Professor Doutor Carlos José Antônio Kümmel Félix foi o mais votado na categoria e concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal do Trânsito. Leia!
Escolhido pelo voto popular, o Professor Doutor Carlos José Antônio Kümmel Félix foi o mais votado na categoria Influenciador para Mobilidade Sustentável 2020. Ele concorreu com outros docentes da UFRJ e da USP, com empresários do ramo da mobilidade e com a representante das concessionárias de rodovias brasileiras.
O Troféu Frotas & Fretes Verdes, que premia profissionais e empresas em quatro categorias de reconhecimento de boas práticas: Empresa com Sustentabilidade em Processo ou Produto, Executivo Destaque, Influenciador para Mobilidade Sustentável e Pesquisador Individual, é um reconhecimento do trabalho de profissionais que produziram, no último ano, conteúdo relevante sobre projetos inovadores para a melhoria de processos, produtos e serviços ligados à logística, com foco na eficiência e sustentabilidade do sistema de transporte de cargas e passageiros.
A cerimônia de premiação foi realizada no formato virtual, nos dias 29 e 30 de outubro, durante o Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes.
Essa é uma realização do Instituto Besc de Humanidades e Economia, que tem como propósito promover o estudo e o conhecimento de todos os núcleos do saber. Seja através de congressos, seminários, conferências, simpósios, estudos, pesquisas e até webinars, que possibilitam o debate de ideias e realização de ações para o desenvolvimento humano e uma vida sustentável.
Conheça agora a trajetória do Professor Doutor Carlos Félix.
Ele mesmo nos conta em detalhes, durante entrevista exclusiva ao Portal do Trânsito. O professor ressalta a importância da premiação, não apenas para a sua carreira mas, sobretudo, para o mercado e futuro da mobilidade sustentável no Brasil.
Portal do Trânsito – Qual é a relevância deste reconhecimento como Influenciador para Mobilidade Sustentável 2020, para a sua carreira?
Prof. Dr. Carlos Félix – Recebi a indicação com imensa alegria e satisfação. Surpreso, claro, dada a importância e representatividade do mesmo. Estar entre os indicados já configuraria ser um grande reconhecimento. Fiquei muito feliz e realizado como ganhador do troféu, orgulho e privilégio, ainda maior.
O Troféu BESC trouxe grande reconhecimento. Manifestado pelo apoio de expressiva votação e ligações, palavras e todo tipo de mensagens que me emocionou pelo entusiasmo, energia e confiança expressados pelos familiares, amigos, colegas e, especialmente, alunos, um dos principais motivos da minha dedicação em todo esse tempo.
Fez-me lembrar e, claro, passar um filme de uma longa história de desafios, experiências e comprometimento.
Também de coragem, muitas vezes, junto com um constante aprendizado e, algumas vezes, de ensinamentos e contribuições.
Têm-se, assim, uma oportunidade de percorrer uma linha do tempo. Revendo e, de certa forma, revivendo a tudo, como se foi construindo um trabalho como engenheiro e professor na área de Mobilidade na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, onde sempre foi, também, minha casa, como funcionário, estudante de Engenharia Civil e agora professor. Permanecendo significativas lembranças, de todo esse tempo.
Segui a vida, depois de formado, na busca de novos mundos, oportunidades e conhecimentos.
Cursei especialização na PUC do Rio (RJ) em Sistemas de Transportes. Retornei ao Rio Grande do Sul (RS), atuando como engenheiro, obras e projetos de engenharia na Construtora REHN, em Panambi (RS). Fui professor de ensino médio estadual e na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, em Santo Ângelo (RS) no Curso de Tecnologia, hoje Curso de Engenharia Civil, onde colaborei para sua implantação.
Há quase 30 anos, sou professor no Departamento de Transportes, Centro de Tecnologia da UFSM. Fui aprovado em concurso público, onde desde então estou, com muita honra e orgulho.
