A ascensão da popularidade do ChatGPT trouxe à tona a discussão sobre sua aplicação, o papel da inteligência artificial generativa (IAG) e o quanto ela, de fato, é benéfica para os negócios e para todos aqueles que a manuseiam. O fato é que quando se trata do ambiente corporativo, a inteligência artificial (IA) tem funções de extrema importância e, na maioria das vezes, cruciais para o sucesso dos negócios.
Embora o setor de seguros seja uma parte vital da economia global há séculos, fornecendo a indivíduos e empresas proteção financeira contra riscos, Paulo Cesar Pissardo, engenheiro pela Universidade Paulista (UNIP) com MBA pela Fundação Instituto de Administração (FIA), que atua há 22 anos no setor de TI, ocupando, desde 2021, a posição de Diretor de Seguros Brasil na GFT Technologies, ressalta que a indústria permaneceu relativamente inalterada em termos de seus principais processos e interações com os clientes.
“As metas para o setor, de aumentar em 20% a parcela da população atendida e alcançar 10,1% do Produto Interno Bruto – PIB, brasileiro até 2030, divulgada durante o lançamento do Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros – PDMS, ampliam a necessidade de tornar seus processos mais ágeis e eficientes”, enfatiza o executivo.
De acordo com ele, as alterações significativas para acelerar o desenvolvimento das indústrias de seguros são oferecidas por tecnologias avançadas, como Inteligência Artificial, aprendizado de máquina e processamento de linguagem natural – PLN, a exemplo do ChatGPT, uma ferramenta de processamento de PLN que utiliza IA para gerar respostas semelhantes às humanas a partir da entrada de texto ou voz, que pode ser usado para melhorar e agilizar processos, concentrando-se em áreas-chave, como avaliação de riscos, atendimento ao cliente e detecção de fraudes.
Fraudes no setor de seguros
Apesar de o ano de 2022 ter sido marcado pela maior procura por produtos oferecidos pelas seguradoras, avançando a arrecadação em 16,2% em relação ao ano anterior, com mais de R$ 355,9 bilhões arrecadados – sem Saúde e sem DPVAT, é importante haver um equilíbrio quando pensamos nas perdas por fraudes, assegura Pissardo. “A fraude de seguros ainda é uma questão significativa que custa à indústria mundial bilhões de dólares anualmente. Tanto é que, segundo relatório divulgado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), no 1º semestre de 2021, 15,6% dos sinistros registrados no país foram classificados como suspeitos – e o valor das fraudes comprovadas neste período somam R$ 349,3 milhões”, exemplifica e acrescenta.
“Quando olhamos para a América Latina, o cenário é o mesmo: conforme análise da Federação Interamericana de Empresas e Seguros (Fides), as fraudes em seguros na região geram perdas anuais em torno de US$ 50 bilhões – e o país da região que lidera o ranking é a Argentina, enquanto o Brasil se mantém na média dos 18 países associados”, ilustra.
Possíveis soluções
O Brasil possui um alto índice de fraude de identidade. Segundo estudo da Serasa Experian, os brasileiros sofreram quase 3,9 milhões (3.879.869) de tentativas de fraude de identidade em 2022. Isso representa, em média, 1.506 tentativas por mês a cada um milhão de habitantes.
Ele ressalta que um dos processos que visam mitigar esses índices é a validação de identidade. Isso porque assim, a seguradora consegue verificar os dados relacionados àquele cliente. Como, por exemplo, documentos, dados cadastrais e dados biométricos para prevenir que fraudadores tenham acesso aos produtos e serviços da companhia. “As seguradoras tradicionalmente contam com profissionais dedicados a identificar e investigar alegações suspeitas para combater fraudes. Contudo, esse processo é caro e demorado, e nem sempre é efetivo para punir os fraudadores. Como a fraude em seguros é um problema complexo, ela requer uma aproximação sofisticada para detecção. Os fraudadores são, muitas vezes, hábeis em disfarçar suas atividades. E, também, modificam constantemente seus padrões de atuação, tornando difícil para o investigador identificar alegações suspeitas”, informa o executivo da Seguros Brasil na GFT Technologies.
Potenciais do ChatGPT
Neste cenário, a grande vantagem do ChatGPT é sua capacidade de analisar grandes volumes de dados em tempo real. Além disso, identificar padrões e anomalias com alto grau de precisão, ajudando as empresas a tomar medidas imediatas para proteger seus clientes e ativos. Isso pode incluir o exame de comunicação, escrita ou verbal, em busca de sinais de engano. Como, por exemplo, inconsistências em histórias ou padrões de linguagem específicos comumente associados à desonestidade. O emprego dessas tecnologias em processos de análise, por sua vez, permite às seguradoras liberar os profissionais que atuam na investigação de fraudes para focarem em casos mais complexos, evidencia.
“Outro benefício é que a detecção de fraudes com antecedência possibilita às seguradoras minimizar as interrupções. Além disso, as inconveniências que a fraude causaria aos legítimos segurados. O monitoramento contínuo dos fluxos de dados e a atualização das avaliações de risco em tempo real permitem, também, que as empresas ajustem indenizações. Assim como, forneçam recomendações personalizadas de produtos, garantindo que os clientes recebam as opções de cobertura mais relevantes com base em suas necessidades e preferências exclusivas”, detalha.
Por fim, o executivo destaca que, apesar de o ChatGPT ter o potencial de abalar significativamente o setor de seguros, melhorando a avaliação de riscos, aprimorando o atendimento ao cliente e combatendo a fraude, é crucial que as seguradoras abordem os desafios e considerações éticas associados à implementação dessa tecnologia.
“A extensa análise de dados exigida pela ferramenta levanta, por exemplo, preocupações sobre privacidade e segurança de dados. As seguradoras devem garantir a adesão aos regulamentos de proteção de dados para manter a confiança do cliente. Ao fazer isso, o setor de seguros pode aproveitar o poder da inteligência generativa para aumentar a eficiência, melhorar a experiência do cliente e reduzir custos, impulsionando a inovação e o crescimento”, orienta e finaliza o Diretor de Seguros Brasil na GFT Technologies, Paulo Cesar Pissardo.