Não foi à toa que o tema de 2025 para as campanhas de trânsito no Brasil foi a velocidade. Com o mote “Desacelere. Seu bem maior é a vida”, os órgãos de trânsito pretendem chamar a atenção para uma questão crítica. E faz todo sentido, já que somente em julho de 2024, de acordo com o Registro Nacional de Infrações de Trânsito (Renainf), houve o registro de 2.806.699 condutores flagrados em excesso de velocidade no Brasil. Ou seja, são mais de 3.770 multas por hora.
Nestes casos, talvez a multa seja a consequência mais leve que o condutor pode ter, já que a alta velocidade é fator de risco determinante para sinistros graves. Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), a velocidade excessiva contribui para cerca de um terço de todas as mortes que ocorrem no trânsito em países de alta renda e metade delas em países de baixa e média renda.
Ainda de acordo com a OPAS, um aumento na velocidade média está diretamente relacionado tanto à probabilidade de ocorrência de um acidente quanto à gravidade das suas consequências.
Para Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito e da Tecnodata, velocidade não combina com segurança.
“A ameaça vem do fato de que entre estar parado e estar em grande velocidade é preciso tempo. A aceleração não pode ser brusca nem a desaceleração. Os corpos dos seres vivos não foram feitos para desacelerações bruscas, que é o que acontece numa freada de emergência ou numa colisão. Aí a física ajuda a explicar esses fenômenos da biologia que é a destruição dos órgãos internos num primeiro momento, quando há a desaceleração brusca”, explica.
O especialista ressalta que como a maioria absoluta dos veículos automotores disponíveis, tem o potencial de desenvolver grandes velocidades, é necessário dispormos de mecanismos que evitem o desenvolvimento excessivo de velocidade. “Nós temos os radares que flagram velocidades acima daquela que foi determinada pela legislação como sendo a velocidade máxima segura para aquela via. Isso não tem resolvido muito porque as pessoas tendem a diminuir a velocidade só para passar no radar. Essa é uma distorção total do esforço de fiscalização, mas é algo com que estamos convivendo sempre e cada vez mais, diga-se de passagem”, afirma.
Mariano aposta que há um outro conjunto de esforços que pode ajudar. “A educação é capaz de despertar a percepção do risco, de mexer com o senso de responsabilidade do condutor para consigo próprio, para com as pessoas que estão sendo transportadas dentro do veículo e para com as outras pessoas que estão ocupando o espaço viário”, conclui.