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O que os cursos de primeira habilitação deveriam ensinar?


Por Mariana Czerwonka Publicado 16/03/2015 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h54
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Talita Inaba

Todos os motoristas e motociclistas que circulam pelas ruas do país, legalmente, passaram por um curso preparatório, o chamado curso de primeira habilitação oferecido pelos Centros de Formação de Condutores (CFC’s). No entanto, a formação desses futuros motoristas, o processo de aprendizagem e as dúvidas recorrentes dos alunos para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), muitas vezes, não são suficientemente claras.

Existem muitas críticas ao papel das autoescolas na formação dos condutores. Isso por que a responsabilidade das autoescolas em não só ensinar novos motoristas a dirigir, mas também despertar neles o respeito e a educação para o trânsito. Segundo Eduardo Biavati, mestre em sociologia (UnB), escritor e especialista em educação e segurança no trânsito, o papel dos CFC’s teve uma ampliação e uma incorporação de muitos temas. A antiga habilitação nas antigas autoescolas era estritamente um aprendizado de placas de trânsito para fazer a prova e aprender a passar a marcha e frear o carro. Em outras palavras, o papel da autoescola era meramente técnica.

Atualmente, o papel do CFC sofreu uma ampliação e um aperfeiçoamento muito importante. Exige-se muito mais do que uma autoescola consegue ensinar. “Não há tempo suficiente nem espaço suficiente para abordar e transformar o curso de primeira habilitação em uma reflexão sobre a segurança, sobre a vida. E essa é uma expectativa que não se cumpre e não é por que os CFC’s são fracos ou irresponsáveis”, argumenta o especialista.

Na opinião de Fábio de Cristo, membro do Laboratório de Psicologia Ambiental da UnB, administrador do Portal de Psicologia do Trânsito, coordenador da Rede Latino-Americana de Psicologia do Trânsito e autor do livro Psicologia e trânsito – Reflexões para pais, educadores e (futuros) condutores, os cursos de primeira habilitação, deveriam ensinar outras habilidades que influenciam a condução, como as habilidades para conviver com muitas pessoas e habilidade de nos auto avaliarmos a fim de controlarmos nossas emoções e impulsos.

A educação para o trânsito no Brasil está focada mais na memorização das leis – o que é certo ou errado – do que na discussão e reflexão dos fundamentos delas ou nas consequências potencias, para si e para outros, de não cumpri-las.

Por isso, para o psicólogo, saber o que significa, por exemplo, aquela placa com “um triângulo de cabeça pra baixo” (dê a preferência) é importante; todavia, o trânsito é mais complexo do que decorar normas, saber ligar/desligar o carro e passar a marcha. “As relações no trânsito dizem respeito às relações humanas e consigo, e isso deveria ser mais trabalhado nas escolas. A maior dificuldade que o condutor encontra depois que ele adquiriu a habilitação não é manejar seu veículo, e sim como relacionar-se com os demais participantes”, completa.

Muitas autoescolas desenvolvem um intenso trabalho de prevenção, segurança e valorização da vida. “Em nosso ramo, conseguimos perceber a evolução significativa dos CFCs, eles passaram a se preocupar realmente com a formação cidadã do novo condutor”, avalia Celso Alves Mariano, especialista em trânsito e diretor da Tecnodata Educacional.

Ainda de acordo com o especialista, vários alunos chegam à autoescola sem nenhuma motivação, já achando que sabem tudo sobre o ato de dirigir, e o CFC tem uma difícil tarefa de mudar a cultura desse indivíduo. “Os resultados são surpreendentes e muitos jovens saem transformados e conscientes de seu papel no trânsito”, diz o especialista.

Para concluir, o especialista destacou que atualmente o Centro de Formação de Condutores talvez seja o único contato que o candidato a primeira habilitação tenha com a educação para o trânsito. “O CFC é uma instituição de ensino, certificada e credenciada pelo Detran, com qualidade e responsabilidade para despertar no cidadão todos os requisitos necessários para que ele seja um condutor mais responsável, que conheça e respeite as leis, e que olhe os outros usuários com mais compreensão e dignidade”, conclui Mariano.

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