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07 de setembro de 2024

Artigo: Simuladores nos Centros de Formação de Condutores


Por Artigo Publicado 21/05/2010 às 03h00 Atualizado 10/11/2022 às 19h08
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Com ensinamento básico, poucas horas, sem o pleno conhecimento do homem, da máquina e do meio ambiente, dos riscos e adversidades, de atos e condições inseguras concede-se a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), tudo vindo a constituir o principal fator desencadeante da grande sinistralidade no nosso país.

Sabendo dos riscos que uma máquina sobre rodas pode causar, e as estatísticas de sinistralidade comprovando isso, não podemos entender como o estado faz a concessão de uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) quando o candidato sabe apenas dirigir no trânsito a 30 ou 40 Km/h e fazer uma baliza (estacionar). As coisas mais simples são passadas. Esse é o mínimo fornecido nas aulas práticas como ensinamento na formação daquele que ao receber a CNH comemora como se tivesse conquistado um diploma universitário. Falando em curso de qualquer formação, quando o concluímos somos levados a um estágio com monitores, instrutores ou coisa parecida como uma complementação e o desenvolvimento de habilidades.

No Curso de Formação de Condutores, após término, vamos para o estágio sem monitor ou instrutor e colocamos em prática o pouco que aprendemos em vinte dias (20 h), quase sempre com manias, vícios que adotaremos para o resto da vida já que nem educação continuada (reciclagem) está programada como manutenção da qualidade da atividade desenvolvida na direção veicular. As leis, resoluções, sinalizações surgem a todo o momento e não é dado conhecimento obrigatório ao motorista. Não se conhece os fatores de risco envolvendo o homem, a máquina e o meio ambiente. Acelera-se, freia-se, buzina-se sem o pleno conhecimento da repercussão sobre a saúde.

Muda-se de veículo, de direção mecânica para hidráulica, de câmbio comum para o semi-automático ou automático, do freio mecânico para o ABS com informações rápidas fornecidas por um “vendedor”. Vamos para as ruas, sem nenhuma experiência conhecer a real manipulação dos novos acessórios. Nenhum piloto de aeronave muda o tipo da máquina que está voando para outra sem passar horas no simulador da nova aeronave. É só assim, fornecendo pleno conhecimento da máquina é que vamos formar de maneira consciente e responsável o piloto, o motorista e o motociclista. Aliás, vale lembrar que o motociclista chega a possuir a carta com treinamento prático em ambiente confinado, sem nenhum conhecimento prático no trânsito. Examinado também em ambiente confinado, recebe a CNH e vai praticar o aprendizado individualmente no trânsito louco dos grandes centros. Parece haver um total abandono a preservação da vida.

O tempo é curto, somente ensinamento básico é fornecido para o aluno transitar. Nada é ensinado com relação aos riscos, adversidades, perigos que serão enfrentados em determinadas situações, de dia, à noite, na cidade e na rodovia. Atividade na chuva, piso escorregadio, neblina, névoa, saber se conduzir diante do ofuscamento, frear o veículo com freio comum e ABS, desviar de obstáculos em situação de emergência e muitos outros. A educação preventiva, defensiva, evasiva aplicada na prática, hoje, não é considerada importante. Ter conhecimentos mínimos de física para entender o ponto de equilíbrio de forças atuantes que levam o veículo à capotagem, a derrapagem e outras situações. O tangenciamento de uma curva. A cinemática do trauma, isto é, quando essas forças atuantes sobre o veículo são capazes de causar lesões ao pedestre, ao passageiro e ao próprio motorista. Tudo compõe uma quantidade e qualidade de ensinamentos necessários a real formação de um condutor. Hoje, é fornecida a CNH e o motorista recém formado, acreditando ser portador de todos os conhecimentos necessários, parte para o aprendizado dos riscos e adversidades isoladamente.

Estou convicto de que é hora do DENATRAN atuar de maneira veemente na formação de nossos motoristas. Ampliar horas de treinamento, fazer uso obrigatório de simuladores onde todos os atos e condições inseguras, adversidades, riscos, emergências seriam treinados (20h), para dalí, conhecendo os riscos, partir para a atividade prática de rua na área urbana, na rodovia, de dia e à noite (20h). O investimento para ampliação de conhecimentos será o principal elemento na boa formação de nossos motoristas bem como o maior redutor da sinistralidade. Teremos, sem dúvida, uma redução acentuada da triste estatística de óbitos, vítimas e seqüelados no nosso trânsito. Com a limitação do conteúdo programático dado pela legislação, o artigo 153 do Código de Trânsito Brasileiro ainda impõe punição para os instrutores e examinadores conforme regulamentação estabelecida pelo CONTRAN. Só existe boa formação quando há investimento e o desenvolvimento tecnológico, hoje, permite irmos muito além de tudo que vemos na formação de condutores. Só com excelente formação chegaremos ao acidente zero.

Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET- Associação Brasileira de Medicina de Tráfego

* Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não expressam a opinião do Portal do Trânsito.

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