Dados preliminares de 2023 apontam que o trânsito brasileiro continua matando mais de 33 mil pessoas por ano

Os dados preliminares mostram que 33.743 pessoas morreram em decorrência do trânsito brasileiro em 2023. O número é bem parecido com o de 2022.


Por Mariana Czerwonka
Dados trânsito brasileiro 2023
Desde 2020, o Brasil voltou a registrar ano a ano, aumento no número absoluto de mortes no trânsito. Foto: dpfoxfoto para Depositphotos

O Ministério da Saúde divulgou ontem (18/09) os dados preliminares de mortes no trânsito brasileiro em 2023. Segundo os números, morreram 33.743 pessoas em decorrência do trânsito brasileiro. O número é bem parecido com o registrado em 2022, que aponta 33.894 mortes.

A notícia não é nada animadora, pois historicamente os dados preliminares acabam sendo menores que os consolidados, o que mostra que é muito provável que o número de mortes no trânsito brasileiro esteja aumentando.

Os dados preliminares do trânsito em 2023 confirmam o que órgãos de trânsito bem como a mídia em geral relatam. Os números estão sendo puxados para cima devido ao constante aumento de mortes de motociclistas no Brasil. Foram 12.870 mortes nessa condição em 2023, um número preliminar maior que o consolidado do ano anterior, quando houve o registro de 12.058 mortes. E a faixa etária mais atingida está entre 20 e 29 anos. Em seguida continuam os ocupantes de automóveis (6.902) e os pedestres (5.351).

Ainda conforme as estatísticas preliminares, a maioria das mortes no trânsito ocorreu na Região Sudeste, seguida do Nordeste e do Sul.

Análise

Desde 2020, o Brasil voltou a registrar ano a ano, aumento no número absoluto de mortes no trânsito. No entanto, o país ainda precisa confiar mais em suas estatísticas. Pelo menos é o que acredita Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito e da Tecnodata. “Um número é só uma expressão gráfica, como qualquer outra letra ou símbolo. Mas ao contrário das palavras e símbolos – que invocam apenas a necessidade de se lhes entender o significado e o sentido – os números pedem mais. Muito mais. Pedem histórico. Aquela velha frase irônica que diz que “estatística é a arte de mentir com números”, referindo-se ao mau uso da estatística, ou da estatística pouco confiável, tira o sono de qualquer um que se debruce sobre ela tentando entender sua origem, que cálculos o produziram, quais fontes a estão informando confirmando, etc”, questiona.

De acordo com o especialista, quando o assunto é estatística, as coisas não são tão simples. “Apesar de esforços dignos de nota como as orientações do Projeto Vida no Trânsito, ainda sofremos com boletins de ocorrência sem um padrão único, ou mesmo sem nenhum dado coletado, com processamentos destes dados por caminhos os mais variados e complexos, por atrasos inexplicáveis nestes processamentos e divulgação, etc. Sabemos exatamente quem foi diagnosticado com Dengue, com H1N1 ou Covid19, ontem. Mas não temos bem certeza sobre o número de mortos e feridos no trânsito no ano passado. Pior: em plena Semana Nacional de Trânsito de 2024, ainda consideramos que as estatísticas mais confiáveis são mesmo as de 2022, porque já passaram por todos os ajustes necessários”, diz.

Isso, para ele, é inadmissível.

“Não dá. Parece que não levamos mesmo a sério o problema gigante que é a violência do trânsito. Neste cenário de incertezas, a fonte DataSus ainda é uma boa referência. E o que ela nos diz com os dados preliminares divulgados hoje, é que veremos mais uma piora em nossas estatísticas. Uma lástima. Ou melhor, duas: os números são péssimos, pois nos indicam que estamos piorando e, precisarmos nos contentar em ver um retrato, uma imagem em baixa definição, ainda em fase de construção, do que “deve ter sido” nosso trânsito no ano passado”, conclui.

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