26 de dezembro de 2024

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26 de dezembro de 2024

Como os binários podem ajudar na mobilidade urbana?

Os binários são intervenções capazes de solucionar os problemas de congestionamento, segurança e organização.


Por Pauline Machado Publicado 22/02/2023 às 08h15
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Binários
Curitiba aposta em diversas intervenções de engenharia para melhorar a fluidez, como os binários. Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Um dos grandes desafios das cidades brasileiras ainda é encontrar o padrão ideal de mobilidade urbana, que além de sustentável, proporcione possibilidades de termos maior fluidez no trânsito, mantendo, acima de tudo, a segurança de todos. Dentre as intervenções que contribuem para isso estão os binários, alternativas capazes de solucionar os problemas de congestionamento, segurança e organização.

Mas, na prática, você sabe o que são e como podem ajudar efetivamente na mobilidade urbana?

Para esclarecer essa e outras dúvidas, conversamos com a especialista em Trânsito e em Mobilidade Urbana, Mércia Gomes.

Acompanhe a entrevista!

Portal do Trânsito – Qual é o grande desafio das cidades contemporâneas ao pensar em mobilidade urbana no Brasil?

Mércia Gomes – Os grandes desafios da mobilidade urbana brasileira passam pelo trânsito das grandes e médias cidades. Com o aumento da renda média dos brasileiros, aumento dos veículos nas ruas e preferência por transportes individuais, o ir e vir nas cidades está cada vez mais caótico. Além desse cenário, destaca-se que a desigualdade nas grandes cidades reflete diretamente quanto aos projetos beneficiarem a população de baixa renda. Todavia, o deslocamento e ausência de transporte público de qualidade tem sido um desafio às administrações.

Nas cidades contemporâneas há um fluxo cada vez maior de pessoas, informações e indústrias, inclusive mercadorias, as quais se definem como paisagem urbana. Possui uma distinção das coberturas territoriais dos meios de transportes e as infraestruturas coletivas, que nesse sentido influenciam as opções de transportes dos indivíduos.

Para desenvolver projeto de mobilidade urbana em grandes cidades, faz-se necessário lembrar que é de suma importância adentrar do Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001 que determina desenvolvimento de projeto da “Cidade para pessoas” com:

  • 1. Cidade viva;
  • 2. Cidade Segura; 
  • 3. Cidade sustentável e;
  • 4. Modais alternativos de transportes.

Atualmente o tema tem sido bastante discutido diante da necessidade de desenvolvimento e aprovação do projeto. Além da pesquisa de campo de bairros e pessoas que necessitam de meio de transporte diariamente para ir e vir ao trabalho.  

Portanto, o maior desafio é adentrar globalmente nos requisitos necessários que abrangem a sociedade em sua igualdade e bem estar, pois são territórios que evoluem e se transformam de modos distintos ao longo do tempo, ganham novas facetas e possuem características próprias de processo em constante mutação.

Por tal razão necessitam inverter o paradigma das cidades construídas à imagem de automóvel, uma vez que o automóvel ou mesmo a intervenção neste segmento pode qualificar ou mesmo desqualificar o espaço público. Dito isso, é necessário a transformação em menos carros, menos rodovias, mais cidades inteligentes, mais gente, mais bicicleta, ciclovias, transporte público com taxa zero e qualidade.

Portal do Trânsito – Neste aspecto, qual seria o padrão de mobilidade urbana ideal para garantir a sustentabilidade e segurança no trânsito?

Mércia Gomes – Mobilidade urbana é o deslocamento de pessoas ou bens em uma cidade, que para ser sustentável, deve passar por um rigoroso planejamento urbano. O incentivo ao uso de ciclovias, transportes coletivos, caronas coletivas, rodízios de carros e até mesmo pedágios urbanos poderia melhorar a locomoção. Além disso, diminuir os impactos ambientais causados pelo excesso de veículos nas ruas, um dos principais entraves a uma boa mobilidade.

O uso de bicicletas e possíveis carros elétricos auxiliaria também na mobilidade sustentável, pois evitaria, nessas modalidades, a emissão de poluentes nos centros urbanos. Ademais, a criação de parques urbanos para o descanso populacional e realização de atividades físicas faria com que as pessoas priorizassem andar a pé nas curtas distâncias em vez de tirar o carro da garagem. Mais do que se exercitar, essas pessoas contribuíram para a temática ambiental, deixando a cidade mais limpa e menos barulhenta.

