O que esperar do Brasil na era da nova mobilidade?
Você já ouviu falar na era da nova mobilidade? Será que o Brasil já chegou lá? A resposta para essas e outras questões você pode ler na matéria do Portal do Trânsito.
![Nova era da mobilidade](https://www.portaldotransito.com.br/wp-content/uploads/2022/11/nova-mobilidade-300x200.jpg)
Estamos sendo impactados por diversas notícias sobre projetos, inovações ou otimizações que inserem países na nova era da nova mobilidade.
A Mobileye, unidade da Intel, planeja lançar ônibus elétricos autônomos nos Estados Unidos em 2024, com a alegação de que os ônibus vão ajudar a economizar custos, solucionar a escassez de mão de obra, além de resolver problemas como emissões de gases e congestionamentos. Na França, há a promessa de tornar Paris uma cidade de 15 minutos, com deslocamentos ágeis que podem ser feitos a pé ou de bicicleta, por exemplo.
Mas e o Brasil? Que inovações podemos esperar no País e onde ainda precisamos avançar no sistema de transporte coletivo para entrarmos na nova era da mobilidade?
Para nos esclarecer esses e outros pontos, conversamos com exclusividade com Luisa Peixoto, Especialista de Políticas Públicas da Quicko – ecossistema da mobilidade urbana.
Acompanhe!
Portal do Trânsito – O que podemos entender como a era da nova mobilidade?
Luisa Peixoto – A era da nova mobilidade envolve a construção de uma mobilidade urbana centrada nas pessoas que seja mais eficiente, democrática, multimodal e, principalmente, incorpore inovações para melhorar o sistema de transporte como um todo.
A ajuda da tecnologia é fundamental, seja para informações em tempo real, pagamentos digitais de transportes, serviços de compartilhamento e veículos sob demanda.
Entendemos que, entre os próximos passos, deve estar a priorização de um transporte público que atenda demandas apostando em inteligência de dados, economia compartilhada e intermodalidade sustentável – ou seja, a integração dos diversos modais nas cidades e na diminuição dos carros particulares nas ruas.
Neste sentido, a Quicko atua em prol da nova mobilidade englobando estes conceitos em sua plataforma de MaaS (mobility-as-a-service).
Portal do Trânsito – De modo geral, o quanto o mundo já pode se dizer integrado ou adaptado às questões de mobilidade urbana?
Luisa Peixoto – Pelo mundo, já vemos grandes exemplos de países que mobilizaram esforços para entrar na era da nova mobilidade, oferecendo mais rapidez e conveniência nos deslocamentos e priorizando a sustentabilidade. A capital da Dinamarca, Copenhague, por exemplo, é reconhecida pela valorização da bicicleta. Metade da população escolhe usá-la para se deslocar e o faz em vias adaptadas a esse meio de transporte. A Alemanha disponibiliza multimodalidade acessível e a adesão aos transportes públicos aumentou mais de 20% em 10 anos. Já o Reino Unido é referência mundial na integração de modais e há a opção de fazer todo ou parte dos trajetos de bicicleta. Em Paris, na França, existe o projeto da cidade de 15 minutos, em que os trajetos devem ser pensados para serem curtos e seguros.
Para haver a adaptação, a cooperação entre governo e setor privado é fundamental para que a tecnologia se integre mais rapidamente ao sistema de transporte urbano. As políticas públicas e incentivos podem fomentar o surgimento de serviços que melhorem a qualidade de vida nas cidades e o melhor fluxo de pessoas.
Portal do Trânsito – Neste cenário, como podemos classificar o Brasil? O que temos até hoje de significativo no que tange à mobilidade urbana?
Luisa Peixoto – Com relação à nova mobilidade, o Brasil ainda tem um grande caminho a percorrer, o que inclui ações de repriorização pensando em uma mobilidade sustentável e integrada. Além disso, é importante a participação do setor privado para impulsionar a inovação e o aparecimento de novas soluções de transporte baseadas no compartilhamento de serviços e veículos.
No Brasil e no mundo vemos ainda algumas iniciativas isoladas, mas que já buscam tornar os deslocamentos urbanos mais eficientes para os gestores e acessíveis para os usuários.
Salvador, por exemplo, é um destaque em relação à mobilidade. O metrô da capital é uma das obras de infraestrutura mais rápidas do mundo, com investimento de R$ 5,8 bilhões em uma parceria público-privada. Foi responsável por aproximadamente 50% do crescimento da rede de transporte de passageiros do País. Outro fator importante é o investimento em um sistema de transporte composto por carros elétricos e energia limpa, a exemplo dos VLTs – veículos leves de transporte. A expectativa é que o sistema já esteja pronto no final de 2024, promovendo uma conexão mais inteligente e sustentável.
Além disso, também temos iniciativas inovadoras surgindo a todo o tempo.
Ainda seguindo o exemplo de Salvador, destaco a atividade da Quicko para contribuir com o desenvolvimento da mobilidade na região. O aplicativo oferece informações em tempo real sobre diferentes modais, além das melhores sugestões de rotas pela cidade. A plataforma também concede a experiência mais completa de pagamentos para o transporte público do Brasil. Com a compra digital de créditos para o cartão CCR Metrô Bahia, disponível inclusive com o PIX, o usuário também pode conferir o saldo e o extrato do cartão, fazer o bloqueio e o desbloqueio e cadastrar o CPF, assim, é possível recuperar em créditos o valor usado para a adquirir o cartão e ainda resgatar o saldo em caso de perda ou furto.
