Empresas lançam títulos em áudio na Bienal do Livro de São Paulo. Romance de 300 páginas tem entre oito e nove horas de gravação Quando chega em casa do trabalho, após um bom tempo no trânsito, o médico Claudio Wulkan estaciona na garagem, mas não sai de dentro do carro. Mergulhado no mundo de Sherlock Holmes, personagem de Arthur Conan Doyle, Cláudio não quer perder nem um minuto da história que está ouvindo no som do carro. Como antes do surgimento da televisão, quando eram populares as novelas de rádio, os livros de ouvir, ou audiolivros, transmitem textos de obras em CDs ou arquivos mp3. Musicados, com efeitos sonoros ou simples narrativas, eles conquistam cada vez mais ouvintes, principalmente entre motoristas de grandes cidades. Neste ano, ao menos três empresas expõem audiolivros na Bienal do Livro de São Paulo. Segundo a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’, divulgada pelo Instituto Pró-Livro em março deste ano, a categoria ‘audiolivro’, que nem existia em 2007, em 2011 representa 2% dos leitores do país. Cláudio Wulkan gostava tanto de ouvir as histórias no carro que abriu, em 2006, uma empresa de audiolivros, a Universidade Falada. Com 400 títulos próprios e cerca de 800 de outras editoras, disponíveis em CDs ou por download, a Universidade Falada vende de 8 a 10 mil audiolivros por mês. “Ainda é um mercado imaturo, mas cada vez tem mais adeptos. Acho que o brasileiro chega lá”, diz Cláudio, ouvinte de audiolivros desde os 17 anos, quando trazia os itens dos EUA, onde a cultura do livro de ouvir é próspera. A mesma paixão levou Sandra Silvério a abrir a Livro Falante, também em 2006. “Acompanhava os audiobooks americanos e comprava em viagens. Lá as livrarias têm sessões inteiras de audiobooks, eu ficava louca! Trazia fitas K7, isso nos anos 1980”, conta ela. Sandra sempre trabalhou no mercado editorial e conta que foi a chegada da tecnologia mp3 que a fez investir no audiolivro. “Fui vendo que ficaria mais possível, pois antes era caro, tinha que ter muita mídia. Hoje tenho livros espíritas de nove horas de áudio, por exemplo, em um CD.” Nem teatro, nem música Gravar um livro não é tão simples quanto parece. A carga de interpretação da voz não pode ser nem muito forte, teatral, e nem sem emoção nenhuma. “Não adianta pegar qualquer pessoa e dizer para ela gravar. A pessoa tem que se adequar ao contexto”, diz Cláudio. Sandra geralmente contrata atores e dubladores para as narrações, mas diz que o essencial é que a pessoa seja uma boa leitora. “Tem que ser atenta, não pode ser ansiosa”, explica ela. A Livro Falante tem um estúdio projetado especificamente para a gravação da voz. Sandra pesquisou a tecnologia e contratou um engenheiro e um arquiteto especialistas em acústica. Diferente do estúdio de música, o da narração pode ser menor e tem princípios de tratamento específicos para a voz. Na contagem de Sandra, uma hora de audiolivro equivale a 60 mil caracteres, o que varia de livro para livro. Mas um romance de 300 páginas, mais ou menos, resulta num áudio de 8 a 9 horas. Há casos em que há muitos personagens e que diferentes atores entram na narração. Sandra conta que tem um título espírita com 20 atores. Dificuldades Apesar da empolgação com a novidade do produto no Brasil, as dificuldades foram várias para quem decidiu se arriscar no ramo. “A negociação para conseguir os direitos autorais é muito difícil”, diz Sandra. Já Marco Giroto reclama que, no começo da sua Audiolivro, enfrentou muita resistência por parte das livrarias para colocar os títulos à venda. “Compramos os direitos autorais fora do Brasil e só depois de dois anos conseguimos entrar nas livrarias grandes”, explica ele. Marco acredita que as vendas aumentem com o aumento da oferta de livros em áudio. “As pessoas precisam de diversidade.” Fonte: G1 Notícias