Especialistas ouvidos pelo Portal do Trânsito são unânimes em afirmar que o fim do curso teórico trará consequências não apenas ao processo de formação de condutores, mas para toda sociedade! Leia!
A possibilidade de tornar o curso teórico facultativo no processo de formação de condutores, uma proposta do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que não passou pelo aval da Câmara Temática, surpreendeu negativamente os especialistas ouvidos até agora pelo Portal do Trânsito. Todos são unânimes em afirmar que essa decisão poderá afetar não só o processo de formação de condutores, mas a sociedade como um todo.
Conforme J. Pedro Corrêa, consultor em em programas de segurança no trânsito, a decisão é imprudente.
“A minuta de resolução do Contran que altera a formação de condutores, tornando o curso teórico facultativo e que tanta discussão está provocando pelo Brasil afora, é a prova bem acabada de que tudo que já não é tão bom neste país, ainda pode piorar. É inconcebível que, para flertar com classes menos abastadas da sociedade e conquistar votos, seja possível ser tão inconsequente (ou irresponsável?) para abrandar desta forma uma atividade tão importante quanto a formação teórica de condutores de veículos”, argumentou.
A mesma opinião tem Márcia Pontes, especialista que estuda o processo de formação de condutores a nível mundial. Para ela, a minuta do Contran que está passando por consulta pública, é um retrocesso. “Voltamos ao tempo em que as pessoas acreditavam que dirigir era apenas ligar o carro e ir pra frente. No entanto, dirigir não é isso. O que estamos vendo é uma desconstrução de tudo que é importante, que é fundamental para a segurança no trânsito num país onde morre muito mais gente do que as estatísticas conseguem contar”, afirma Pontes.
Os dois especialistas concordam também que o processo de formação de condutores no Brasil tem muito a melhorar, mas o caminho adotado pelo Contran não tem como objetivo esse aperfeiçoamento.
“A culpa não é apenas dos CFCs, ou seja, os Detrans dividem este peso de menos qualidade com as autoescolas pois estes devem monitorar aqueles. Contudo, afrouxar as regras e justificar como medida de economia, é abusar da inteligência alheia! É claro que, se tivesse boa vontade, o governo poderia ter estudado melhor o assunto bem como tentado outras soluções de diminuição de custo. O setor não foi consultado e nem mesmo a Câmara Temática que poderia ter sugerido medidas paliativas”, assegura J. Pedro.
Márcia Pontes completa a linha de raciocínio. “Não é acabando com o CFC ou com a aula teórica, por exemplo, que vai tornar o curso mais barato. O processo de formação de condutores tem outros custos. Não será cortando o fundamental que vão conseguir fechar essa conta”.
Consequências para a sociedade
O fim do curso teórico trará consequências não apenas ao processo de formação de condutores, mas para toda sociedade, de acordo com os especialistas. A primeira delas poderá ser o aumento de sinistros no trânsito e possivelmente de mais mortes e ferimentos graves. “O custo, como sempre, ficará por conta da sociedade. A família do trânsito brasileiro, que hoje já representa parcela considerável da sociedade, deveria responder de forma uníssona à mais esta afronta por parte do governo federal e organizar uma mobilização nacional de tal grandeza que forçasse a retirada desta proposta insana. Ainda dá tempo para reagir!”, convoca J. Pedro.
De acordo com Márcia Pontes, poderá ocorrer aumento de condutas imprudentes e negligentes.
“A falta de conhecimento traz um aumento no número de infrações de trânsito. E todos sabemos que o acidente de trânsito é a infração que deu errado. Pessoas sem nenhum embasamento vão colocar o carro pra andar na via sem saber o que pode, o que não pode, uma mensagem de uma placa que representa perigo, assim como de advertência, obrigatoriedade”, explica.
A especialista cita, ainda, o aumento de custos em outros setores importantes para o Brasil. “Serão necessários muitos e muitos anos, para repararmos todos os danos dessa proposta, se aprovada. Mesmo sem ser aprovada, apenas a intenção vergonhosa já causa danos na mente de um cidadão desinformado. Quem acha que terá redução de custos, por exemplo, não vê que o País vai gastar muito mais para enterrar pessoas e para manter as pastas da saúde dos municípios, dos estados, da própria União”, considera Pontes.
Consulta pública
A Secretaria Nacional de Trânsito colocou em consulta pública, as minutas de duas novas resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que substituirão a 789/20, uma regulamentando o “Novo processo de formação de condutores de veículos automotores e elétricos” bem como o “Manual de Formação de condutor”. Chama a atenção, na nova minuta, a possibilidade de tornar o curso teórico facultativo na formação de condutores.