Exerci várias funções, vice-Chefe e Chefe do Departamento, onde se realizou mais de 10 eventos e seminários de transportes. Trazendo autoridades e pesquisadores de renome para discutir e apresentar o tema Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana. Participo, também, de outros projetos de ensino, pesquisa e extensão.
Ministrei aulas como professor de várias disciplinas, orientador de estágio supervisionado e Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Práticas que permitem a relação direta com os acadêmicos. Propondo e estimulando a pensarem e se desenvolverem como engenheiros e como pessoas, além da relação com empresas, órgãos públicos, organizações e profissionais da área. Colaborei, também, no Curso de Engenharia Florestal e Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Neste tempo cursei o mestrado em Engenharia de Produção – UFSM, na área de Qualidade em Transportes e o doutorado em Engenharia Civil na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, na área de mobilidade urbana.
Fui secretário de trânsito, transportes e mobilidade urbana da cidade de Santa Maria (RS).
Instituindo a secretaria, propondo a elaboração do Plano Diretor de Mobilidade Urbana – PDMU, colaborando, também, com vários projetos de tráfego, transportes e circulação urbana.
Também coordenei o curso de Engenharia Civil, que entre outras colaborações, realizou-se o 1º ENEC – Encontro Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil com palestras, cursos e atividades, de extrema repercussão nacional e nos países do continente, com a participação de quase 1.000 estudantes.
Recebi uma das mais significativas homenagens sendo escolhido como patrono da turma de Engenharia Civil em que meu filho Carlos se formou. Como coordenador do Curso de Engenharia Civil tive o privilégio e imensa emoção em lhe outorgar o grau de engenheiro, assim como a todos com os quais tive esse significativo momento.
Criamos o Grupo de Estudos em Mobilidade Urbana – GeMob, que coordeno com o maior orgulho e significativa participação dos acadêmicos.
Colaborei como assessor do gabinete do reitor, participando de relevantes projetos, tais como: pista multi-uso, sistemas de bicicletas, ônibus Intercampi e transporte circular no campus sede. Desenvolvendo, assim, uma visão sistêmica integrada para a mobilidade segura e ambiental e da melhoria nos deslocamentos na UFSM. Representando a instituição, participei e participo de comissões que tratam de assuntos relevantes na área de planejamento urbano e regional, rodovias e mobilidade.
Como professor e pesquisador da área, participo de eventos – congressos e seminários.
Fico sempre muito agradecido e realizado quando convidado como palestrante. Realizamos encontros, mesas redondas, e outras oportunidades de discussões acadêmicas e profissionais. Entendo que essas participações fazem parte essencial da vida acadêmica. Seja pelas oportunidades de atualização e relações com profissionais e acadêmicos de outras instituições, seja para ampliar os conhecimentos.
Participo, ainda, de associações, como a Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP, da Associação de Transportes e Meio Ambiente – ATMAM, da Organização TodaVida e outros grupos de trabalho na área de Mobilidade. Parecerista de Avaliação dos Cursos de Engenharia – Guia do Estudante, Editora Abril. Membro do Conselho Científico da Revista UNICET, Companhia de Engenharia de Tráfego – CETSP. Colaboro com matérias, artigos e reportagens de jornais, rádio e TV. Desde 2018, tenho uma participação semanal com o quadro Opinião, no programa Editoria 107,9 na rádio UniFM, da UFSM.
Neste ano, participei, de forma remota respeitando as recomendações, nestes tempos difíceis, do Congresso Nacional de Trânsito – CONATRAN, da Semana Nacional do Trânsito – CETRAN-SC e promovemos palestras e lives, em conjunto – GeMob, Factum e Organização TodaVida.
Recebi, com muita honra e orgulho, significativas homenagens, como o diploma “Amigo do Batalhão” (2017), do 4º Batalhão Logístico, CMS – 3ª DE – 6ª BDA INF BLD. Também o diploma “Mérito Niederauer” (2018), da 6ª Brigada de Infantaria Blindada do Exército Brasileiro.
