Quase 8 em cada 10 vítimas graves do trânsito são pedestres, ciclistas ou motociclistas
Segundo levantamento realizado pela Abramet, 76% das vítimas graves são pedestres, ciclistas e motociclistas.
Mais de 260 mil internações hospitalares foram registradas no ano passado na rede pública por sinistros de trânsito. Segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), 76% desses casos envolveram pedestres, ciclistas e motociclistas. O tema vem à tona no chamado Maio Amarelo, campanha nacional que neste ano traz como mote a “Paz no trânsito começa por você”.
“Os dados destacam a urgência de medidas preventivas focadas na educação e infraestrutura de trânsito que protejam especialmente esses usuários mais expostos. A campanha do Maio Amarelo deste ano questiona se realmente levamos a paz para as ruas todos os dias e como nossas atitudes enquanto pedestres, ciclistas, motociclistas e, principalmente, motoristas contribuem para um trânsito mais seguro e saudável”, pondera o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde, na última década mais de 2,2 milhões de atendimentos foram realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) para tratamento de pessoas envolvidas em sinistros graves de trânsito. A análise mostra uma tendência preocupante de aumento nas internações dos grupos mais vulneráveis.
Apesar de uma queda inicial até 2020, as internações de pedestres voltaram a crescer, atingindo 39.125 em 2023. Entre os ciclistas, houve um crescimento constante ao longo da última década, de 9.238 em 2014 para 15.573 em 2023. O grupo mais afetado, com um aumento contínuo ao longo da série, foram os sinistros envolvendo motociclistas. Só em 2023, foram mais de 141,7 mil internações.
O convite do Maio Amarelo é para que todos participem e contribuam com mudanças nos comportamentos no trânsito, reforçando a ideia de que a saúde e a paz começam individualmente, mas reverberam por toda a sociedade. O desafio está lançado: como cada um de nós pode ser um vetor de transformação no caos diário do trânsito urbano?”, provoca Meira Júnior.
Fatalidade
Ao avaliar os números de óbitos entre 2013 e 2022 (último dado disponível), é possível observar que pedestres, ciclistas e motociclistas também representam os grupos mais vulneráveis das fatalidades. Segundo os dados oficiais, apesar de uma tendência geral de declínio nos óbitos relacionados ao trânsito, esses grupos continuam a enfrentar riscos desproporcionais, representando metade de todos os registros de óbitos a cada ano.
Os pedestres, tradicionalmente os mais afetados, viram uma redução nos óbitos de 8.220 em 2013 para 5.387 em 2022. “Apesar dos esforços das autoridades em melhorar a infraestrutura das vias, com a implementação de mais faixas de pedestres e campanhas educativas sobre a travessia segura, por exemplo, o número ainda é alarmantemente”, ressalta Flavio Adura, diretor científico da Abramet. Já os ciclistas seguem em meio a um cenário desafiador, com aproximadamente 1.300 mortes ao ano.
Os motociclistas, frequentemente no topo da lista de fatalidades no trânsito, mostram uma estabilidade nos números com uma ligeira redução nos óbitos. Em 2022, houve o registro de 12 mil mortes. Assim, indicando a crítica necessidade de estratégias específicas, incluindo fiscalização, uso de equipamentos de proteção obrigatórios e respeito às normas de trânsito.
“Cada número representa uma vida perdida, uma família devastada. Não podemos nos dar ao luxo de ser complacentes. Precisamos agir agora para tornar nossas estradas seguras e saudáveis para todos, independente do modo de transporte escolhido”, enfatiza Adura. Para ele, o foco das políticas de trânsito deve permanecer na proteção dos mais vulneráveis. “Afinal, a segurança viária não é apenas sobre veículos e estradas; é sobre pessoas e suas vidas”, conclui.
Homens e jovens entre as vítimas mais graves
Cerca de 80% das internações e dos óbitos em acidentes de trânsito envolvem homens. Isso é uma constante em diversas partes do mundo e que reflete fatores comportamentais e sociais. Estudos indicam que homens, especialmente jovens, tendem a adotar comportamentos de risco mais frequentemente do que mulheres. Isso inclui dirigir em alta velocidade, não usar cinto de segurança, e conduzir sob influência de álcool ou drogas.
“Culturalmente, homens são mais propensos a se envolverem em atividades que exigem mobilidade intensa e uso de veículos motorizados”, explica Flavio Adura. O levantamento também mostra que quase metade das internações e óbitos envolve pessoas na faixa etária de 20 a 39 anos. “Este grupo, que frequentemente está no auge de sua vida produtiva e social, é também propensão à mobilidade ativa, seja por necessidades de deslocamento para trabalho ou lazer”, exemplifica.
Outro aspecto importante, explica o médico do tráfego, é o envolvimento desse grupo etário em atividades noturnas.
“A combinação de inexperiência, condução noturna e álcool resulta em uma tempestade perfeita, aumentando significativamente o risco de sinistros graves de trânsito. Campanhas como o Maio Amarelo podem se propõem justamente enfatizar os riscos de comportamentos imprudentes e promovendo uma cultura de direção saudável”, disse.