Em agosto de 2016, a Criança Segura completou 15 anos de trabalho para a prevenção de acidentes com crianças e adolescentes de até 14 anos no Brasil. Para celebrar esse marco, a organização lançou, no dia 30 de agosto (Dia Nacional de Prevenção de Acidentes), a publicação “15 anos de atuação da Criança Segura no Brasil: Análise de indicadores de mortes e internações por acidentes na infância e adolescência desde 2001″.
O material apresenta o perfil das mortes e internações por acidentes que acontecem com crianças e adolescentes no Brasil por meio de vários recortes – por gênero, faixa etária, raça, tipo de acidente e renda per capita estadual. As análises sobre os óbitos são referentes ao período de 2001 a 2014 e, para hospitalizações, de 2008 a 2015.
No Brasil, os acidentes são a principal causa de morte de crianças e adolescentes de até 14 anos. Em números absolutos, de 2001 a 2014, o número de óbitos acidentais de meninos e meninas dessa faixa etária diminuiu 31% no país, passando de 6.190 em 2001 para 4.316 em 2014. Já em relação à taxa por 100 mil habitantes de zero a 14 anos, tivemos uma redução de 12,32 mortes em 2001 para 9,40 mortes em 2014, o que representa uma queda de 23,67% na taxa de óbitos infantis por 100 mil habitantes por acidentes no período analisado.
Por outro lado, de 2008 a 2015, o número de internações de crianças e adolescentes por motivos acidentais aumentou 8%, passando de 110.587 para 119.923.
“Analisar a evolução do perfil dos acidentes com crianças e adolescentes desde o ano da fundação da Criança Segura até os dias atuais é um exercício muito importante. A partir dessas análises podemos verificar quais ações de políticas públicas e de informação têm sido bem sucedidas e quais áreas precisam de mais atenção do governo e da sociedade daqui para frente”, explica Gabriela Guida de Freitas, coordenadora nacional da Criança Segura.
Para saber mais sobre o assunto, leia a íntegra da publicação “15 anos de atuação da Criança Segura no Brasil: Análise de indicadores de mortes e internações por acidentes na infância e adolescência desde 2001″ (ou clique aqui para fazer o download do arquivo).
Confira alguns dos destaques da publicação.
Análise dos dados por renda per capita estadual
Com base na redução de 23,67% observada na taxa de mortes por 100 mil habitantes de zero a 14 anos, podemos notar que 15 estados brasileiros apresentaram taxas menores do que a média nacional (são eles: Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Sergipe, Rio de Janeiro, Amazonas, Paraíba, Bahia, Piauí, Acre, Amapá, Pará e Maranhão).
Em geral, observamos que a renda per capita está relacionada ao desempenho na redução de óbitos por acidentes na infância. Algumas exceções foram identificadas, como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, que têm rendas per capita acima da média brasileira e reduziram acidentes fatais em uma velocidade menor que média. E também Roraima, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas, que têm renda per capita abaixo da média brasileira e, ainda assim, reduziram mais que a média as mortes de crianças e adolescentes por acidente.
Em relação às internações, que aumentou 8% de 2008 a 2015, 12 estados apresentaram aumento acima da média nacional (Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Amapá, Paraná, Amazonas, Roraima, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão e Rondônia). Entretanto, nesse caso não encontramos relação significativa entre a renda per capita do estado e o desempenho apresentado no indicador.
Análise dos dados por tipo de acidentes
Mortes devido a acidentes no trânsito (-34%) e afogamentos (-32%) apresentaram desempenho parecido com a média de redução de 31% os acidentes fatais. Já sufocação e intoxicação apresentaram aumento de 7% e 1% respectivamente ao invés de mostrar redução como as outras causas. Com avanço acima da média estão os óbitos por quedas, queimaduras e mortes por armas de fogo, com reduções bem significativas, de 39%, 41% e 54% respectivamente.
Para as internações, os casos por queimaduras aumentaram 37%, bem mais que a média de 8%. Por outro lado, as hospitalizações por afogamentos apresentaram redução de 47%. Trânsito e a categoria outros tiveram aumento de 19% de internação no período observado e, por sua vez, quedas, sufocação e intoxicação apresentaram reduções respectivamente de 3%, 1% e 20%.
Análise dos dados por faixa etária
No período de 2001 a 2014, para os menores de um ano, houve aumento de 2% nos óbitos por acidentes. Já a faixa de cinco a nove anos teve desempenho acima da média, com uma queda de 43% nas mortes por acidentes. As faixas etárias de um a quatro anos e 10 a 14 anos tiveram comportamento parecido com a média de 31% de redução em números absolutos.
Para internações, as faixas etárias de menor de um ano e de um a quatro anos apresentaram aumento bem superior a média de 8%, com respectivamente 22% e 23%. Já a faixa etária de cinco a nove anos apresentou quase nenhum aumento no intervalo de tempo analisado (1%), estando abaixo da média geral. A faixa etária de 10 a 14 anos se manteve próxima à média, com aumento de 7%.
Análise por gênero
Nos últimos anos, tem se mantido a mesma proporção de óbitos entre os sexos masculinos e femininos, sendo que em 2001 houve 65% de mortes de meninos para 35% de mortes de meninas e, em 2014, apresentou-se uma pequena variação de 2% de redução da representatividade do sexo masculino e 2% de aumento da participação do sexo feminino nesse indicador. Para mortes por queda, arma de fogo e afogamento, as mortes de meninos são superiores a 65% do total, com índices de 70%, 70% e 86% respectivamente. Já para intoxicação e sufocação, as mortes de meninas, mesmo que ainda menores que a dos meninos, apresentam taxas maiores que 35%, com 46% e 43% respectivamente dos casos totais.
Para as internações, a diferença é até maior entre os gêneros, em média 69% das hospitalizações são de meninos e 31% de meninas, com pouca variação ao longo dos anos.
Análise por raça
Ao observar a distribuição racial que temos no país, podemos perceber que, proporcionalmente, há mais óbitos infantis por acidente entre negros do que em relação à outras raças, uma vez que eles representam 50,9% da população brasileira, mas correspondem a 57,7% dos óbitos. Já os brancos são 47,5% da população brasileira e detém 37,3% dos óbitos.
Ainda olhando para a mortalidade por acidentes até 14 anos, a série histórica desse indicador nos mostra que a incidência de mortes entre os negros aumentou ao longo do tempo. Enquanto 41,2% dos óbitos eram de pessoas negras em 2001, em 2014 esse índice passou a ser de 57,7%. Já para os brancos, em 2001, 47,7% dos óbitos eram dessa raça e, em 2014, esse número diminuiu para 37,7%.
O fenômeno da discrepância em relação à proporção populacional de raças acontece também quando olhamos as internações de 2008 a 2015. Enquanto 26,8% das internações de crianças e adolescentes até 14 anos em 2008 eram de negros, em 2015 esse número subiu para 40,1%.
Com informações da ONG Criança Segura