Além disso, algumas outras ações são importantes ao pensar na sustentabilidade da mobilidade urbana:

  • Redesenho urbano: um exemplo é um projeto criado em Paris chamado “cidades de 15 minutos”. A ideia é revisitar a estrutura da cidade e encurtar distâncias de até 15 minutos a pé entre residências e serviços essenciais, como mercados e farmácias.
  • Transportes alternativos: como bicicletas, patinetes elétricos e skates, que não emitem gases poluentes e ajudam a diminuir o trânsito nas ruas.
  • Abastecimento de veículos com combustíveis limpos e/ou renováveis: uso de etanol, biometano e eletricidade para abastecimento de veículos, contribuindo cada vez mais para um mundo mais sustentável.
  • Integração modal: a ideia é oferecer um ecossistema de transporte público e privado formado por metrôs, trens, carros de aplicativos e outros veículos para criar conexões e otimizar rotas e ampliar a possibilidade de deslocamento. O conceito já é colocado em prática nas grandes cidades, mas a maioria integra apenas transportes públicos.
  • Modelos de carros econômicos: gastam pouco combustível e emitem menos poluentes.
  • Caronas compartilhadas: a proposta é unir pessoas de uma empresa que moram em locais próximos para aproveitarem um único veículo como meio de transporte. Por exemplo, no condomínio utilizar planilha e dividir o mesmo veículo em dias alternados por famílias, levar filho para escola com carona amiga, utilizar um veículo para levar quatro crianças. Até mesmo as empresas fazem sistemas de veículos entre os funcionários e utilizam carona entre vários, isso ajuda a diminuir a quantidade de veículos necessários na frota.
  • Rotas inteligentes: essa solução para otimizar tempo do uso do transporte na rua é voltada, principalmente, para empresas que trabalham com frotas de veículos.

Portal do Trânsito – Pensando nas grandes cidades brasileiras qual seria o papel dos binários como uma das soluções para a mobilidade urbana?

Mércia Gomes –  Os binários têm objetivos em relação a distribuições das mãos de direção das vias para uma fluidez melhor no trânsito. O sistema binário de trânsito consiste em transformar vias paralelas e próximas, de mão dupla, em vias de sentido único, podendo vir a contribuir no melhor uso do espaço da via e na diminuição de conflitos entre veículos, pedestres e ciclistas. Desse modo, o objetivo é melhorar o fluxo de veículos e tornar a via mais rápida.

Nas grandes cidades, a população tende a utilizar mais o transporte individual. A preferência por este tipo de transporte, muitas vezes está ligada ao conforto e privacidade, contrário ao encontrado no coletivo urbano, além da praticidade e agilidade que o transporte particular proporciona. Com essa preferência do transporte individual, aumenta de maneira significativa a quantidade de veículos nas vias.

A lei 12.587/2012 – Lei de mobilidade urbana, estabelece parâmetros que priorizam os meios de transporte não motorizados e coletivos de transporte em relação ao transporte individual motorizado. Ela traça princípios que visam a acessibilidade universal, o desenvolvimento sustentável das cidades nas dimensões socioeconômicas e ambientais, gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da política nacional de mobilidade urbana e segurança nos deslocamentos das pessoas. São esses alguns dos princípios que devem ser atrelados, por isso, o sistema binário é específico em  relação às mãos de direção das vias para melhor fluidez.

Portal do Trânsito – No entanto, quais são os desafios para a implantação do binário a fim de termos maior fluidez no trânsito nas grandes cidades?

Mércia Gomes – Como desafio, é reconhecer o problema de pesquisa e avaliar uma possível implantação de um sistema de binário de trânsito. Por exemplo numa avenida onde possui trecho que se encontra um grande gargalo, retardando o acesso dos veículos ao centro da cidade.

Ademais, o sistema de transporte no cenário brasileiro tem enfrentado crise de mobilidade urbana devido ao crescimento desordenado das grandes e médias cidades que se enquadram nessa realidade. Visando desenvolver um estudo para propor a implantação de um Binário de trânsito em vias de grande fluxo, esparrar-se uma diminuição no tempo de espera para outros acessos dessa integração, desta forma possibilita uma maior fluidez dos veículos e evita a ocorrência de acidentes entres condutores, permitindo maior qualidade para os usuários das vias.

