O que esperar do Brasil na era da nova mobilidade?


Por Pauline Machado

Você já ouviu falar na era da nova mobilidade? Será que o Brasil já chegou lá? A resposta para essas e outras questões você pode ler na matéria do Portal do Trânsito.

Estamos sendo impactados por diversas notícias sobre projetos, inovações ou otimizações que inserem países na nova era da nova mobilidade.

A Mobileye, unidade da Intel, planeja lançar ônibus elétricos autônomos nos Estados Unidos em 2024, com a alegação de que os ônibus vão ajudar a economizar custos, solucionar a escassez de mão de obra, além de resolver problemas como emissões de gases e congestionamentos. Na França, há a promessa de tornar Paris uma cidade de 15 minutos, com deslocamentos ágeis que podem ser feitos a pé ou de bicicleta, por exemplo.

Mas e o Brasil? Que inovações podemos esperar no País e onde ainda precisamos avançar no sistema de transporte coletivo para entrarmos na nova era da mobilidade?

Para nos esclarecer esses e outros pontos, conversamos com exclusividade com Luisa Peixoto, Especialista de Políticas Públicas da Quicko – ecossistema da mobilidade urbana.

Acompanhe!

Portal do Trânsito – O que podemos entender como a era da nova mobilidade?

Luisa Peixoto – A era da nova mobilidade envolve a construção de uma mobilidade urbana centrada nas pessoas que seja mais eficiente, democrática, multimodal e, principalmente, incorpore inovações para melhorar o sistema de transporte como um todo.

A ajuda da tecnologia é fundamental, seja para informações em tempo real, pagamentos digitais de transportes, serviços de compartilhamento e veículos sob demanda.

Entendemos que, entre os próximos passos, deve estar a priorização de um transporte público que atenda demandas apostando em inteligência de dados, economia compartilhada e intermodalidade sustentável – ou seja, a integração dos diversos modais nas cidades e na diminuição dos carros particulares nas ruas.

Neste sentido, a Quicko atua em prol da nova mobilidade englobando estes conceitos em sua plataforma de MaaS (mobility-as-a-service).

Portal do Trânsito – De modo geral, o quanto o mundo já pode se dizer integrado ou adaptado às questões de mobilidade urbana?

Luisa Peixoto é Especialista de Políticas Públicas da Quicko – ecossistema da mobilidade urbana.

Luisa Peixoto – Pelo mundo, já vemos grandes exemplos de países que mobilizaram esforços para entrar na era da nova mobilidade, oferecendo mais rapidez e conveniência nos deslocamentos e priorizando a sustentabilidade. A capital da Dinamarca, Copenhague, por exemplo, é reconhecida pela valorização da bicicleta. Metade da população escolhe usá-la para se deslocar e o faz em vias adaptadas a esse meio de transporte. A Alemanha disponibiliza multimodalidade acessível e a adesão aos transportes públicos aumentou mais de 20% em 10 anos. Já o Reino Unido é referência mundial na integração de modais e há a opção de fazer todo ou parte dos trajetos de bicicleta. Em Paris, na França, existe o projeto da cidade de 15 minutos, em que os trajetos devem ser pensados para serem curtos e seguros.

Para haver a adaptação, a cooperação entre governo e setor privado é fundamental para que a tecnologia se integre mais rapidamente ao sistema de transporte urbano. As políticas públicas e incentivos podem fomentar o surgimento de serviços que melhorem a qualidade de vida nas cidades e o melhor fluxo de pessoas.

Portal do Trânsito – Neste cenário, como podemos classificar o Brasil? O que temos até hoje de significativo no que tange à mobilidade urbana?

Luisa Peixoto – Com relação à nova mobilidade, o Brasil ainda tem um grande caminho a percorrer, o que inclui ações de repriorização pensando em uma mobilidade sustentável e integrada.  Além disso, é importante a participação do setor privado para impulsionar a inovação e o aparecimento de novas soluções de transporte baseadas no compartilhamento de serviços e veículos.

No Brasil e no mundo vemos ainda algumas iniciativas isoladas, mas que já buscam tornar os deslocamentos urbanos mais eficientes para os gestores e acessíveis para os usuários.

Salvador, por exemplo, é um destaque em relação à mobilidade. O metrô da capital é uma das obras de infraestrutura mais rápidas do mundo, com investimento de R$ 5,8 bilhões em uma parceria público-privada. Foi responsável por aproximadamente 50% do crescimento da rede de transporte de passageiros do País. Outro fator importante é o investimento em um sistema de transporte composto por carros elétricos e energia limpa, a exemplo dos VLTs – veículos leves de transporte. A expectativa é que o sistema já esteja pronto no final de 2024, promovendo uma conexão mais inteligente e sustentável.

Além disso, também temos iniciativas inovadoras surgindo a todo o tempo.

