Artigo – Segurança 5G
J. Pedro Corrêa comenta sobre os benefícios da chegada do 5G ao trânsito e principalmente à segurança no trânsito.
J. Pedro Corrêa*
O leilão do 5G, realizado em Brasília há poucos dias, inundou o país com o debate sobre benefícios que a nova tecnologia trará ao Brasil. A cobertura dos meios de comunicação parecia a da conquista de um título internacional. Realmente, não há como negar que o futuro das telecomunicações vai ganhar um grande impulso com a sua chegada. Se ele consegue ser 20 vezes mais rápido (ou mais) que o 4G que temos hoje, isto significa benefícios enormes.
Leigo, procurei entendidos na área e ligados ao trânsito para entender como o 5G poderá contribuir para reduzir a violência no trânsito.
Não há dúvidas de que, sim, isto ocorrerá em todas as áreas, já sabíamos. Exemplos: gerenciamento do fluxo de tráfego, sincronização semafórica, comunicação entre veículos, entre condutores, acesso às informações para usuários, formulações estatísticas, enfim, não há um subsetor que a chegada da tecnologia não afetará. Como já temos visto, veículos autônomos que dispensam o motorista já estão sendo testados, carros elétricos já estão em uso pelo mundo afora – tudo isto tende a melhorar mais ainda com o 5G. Podemos imaginar seus benefícios comparando os ganhos que tivemos quando chegaram as tecnologias 3G e 4G que já se revelaram surpreendentes. Na verdade, essas novidades nos permitem agora antever uma amostra do que virá a ser a 5G.
A boa pergunta é se ela também conseguirá melhorar o comportamento humano, fazer-nos melhores no trânsito – melhor motorista, motociclista, ciclista, pedestre, enfim, melhor usuário. Cheguei a ouvir de um dos meus interlocutores a pergunta se o 5G também não poderia prejudicar um pouco o trânsito, na medida em que, hoje, o uso do celular ao dirigir se transformou num super problema.
É claro que tudo o que pode ser usado a favor de alguma causa também pode ser usado contra.
Quando surgiu, mandar mensagens pelo celular revelou-se uma bela conquista. Logo, porém, percebemos que teclar enquanto dirigimos passou a ser uma péssima ideia e uma prática perigosa.
Vale lembrar que os avanços da inteligência artificial também serão marcados por mais benefícios e não há dúvidas de que o nosso tão complicado comportamento humano será (ou já é?) afetado positivamente com os progressos do 5G que estão à nossa frente. Assim como já existem as rodovias que perdoam, podemos imaginar futuras mudanças no nosso comportamento sendo influenciadas pela inteligência artificial. Uma esperança e tanto!
Há contudo, um ponto que me ocorre e para o qual chamo a sua atenção. O 5G será muito mais rápido do que tudo que temos hoje, mas não antecipará o nosso futuro. Quando perguntei às minhas fontes quando poderemos comemorar as conquistas concretas do 5G no trânsito brasileiro, as respostas, ainda que não firmes nem diretas, foram que ainda temos um bom tempo pela frente. Óbvio e nem poderia ser diferente.
Afinal, acabamos de fazer o leilão de quem vai operar o 5G.
Agora as empresas vão se estruturar, planejar, comprar tudo o que precisarão (e não é pouca coisa), instalar, testar para, finalmente, colocar à disposição da sociedade. Pelos planos, as coisas começam a acontecer a partir de julho de 2022 mas até que seus benefícios concretos cheguem à segurança do trânsito teremos ainda alguns anos pela frente – quem sabe 2030, pelo que me falaram. É claro que só com o incremento das discussões, com maior familiaridade com o tema, já começaremos a perceber e a usufruir de benefícios e isto já será importante.
O que quero chamar a atenção é que, de qualquer forma, teremos de continuar os esforços para melhorar continuamente nossa convivência no trânsito para baixar a sinistralidade e torná-lo menos violento.
Não há como baixar a guarda, acreditando que só a chegada do 5G será suficiente para atenuar o problema. Será lamentável se isto ocorrer.
Se considerarmos a jornada percorrida nas últimas três décadas pela segurança no trânsito brasileiro podemos expressar uma certa satisfação pelos resultados obtidos até aqui. Temos, porém, ter absoluta consciência de que o rio que estamos tentando atravessar ainda não chegou à metade. Nesse sentido, significa que temos muitas braçadas pela frente. Acordar a sociedade para este contínuo desafio, ou melhor, manter a sociedade alerta para esta necessidade, é dever daqueles que atuam no setor, principalmente dos que exercem algum tipo de liderança em qualquer nível.
O 5G e seus benefícios serão bem-vindos mas até lá – e mesmo, depois da sua chegada – teremos de continuar fazendo a nossa parte. Isso se quisermos deixar um trânsito melhor para as próximas gerações.
*J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito