Segurança no trânsito nas Américas: relatório da OPAS alerta para desafios persistentes
Apesar dos esforços, os avanços na redução de fatalidades foram limitados. De 2010 a 2021, a redução no número de mortes foi de apenas 0,11% na região.

A segurança no trânsito continua sendo um grande desafio de saúde pública na região das Américas. De acordo com o relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), intitulado “Salvar vidas promoviendo un enfoque de sistemas de tránsito seguros en las Américas”, publicado em espanhol, cerca de 145 mil pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito em 2021, representando 12% do total de mortes globais no trânsito. A taxa de mortalidade foi de 14,09 por 100 mil habitantes, um número que mostra pouca redução ao longo da última década.
O documento apresenta um panorama das ações desenvolvidas durante a Década de Ação para a Segurança Rodoviária 2011-2020 e estabelece uma linha de base para os próximos anos, conforme as diretrizes do Plano Mundial 2021-2030. A meta principal do novo plano é reduzir significativamente as mortes e lesões no trânsito por meio de medidas eficazes de infraestrutura, fiscalização, legislação e assistência pós-acidente.
Desafios e desigualdades regionais
Apesar dos esforços, os avanços na redução de fatalidades foram limitados. De 2010 a 2021, a redução no número de mortes foi de apenas 0,11%. Alguns países, como Brasil, Argentina, Canadá, México e Chile, conseguiram diminuir a mortalidade no trânsito, mas outras regiões enfrentam um crescimento alarmante.
Os dados mostram que:
- A América do Norte teve um aumento na taxa de mortalidade de 11,1 para 13,2 por 100 mil habitantes entre 2010 e 2021.
- No Caribe Latino, a situação é ainda mais grave, com um crescimento de 16,4 para 20,6 por 100 mil habitantes.
- Em contrapartida, no Cone Sul e na Zona Andina, houve redução significativa, de 20,1 para 14,3 e de 19,0 para 15,8, respectivamente.
Outro dado preocupante é o impacto desproporcional sobre os usuários vulneráveis, como motociclistas, pedestres e ciclistas. De 2009 a 2021, as mortes de motociclistas, pedestres e ciclistas aumentaram de 39% para 47% em relação a todas as mortes em acidentes de trânsito. Em 2021, motociclistas representaram 27% das mortes, pedestres 17% e ciclistas 3%. Essa tendência contrasta com a leve diminuição observada na mortalidade de ocupantes de veículos motorizados de quatro rodas.
Além disso, apenas quatro países – Brasil, México, Colômbia e Estados Unidos – concentram 72% de todas as mortes no trânsito da região, o que evidencia a necessidade de políticas direcionadas para essas nações.
Ações e boas práticas no Brasil
No Brasil, diversas iniciativas buscam melhorar a segurança viária e reduzir acidentes e tiveram destaque no relatório da OPAS. Uma parceria entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e a Universidade de Brasília (UnB) tem como objetivo otimizar a coleta e a análise de dados para embasar ações preventivas.
Entre as medidas em andamento, destaca-se o desenvolvimento de um sistema digital para mapear e analisar fatores de risco em trechos críticos das rodovias federais. A ideia é que agentes da PRF utilizem um aplicativo para registrar informações detalhadas sobre acidentes e, assim, fortalecer a fiscalização e a segurança nas estradas.
Outro exemplo positivo vem de Fortaleza (CE). A cidade implementou diversas ações dentro da Iniciativa da Bloomberg Philanthropies para a Segurança Rodoviária Global, como:
- Redução de limites de velocidade para 30 km/h e 50 km/h em áreas estratégicas;
- Campanhas educativas e fiscalização rigorosa;
- Redesenho da infraestrutura urbana para aumentar a segurança de pedestres e ciclistas.
Essas medidas reduziram em 40% o número de mortes no trânsito na capital cearense, demonstrando que intervenções bem planejadas e integradas podem salvar vidas.
Metas e desafios para o futuro do trânsito nas Américas
O relatório da OPAS alerta que, caso a implementação das medidas do Plano Mundial 2021-2030 não seja acelerada, será difícil atingir a meta de reduzir pela metade as mortes no trânsito até o fim da década.
Isso exigirá um compromisso ainda maior dos governos com políticas eficazes, fiscalização rigorosa, investimentos em infraestrutura segura e assistência adequada às vítimas de acidentes.
Com iniciativas como as de Fortaleza e os esforços das instituições brasileiras, há esperança de que mudanças significativas possam ser alcançadas. No entanto, os números mostram que ainda há um longo caminho a se percorrer para tornar as ruas e rodovias mais seguras para todos.