Um levantamento inédito da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza, no Ceará, analisou a relação entre reduzir a velocidade nas vias da cidade e o impacto no tempo médio de viagem. O estudo, que avaliou seis vias submetidas à intervenção, mostrou um aumento de apenas 6,08 segundos no tempo médio de viagem a cada quilômetro percorrido.
O dado considera o tráfego de um dia completo nas avenidas Augusto dos Anjos, Coronel de Carvalho, Osório de Paiva, Bernardo Manuel, Bezerra de Menezes, Jovita Feitosa e José Bastos.
“Esse estudo mostrou que, quando se leva em consideração o tempo total de viagem, o impacto é insignificante considerando o deslocamento do ponto de origem até o destino do condutor,” explica o coordenador da Central da Mobilidade para a Preservação de Vidas no Trânsito na AMC, Lélio do Vale.
O resultado positivo ajuda a desmistificar o mito de que a reduzir a velocidade da via – com o intuito de diminuir mortes e lesões graves nas vias – poderia prolongar de forma significativa o tempo de viagem e a permanência do condutor no trânsito. “Nossas intervenções são norteadas por estudos técnicos. Os dados comprovam que a política de readequação da velocidade é uma das mais eficazes para que continuemos diminuindo a violência no trânsito. Essa medida, como as próprias estatísticas mostram, não repercute significativamente no tempo de viagem, mas faz total diferença na preservação de vidas. Afinal, o que são seis segundos para uma vida que é salva?”, enfatiza o superintendente da AMC, Antônio Ferreira.
Metodologia
O cálculo do tempo médio de deslocamento foi feito a partir de dados de equipamentos de fiscalização eletrônica. Para a análise, os pesquisadores consideraram critérios, como a existência de pelo menos dois equipamentos de fiscalização eletrônica na via bem como não ter passado por outras intervenções de engenharia de trânsito significativas, como implantação de semáforos e de faixas exclusivas de ônibus.
A análise dos períodos antes e depois se basearam nos mesmos meses em anos diferentes. Foram extintos da análise os períodos mais impactados pela pandemia, como março a setembro de 2020 e fevereiro a abril de 2021. As avenidas consideradas também deveriam ter diferença máxima de 10% entre o volume diário de veículos no período de antes e depois.
Tendência global
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) exceder o limite de velocidade da via é o fator responsável por uma a cada quatro mortes no trânsito. Por conta disso, a própria instituição recomenda que a velocidade máxima das vias urbanas seja de 50 km/h.
Fortaleza tem adotado essa recomendação em cerca de 50 vias e já obteve melhorias relevantes em segurança viária. Em vias cuja velocidade foi readequada, o número de acidentes com mortes caiu 68,1%. “A Av. Leste-Oeste, primeira da Capital a operar com 50 km/h, registrava uma média de 11 óbitos por ano. Em 2022, por exemplo, não registrou nenhuma”, acrescenta o gestor.
Países bem-sucedidos na redução do número de acidentes priorizaram a velocidade segura como uma de suas estratégias. Em 2014, Nova York decidiu reduzir pela primeira vez na sua história o limite de velocidade para 40 km/h em cerca de 90% das vias da cidade. O resultado: queda de 25% nas fatalidades.
Na Noruega, por exemplo, Oslo implementou 30 km/h em áreas escolares e, em alguns casos, proibiu o tráfego de carros nesses locais. Em 2019, nenhum pedestre ou ciclista foi vítima de acidente fatal na cidade.
Na Espanha, depois de uma alta na morte de pedestres, ciclistas e motociclistas em 2019, as autoridades anunciaram o plano de reduzir o limite padrão de 50 km/h para 30 km/h. O parlamento holandês aprovou medida semelhante e espera uma queda de 22% a 31% das mortes assim como das lesões no trânsito.