com ele, a cocaína aparece em primeiro lugar entre as drogas consumidas pelos motoristas, tanto de ônibus como de caminhões. Em segundo vem os opioides, em terceiro a maconha e em quarto lugar estão as anfetaminas, o chamado rebite. Rizzoto destaca também que um grupo três vezes maior do que os testes positivos aparece com detecção dessas substâncias, porém em níveis abaixo do corte que indica o uso regular.
Leia também:
O drogômetro pode substituir o exame toxicológico? Especialistas opinam
Uso de drogas
O terceiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, lançado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2019, indica que, em algum momento da vida, 7,7% dos brasileiros consumiram maconha e seus derivados, 3,1% fizeram uso de cocaína, 0,9% usaram crack e 2,8% inalaram solventes.
Quanto ao consumo de medicamentos sem prescrição médica, a Fiocruz estima que o uso de benzodiazepínicos (psicotrópico hipnótico ansiolítico) foi feito sem prescrição em algum momento na vida por 3,9% dos brasileiros, a de opiáceos (como codeína e morfina) por 2,9% assim como a classe dos anfetamínicos (drogas sintéticas estimulantes) foi de 1,4%.
Habilitação
De acordo com Rizzoto, o levantamento também detectou uma queda de 30% na procura por habilitações C, D e E desde que começou a exigência do exame toxicológico.
“O exame entra em vigor em março de 2016. Você tem uma queda na renovação das habilitações das categorias C, D e E, imediatamente, de 30%. Ou seja, sempre cresceu. E, de repente, você tem uma nova obrigação, que é o exame toxicológico de larga janela, e a queda é de 30%. Pelo crescimento normal esperado, a projeção é que 4 milhões de pessoas deixaram de tirar a habilitação nessas categorias. É assustador, é o que chamamos de positividade escondida”, disse.
Exame toxicológico
O exame toxicológico de larga janela de detecção é obrigatório para condutores das categorias C, D e E. A falta desse exame gera multa gravíssima, de R$ 1.467,35, bem como a suspensão do direito de dirigir por 90 dias. O teste precisa ser feito na obtenção e renovação da carteira, além de periódico a cada 2 anos e 6 meses.
O teste é feito por laboratório autorizado pela Senatran, com a análise da queratina, encontrada nos cabelos, pelos ou unhas. Ele identifica o uso regular de substâncias psicoativas nos últimos 90 dias. Consideram-se os laudos positivos, por exemplo, quando indicam valores acima de uma tolerância determinada. Os níveis de corte podem ser consultados no anexo I da resolução nº 923 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), de 28 de março de 2022.
Detectam-se no exame toxicológico de larga janela as anfetaminas, canabinoides (maconha), opiáceos e cocaína. Além disso, o mazindol, uma medicação utilizada para a perda de peso.
O coordenador do programa SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto destaca que o teste é uma medida de proteção de toda a sociedade. No entanto, o uso de drogas é um pedido de socorro dos motoristas de ônibus e caminhões diante das jornadas exaustivas de trabalho.
“É importante a gente entender que não são playboys usando droga por lazer. Eles usam droga para suportar a jornada, para suportar o estresse no trabalho. Então, é um grito de socorro. Mas nós estamos dentro dos ônibus, então é melhor a gente pensar num socorro rápido. Nós estamos falando dezenas de milhões de pessoas conduzidas diariamente por usuários de drogas”, disse.
As informações são da Agência Brasil
[…] o executivo.Ele reforça, ainda, a importância de certificar-se sobre a categoria da CNH do motorista. Ela deve ser carteira do tipo D – habilitação necessária para dirigir esse tipo de […]