O Clube Quicko é outro exemplo. Trata-se do primeiro programa de fidelidade do transporte público, lançado em Salvador, mas com planos de expansão para as demais capitais brasileiras em 2022. A nova funcionalidade permite que os usuários do transporte público troquem pontos, obtidos pelo uso do aplicativo Quicko, por prêmios e recompensas. Assim, o usuário do transporte público passa a ser visto como cliente.
Portal do Trânsito – Os Estados Unidos, por exemplo, planejam lançar em 2024, ônibus elétricos autônomos com o objetivo de reduzir gastos. Já a cidade da luz planeja se tornar uma cidade com deslocamentos ágeis que podem ser feitos a pé ou de bicicleta. Por quais motivos essas podem ser alternativas viáveis pensando não somente em economizar custos, mas, sobretudo na mobilidade urbana?
Luisa Peixoto – Os ônibus autônomos, vão ajudar a economizar nos custos, solucionar a escassez de mão de obra, além de resolver problemas como emissões de gases e congestionamentos.
Em Paris, o objetivo da iniciativa é tornar seus bairros mais eficientes, reduzindo a poluição, criando áreas social e economicamente diversas e estimulando a circulação de pedestres.
São alternativas que diminuem a sobrecarga do transporte convencional. Bem como, ampliam o leque de possibilidades de deslocamentos e produzem impactos positivos do ponto de vida da sustentabilidade.
Portal do Trânsito – Voltando ao Brasil, que inovações voltadas à mobilidade urbana podemos esperar?
Luisa Peixoto – No Brasil, há algumas tendências de mobilidade para 2022 e os próximos anos. Primeiro, a integração de diferentes modais, coletivos e individuais, que amplia o acesso da população ao sistema de transporte urbano.
As informações em tempo real também já têm sido demandadas, que aumentam a confiabilidade no sistema de transporte, facilitam a tomada de decisão por parte de operadores e gestores públicos e otimizam as opções de rotas para os usuários.
A tecnologia como aliada nos pagamentos é um outro exemplo. Para que a integração aconteça efetivamente, as tecnologias de pagamento e bilhetagem devem ser compatíveis e interoperáveis. Assim como os sistemas de comercialização devem ser abertos.
A Quicko, por exemplo, já concede a experiência mais completa de pagamentos para o transporte público do Brasil. Com a compra digital de créditos de transporte, disponível inclusive via PIX, o usuário também pode conferir o saldo e o extrato do cartão. Pode, também, fazer o bloqueio e o desbloqueio e cadastrar o CPF. Por fim, o menor incentivo à compra de carros e a maior preocupação com alternativas sustentáveis também chamam a atenção.
Portal do Trânsito – Quais são os maiores desafios para que o País avance neste sentido?
Luisa Peixoto – A falta de dados abertos é um fator prejudicial ao desenvolvimento da mobilidade. Com eles, é possível saber o status de lotação de veículos e garantir que o usuário possa fazer a melhor escolha para seu trajeto na cidade, mapear as possibilidades de integração entre diferentes formas de transporte, realizar recargas de bilhete de maneira desburocratizada, entre outras soluções. O acesso a essas informações pode significar uma gestão pública do transporte muito mais eficiente. Os recursos poderão ser melhor aproveitados e a experiência do usuário deve melhorar.
Além disso, as parcerias entre as esferas públicas e privadas são fundamentais para analisar o comportamento dos usuários e aproveitar oportunidades, eliminando posturas concorrenciais.
Outros pontos que ainda chamam a atenção são a superlotação dos serviços e espaços, a limitação dos fluxos e a necessidade de investimentos para que o acesso da população seja democratizado e facilitado.
Portal do Trânsito – Para finalizarmos, qual seria a solução em mobilidade urbana para que tenhamos um sistema menos precário e caro para a população, falando especificamente sobre o sistema de transporte coletivo brasileiro?
Luisa Peixoto – O nosso modelo de contratação dos serviços de transporte público municipais, financiado simplesmente pela venda de bilhetes, é extremamente frágil. Ele não promove a melhoria da qualidade do serviço, por isso precisamos de um modelo de contrato que incentive a qualificação do transporte e principalmente a inovação.
Não existe uma nova mobilidade sem um transporte público integrado às novas soluções de transporte. O transporte coletivo é estruturante para a nova mobilidade, porque ele é fundamental para os deslocamentos urbanos. Para que a nova mobilidade funcione, o transporte coletivo tem que estar absorvendo as novas tecnologias e fazer parte dessa transformação.
Essas novas tecnologias englobam a abertura de dados com informações em tempo real para as pessoas. Além disso, inovação nos desbloqueios de cartões de transporte e digitalização das formas de pagamento. Além de facilitar a interoperabilidade com os outros serviços.
[…] “A mobilidade urbana está diretamente ligada ao desenvolvimento econômico e social de uma região. Por exemplo, o tempo que um trabalhador gasta no trânsito impacta diretamente no seu bem-estar e sobre a sua produtividade. Neste sentido, como representantes do setor produtivo, queremos abrir a via do debate e das políticas públicas, possibilitando avanços na qualidade de vida das pessoas e no desempenho econômico”, afirma o presidente da CNDL. […]