O binário como solução operacional deve ser concebido quando acidentes envolvendo mais de um automóvel, pedestres e ciclistas, se caracterizarem devido ao tráfego em dois sentidos; conversões à esquerda são difíceis para saída e acesso da via em questão; semáforos deixam de ordenar apenas a preferência de passagem e passam a ser indispensáveis para algum tipo de movimento veicular que poderia ser resolvido de outra forma. Além disso, congestionamentos causam o aumento excessivo do tempo de viagem do transporte coletivo. E daí diminui a frequência de ônibus em uma determinada região, necessitando do aumento da frota para atender a demanda existente de passageiros.

Portal do Trânsito – Pensando nas soluções para a mobilidade urbana, os binários por si só fariam efeito ou é preciso alguma demanda paralela, em conjunto para dar fluidez ao trânsito nas grandes cidades brasileiras? 

Mércia Gomes – Não. Mobilidade urbana está atrelada à Lei N° 12.587 de 2012, que traz a Política Nacional de Mobilidade Urbana sustentável e tem seus princípios. Nesse sentido, existem diversos modelos e segmentos para auxiliar de acordo com região e população da cidade.

  • Acessibilidade universal;
  • Desenvolvimento sustentável;
  • Equidade no acesso ao transporte público coletivo;
  • Eficiência, eficácia e efetividade na Política Nacional de Mobilidade Urbana Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei 12.587 Lei 12.587/2012;
  • Eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte e na circulação urbana;
  • Segurança nos deslocamentos;
  • Justa distribuição dos benefícios e ônus no uso dos diferentes modos;
  • Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros.

Para que a circulação nas vias seja feita de maneira mais eficiente e apropriada, com o crescimento populacional, é necessário ações que interfiram na atual configuração. E estas interferências devem permitir uma melhor circulação. Para essa melhoria existem ferramentas, sendo uma delas os binários, que é a inversão de sentido de ruas paralelas.

A mobilidade urbana pode ser entendida como resultado da interação dos fluxos de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano. Isso compreende tanto o fluxo motorizado quanto o não motorizado.

Pode considerar a mobilidade urbana como um atributo da cidade, sendo determinado principalmente pelo desenvolvimento socioeconômico, pela apropriação do espaço e pela evolução tecnológica, enquanto o transporte público corresponde apenas aos serviços e formas de transportes utilizados no deslocamento dentro do espaço urbano.

O impulso da população de uma forma geral é utilizar o transporte individual. O que acaba determinando o tipo de circulação urbana predominante nas cidades brasileiras. A consequência é o aumento no custo social, menor mobilidade, congestionamento das vias e menor prioridade ao transporte não motorizado.

Na sociedade moderna existem diferentes automóveis, que têm dimensões, massa e velocidade distintas, logo, é importante conhecer e diferenciar os tipos de veículos. Cada um contém uma composição diferente sendo primordial esta diferenciação, pois influenciam em diversos aspectos sendo eles, o tipo e a quantidade de veículos que circulam em uma via influenciam sua capacidade de escoamento, na sua construção.

Habitualmente as vias tendem a oscilar o fluxo de acordo ao horário de pico entre manhã e tarde. Esta mudança é perceptível em pistas com mão dupla, em que as possibilidades de ultrapassagem são limitadas.

Para estabelecer um estudo com o objetivo de realizar um projeto sobre determinada via, deve-se delimitar as rotas, origem e destino, intervenção do fluxo e rotas pré-existentes. Estes itens se correlacionam de maneira direta com a necessidade de delimitar a área a ser estudada.

Por fim, não apenas o sistema binário é suficiente para grandes cidades, possuímos diversos modais para implantação nas grandes cidades.

Portal do Trânsito – Para finalizar, podemos entender os binários como uma tendência ou como prioridade para a mobilidade urbana?

Mércia Gomes – Pode ser tido em ambos os aspectos, ou seja, depende da região e necessidade. Isso porque o sistema binário de trânsito consiste em transformar vias paralelas e próximas, de mão dupla, em vias de sentido único. Dessa forma, podendo vir a contribuir no melhor uso do espaço da via e na diminuição de conflitos entre veículos. Desse modo, será considerado uma tendência e prioridade em diversos projetos pontualmente daquela cidade.

Veja que o sistema binário refletirá quando do aumento do número de carros em uma rua que integra o binário pode levar à retirada das faixas de estacionamento. Inicialmente de um lado e depois de outro.

Além disso, o maior movimento de veículos altera a vida do pedestre nas proximidades do binário. Logo, o trânsito mais intenso pode dificultar o deslocamento a pé pela região.

O zoneamento da cidade também pode ser modificado com a criação do binário. Em alguns casos, há praças ou determinadas propriedades que precisam ser ‘d‘ivididas’, para que o binário passe em um determinado local.

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