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07 de setembro de 2024

Artigo- Empresa segura?


Por Artigo Publicado 02/03/2021 às 21h30 Atualizado 08/11/2022 às 21h33
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J. Pedro Corrêa, em seu artigo da semana, questiona o que as empresas brasileiras estão fazendo pela segurança no trânsito. 

*J. Pedro Corrêa

Empresa seguraFoto: Freeimages.com

Se é verdade que o setor privado deveria ser o maior interessado na segurança no trânsito brasileiro, a pergunta pertinente deveria ser: e o que ele faz para acabar ou pelo menos atenuar a violência nas ruas e estradas do país?

Há tempos me faço esta pergunta e a ausência de uma boa resposta concreta me deixa perplexo.

Dados divulgados pelo IPEA ano passado informam que a sociedade brasileira perde cerca de R$ 50 bilhões por ano com os acidentes de trânsito. Englobando-se neste valor os custos relativos à perda de produção das vítimas e também os custos hospitalares. O estudo ressalta que este número resulta de uma atualização de trabalho realizado em 2014 com base nos dados da Polícia Rodoviária Federal, o que significa estar se referindo apenas aos sinistros de trânsito ocorridos nas rodovias federais. Assim, se incluirmos os eventos nas estradas pedagiadas, nas estaduais e nos centros urbanos, pode-se legitimamente estimar que o país deve perder, por baixo e por ano, algo como 100 bilhões de reais.

É óbvio que as empresas arcam com a maior parte destes custos.

Estranhamente, observa-se poucas reações empresariais com relação às perdas e quase nada se ouve falar de planos de ação para fazer frente à esta sangria inaceitável. O que me mais chama a atenção é que esta reação não venha nem das empresas e nem do setor como um todo que não parece tampouco demonstrar preocupação.

Vamos deixar claro que a acidez deste comentário não vale para o setor privado como um todo pois, na realidade, há segmentos dele que atuam há muito tempo na segurança. Empresas do setor de petroquímico, por exemplo, são bons exemplos de trabalho em prevenção e, quando sinistros ocorrem, atuam muito bem na contenção dos danos.

Na área do transporte de cargas, grandes embarcadores têm trabalhado duro com seus fornecedores no sentido de mostrar bom desempenho de segurança. Isto tem sido importante para “contaminar” outras empresas da mesma área. Depois de algum tempo, empresários chegam à conclusão de que segurança é um grande negócio para todos, a começar por aqueles que atuam no fronte, isto é, nas estradas do país. Raizen, o braço da Shell na produção e distribuição de etanol no país e Ambev, a gigante das bebidas, são dois bons exemplos de ações bem sucedidas, só para citar alguns nomes de destaque.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT, registra perto de um milhão de transportadores de cargas e de passageiros no Brasil que gerenciam uma frota em torno de 2,5 milhões de veículos, a grosso modo.

Pela minha leitura, parece serem poucas as empresas que se destacam pela excelência no campo da segurança rodoviária.

Aí existe uma oportunidade extraordinária que está sendo perdida pois o número de sinistros nas rodovias nacionais é altíssimo. Conforme estatísticas da Confederação Nacional dos Transportes, CNT, de 2019, a cada dia, o Brasil registra 14 mortes e 190 acidentes nas rodovias federais. Somente em 2018, foram 69.206 acidentes, sendo 53.963 com vítimas. Esses acidentes resultaram em 5.269 mortes no ano. Nos 12 anos analisados pela CNT, o Brasil teve 1,7 milhão de acidentes nas rodovias federais, sendo 751,7 mil com vítimas e 88,7 mil mortes. Se de um lado tratam-se de perdas inaceitáveis, de outro revelam uma enorme oportunidade para redução de fatalidades e de perdas materiais.

O difícil de entender neste caso é que grande número destas empresas registram as perdas provocadas pelos sinistros e não conseguem esboçar uma reação. E, aparentemente não são incentivadas para enfrentar o problema. Nos últimos anos tem surgido, felizmente, bons programas de gerenciamento de frotas despertando executivos para dedicar mais atenção à segurança no trânsito.

Resta, contudo, parte considerável do setor privado ainda a ser resgatado. A ser envolvido em programas de redução da sinistralidade e de estancamento substancial de perdas humanas e materiais.

Ações neste sentido são implementadas nos países desenvolvidos há muitos anos e com bons resultados. Grandes instituições internacionais, tipo OMS, Banco Mundial, bancos multilaterais de desenvolvimento, têm chamado a atenção para a necessidades de tais ações.

Veja outros artigos do autor:

Artigo: Estatísticas 

Artigo: Outra chance 

Na Europa, um dos programas de destaque ressalta a necessidade de as empresas darem mais ênfase à segurança rodoviária de seus colaboradores durante o trajeto casa-emprego. E já obtém resultados positivos promissores. Manuais de segurança e treinamentos específicos têm sido elaborados sobre boas práticas nesta área para orientar as empresas a aperfeiçoarem o monitoramento dos deslocamentos dos funcionários das empresas.

No Brasil ainda se espera pela chegada de um movimento nacional que possa envolver o setor privado neste rico e importante jogo da segurança no trânsito. Até onde vejo, por enquanto nenhuma das grandes confederações nacionais do setor – indústria, comércio, serviços – parece ter mostrado qualquer entusiasmo pelo tema como se aí não houvesse um mundo de oportunidades a explorar. Enquanto isto não ocorre, cabe às empresas e seus executivos tomarem as decisões para si.

O que podem fazer?

  1. Diagnóstico da segurança no trânsito no âmbito da empresa (acidentes com veículos da empresa e de funcionários; normas de segurança dentro do terreno da empresa; absenteísmo devido à sinistralidade, custos hospitalares e materiais, etc.);
  2. Plano de segurança viária contemplando colaboradores, fornecedores e de incentivo a clientes e parceiros; fixação de objetivos de metas a serem atingidas;
  3. Premiação e incentivo às melhores práticas dentro do universo da empresa;
  4. Ampla divulgação interna e externa dos resultados positivos obtidos.

Os resultados começam a aparecer em pouco tempo trazendo motivação e entusiasmo a todos os envolvidos. O exemplo pode levar outras empresas a seguir os mesmos caminhos. Assim, ganham as empresas, o país e a sociedade.

*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito

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