Associamo-nos, nos últimos anos, à nobre causa da segurança para o trânsito e campanhas educativas do Movimento Maio Amarelo, como observador certificado do Observatório Nacional de Segurança Viária – ONSV e da Semana Nacional do Trânsito – DENATRAN. Campanhas que alertam para o uso do cinto, perigos do uso do celular ao volante e da direção após ingerir bebida alcoólica, também da atenção aos limites de velocidade, com o tema “Perceba o risco e proteja a vida”!
Creio ser neste ponto, uma das minhas principais contribuições: respeito e valorização ao pedestre, à pessoa, à vida!
O esforço pessoal é fundamental, mas a ajuda dos demais e as bênçãos divinas são extraordinárias e necessárias. Tenho tanto a agradecer por tudo e a todos e, agora, ainda mais, honrando o título de Influenciador para a Mobilidade Sustentável.
Portal do Trânsito – E para o mercado? De que modo o Troféu Frotas & Fretes Verdes contribui para os projetos, estudos e práticas relacionadas à mobilidade urbana e austentável no Brasil, sobretudo para as atividades do GeMob?
Prof. Dr. Carlos Félix – Há um longo caminho a ser percorrido na mobilidade urbana e sustentável, especialmente em nosso país.
O Brasil foi um dos que mais se urbanizou no mundo após 1950. Passou de um país de população rural para uma intensa urbanização. Impondo um enorme esforço e grande desafio para prover os deslocamentos necessários à realização das atividades. O crescimento populacional acelerado e a alta concentração de pessoas nas cidades exigem uma grande infraestrutura física dos sistemas viários. Além de um adequado planejamento operacional dos sistemas de circulação e de transportes. A compatibilização da oferta adequada para atender a demanda de forma rápida, econômica e com segurança.
Atualmente é imprescindível se pensar na sustentabilidade, que envolve as questões ambientais, como alternativas ao uso dos recursos naturais não renováveis para combustíveis e fabricação de veículos; poluição visual, sonora e, mais grave, as contaminações atmosféricas.
Outros impactos negativos importantes, como os acidentes de trânsito, que são uma das maiores e mais custosas causas de mortes, afetando pessoas e famílias, além dos prejuízos materiais. Os congestionamentos, que se somam à perda de tempo e custo nos deslocamentos, afetando os aspectos econômicos.
O desenvolvimento nos aspectos sociais e econômicos, englobando mudanças e evoluções estruturais, tecnológicas, culturais e institucionais que promovem a melhoria e bem-estar, devem fazer parte dessa solução. Sabe-se que essas condições do sistema de atividades, associadas à organização estrutural, funcional e de uso do solo, são fundamentais e decisivas para a qualidade de vida das pessoas e do ambiente urbano.
Dentro dessa visão, acrescentando os aspectos técnicos de formação e do conhecimento sistematizado, desenvolvemos os trabalhos em nosso Grupo de Estudos e Pesquisas em Mobilidade – GeMob. Atentos à urgência e responsabilidade de considerarmos, cada vez mais, as cidades para as pessoas.
Nosso Grupo surgiu, desde 2012, inicialmente com a finalidade de participar dos levantamentos viários de fluxos, circulação de veículos e pessoas, para a elaboração do Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Santa Maria.
Após esse projeto inicial, aproveitando as experiências e as bases metodológicas, nossas atividades se voltaram para o desenvolvimento de pesquisas e estudos, levantamentos, avaliações e análises nas áreas de transporte, sistema viário, circulação, trânsito, segurança e mobilidade urbana.
O GeMob, que nos dá o maior orgulho, permite oportunidades e experiências aos acadêmicos da Engenharia Civil. Despertando interesse nas mais diversas áreas. Assim como nas áreas sociais, pois se sabe da importância da área de mobilidade, constituindo-se em uma superfunção urbana, fundamental para as cidades.