Ainda seguindo o exemplo de Salvador, destaco a atividade da Quicko para contribuir com o desenvolvimento da mobilidade na região. O aplicativo oferece informações em tempo real sobre diferentes modais, além das melhores sugestões de rotas pela cidade. A plataforma também concede a experiência mais completa de pagamentos para o transporte público do Brasil. Com a compra digital de créditos para o cartão CCR Metrô Bahia, disponível inclusive com o PIX, o usuário também pode conferir o saldo e o extrato do cartão, fazer o bloqueio e o desbloqueio e cadastrar o CPF, assim, é possível recuperar em créditos o valor usado para a adquirir o cartão e ainda resgatar o saldo em caso de perda ou furto.

O Clube Quicko é outro exemplo. Trata-se do primeiro programa de fidelidade do transporte público, lançado em Salvador, mas com planos de expansão para as demais capitais brasileiras em 2022.  A nova funcionalidade permite que os usuários do transporte público troquem pontos, obtidos pelo uso do aplicativo Quicko, por prêmios e recompensas. Assim, o usuário do transporte público passa a ser visto como cliente.

Portal do Trânsito – Os Estados Unidos, por exemplo, planejam lançar em 2024, ônibus elétricos autônomos com o objetivo de reduzir gastos. Já a cidade da luz planeja se tornar uma cidade com deslocamentos ágeis que podem ser feitos a pé ou de bicicleta. Por quais motivos essas podem ser alternativas viáveis pensando não somente em economizar custos, mas, sobretudo na mobilidade urbana?

Luisa Peixoto – Os ônibus autônomos, vão ajudar a economizar nos custos, solucionar a escassez de mão de obra, além de resolver problemas como emissões de gases e congestionamentos.

Em Paris, o objetivo da iniciativa é tornar seus bairros mais eficientes, reduzindo a poluição, criando áreas social e economicamente diversas e estimulando a circulação de pedestres.

São alternativas que diminuem a sobrecarga do transporte convencional. Bem como, ampliam o leque de possibilidades de deslocamentos e produzem impactos positivos do ponto de vida da sustentabilidade.

Portal do Trânsito – Voltando ao Brasil, que inovações voltadas à mobilidade urbana podemos esperar?

Luisa Peixoto – No Brasil, há algumas tendências de mobilidade para 2022 e os próximos anos. Primeiro, a integração de diferentes modais, coletivos e individuais, que amplia o acesso da população ao sistema de transporte urbano.

As informações em tempo real também já têm sido demandadas, que aumentam a confiabilidade no  sistema de transporte, facilitam a tomada de decisão por parte de operadores e gestores públicos e otimizam as opções de rotas para os usuários.

A tecnologia como aliada nos pagamentos é um outro exemplo. Para que a integração aconteça efetivamente, as tecnologias de pagamento e bilhetagem devem ser compatíveis e interoperáveis. Assim como os sistemas de comercialização devem ser abertos.

A Quicko, por exemplo, já concede a experiência mais completa de pagamentos para o transporte público do Brasil. Com a compra digital de créditos de transporte, disponível inclusive via PIX, o usuário também pode conferir o saldo e o extrato do cartão. Pode, também, fazer o bloqueio e o desbloqueio e cadastrar o CPF. Por fim, o menor incentivo à compra de carros e a maior preocupação com alternativas sustentáveis também chamam a atenção.

Portal do Trânsito – Quais são os maiores desafios para que o País avance neste sentido?

Luisa Peixoto – A falta de dados abertos é um fator prejudicial ao desenvolvimento da mobilidade. Com eles,  é possível saber o status de lotação de veículos e garantir que o usuário possa fazer a melhor escolha para seu trajeto na cidade, mapear as possibilidades de integração entre diferentes formas de transporte, realizar recargas de bilhete de maneira desburocratizada, entre outras soluções. O acesso a essas informações pode significar uma gestão pública do transporte muito mais eficiente. Os recursos poderão ser melhor aproveitados e a experiência do usuário deve melhorar.

Além disso, as parcerias entre as esferas públicas e privadas são fundamentais para analisar o comportamento dos usuários e aproveitar oportunidades, eliminando posturas concorrenciais.

Outros pontos que ainda chamam a atenção são a superlotação dos serviços e espaços, a limitação dos fluxos e a necessidade de investimentos para que o acesso da população seja democratizado e facilitado.

Portal do Trânsito – Para finalizarmos, qual seria a solução em mobilidade urbana para que tenhamos um sistema menos precário e caro para a população, falando especificamente sobre o sistema de transporte coletivo brasileiro?

Luisa Peixoto – O nosso modelo de contratação dos serviços de transporte público municipais, financiado simplesmente pela venda de bilhetes, é extremamente frágil. Ele não promove a melhoria da qualidade do serviço, por isso precisamos de um modelo de contrato que incentive a qualificação do transporte e principalmente a inovação.

Não existe uma nova mobilidade sem um transporte público integrado às novas soluções de transporte. O transporte coletivo é estruturante para a nova mobilidade, porque ele é fundamental para os deslocamentos urbanos. Para que a nova mobilidade funcione, o transporte coletivo tem que estar absorvendo as novas tecnologias e fazer parte dessa transformação.

Essas novas tecnologias englobam a abertura de dados com informações em tempo real para as pessoas. Além disso, inovação nos desbloqueios de cartões de transporte e digitalização das formas de pagamento. Além de facilitar a interoperabilidade com os outros serviços.

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