Nas atividades do grupo são desenvolvidos projetos de pesquisa e extensão na área de mobilidade urbana. Aprofundando conhecimentos e métodos, levantamentos e análises, colaborando com projetos e propostas para ambientes melhores e mais seguros na sociedade. Tais como: “parklets”, polos geradores de tráfego, estudos de impactos viários, de tráfego e circulação, estacionamentos, levantamentos de fluxos veiculares e de pedestres, sinalização viária e semafórica, faixas de pedestres, mobilidade, acessibilidade e caminhabilidade em vias urbanas, educação e segurança para o trânsito.
Portal do Trânsito – O que podemos esperar sobre o futuro da mobilidade sustentável no Brasil?
Prof. Dr. Carlos Félix – Estamos vivendo tempos difíceis, que estão afetando a todos e a tudo, indistintamente. A vida tal como estávamos acostumados foi revirada em uma velocidade sem precedentes. Acredita-se que ninguém estava preparado para enfrentar essa situação da pandemia.
No cenário atual, temos mais incertezas que verdades, com muitas preocupações, instabilidade e insegurança. Vive-se momento a momento, em um contínuo processo de adaptação. Até mesmo sem entender, de reinvenção, aprendendo a minimizar os resultados desfavoráveis, prioritariamente na saúde, na proteção à vida, e em todas suas implicações: economia, segurança, recursos, empregos, atividades, etc.
A começar pelo entendimento de que estamos vivendo um período de transição que pode levar a muitas transformações. Em especial em áreas urbanas. Como a exemplo do trabalho em “home-office” e a recomendação de “fique em casa” – medidas essenciais de resguardo à saúde e sanitárias de distanciamento social, para evitar a disseminação e contaminação, que provocam profundas mudanças no sistema de atividades e na circulação.
Pessoas irão viver, trabalhar e se deslocar de forma diferente por algum tempo, talvez permanentemente. Os deslocamentos e a mobilidade, com tendência a continuar privilegiando os transportes ativos – TA, a pé e de bicicleta, ocupando maior espaço público urbano, até pouco tempo dedicados exclusivamente aos veículos e ao transporte motorizado.
A rotina urbana se transformou, provocando uma mudança nas cidades.
O planejamento urbano se voltando à ampliação da acessibilidade, diminuindo os tempos e a distância dos deslocamentos origem-destino. Urgente e indispensável prever espaços de circulação seguros para os modos não motorizados. Principalmente em áreas de alta densidade de habitações e intenso fluxo de pedestres e ciclistas. Construindo e ou adequando travessias e vias, com alterações na geometria e no traçado, com ordenamento mais seguro dos fluxos de tráfego, priorizando os Transportes Públicos – TP, junto com os deslocamentos não motorizados, atendendo com mais atenção à micromobilidade.
Cidades mais sustentáveis, compactas e conectadas com diretrizes de melhorias de gestão e das funcionalidades são mais saudáveis, inclusivas e produtivas. Além de preparadas para as gerações futuras.
Há, em curso, uma reurbanização, com melhor controle do uso do solo, reorganização espacial e temporal das atividades com possíveis escalonamentos. Dessa forma, diminuindo consideravelmente os congestionamentos e distribuindo a concentração da hora do pico, não necessitando mais ampliação do espaço viário e da capacidade para os transportes motorizados.
No entanto, caberá aos gestores e também aos planejadores urbanos, prover uma infraestrutura segura, cômoda, dentro de um contexto paisagístico, confortável e atrativo para os deslocamentos com novas oportunidades, aliada à desconcentração dos principais polos geradores de tráfego, especialmente trabalho, educação, saúde e lazer mais interligados e menos segregados espacialmente das habitações, beneficiando mais pessoas, reduzindo o tempo de viagem, diminuindo as emissões veiculares, a poluição do ar e o aquecimento global.
É preciso novos conceitos de qualidade de vida urbana. Priorizando as conexões e a busca de soluções que beneficiem não só o desenvolvimento econômico, mas especialmente as pessoas e o planeta. É a evolução e este é o futuro – foco na sustentabilidade!