A pandemia e a Aula Remota: você está preparado?

A aula remota surge como uma tentativa de reação à suspensão dos serviços gerada pela pandemia. Foto: Pixabay.com

Um dos maiores desafios apresentados aos Centros de Formação de Condutores (CFCs), em todos os tempos, é a Aula Remota. E ela surge como uma tentativa de reação à “paradeira” gerada pela pandemia. Com a maioria dos DETRANs inoperantes ou com várias de suas atividades paradas, a possibilidade de viabilizar as aulas do curso teórico, ainda em meio ao distanciamento social, é um alento para muitos.

Mas não para todos, como revela uma enquete realizada pelo Portal do Trânsito no Facebook, nesta semana: 63% dos participantes (até o momento do fechamento deste artigo), mostravam-se desfavoráveis à medida. Entretanto, há os que se sentem aptos e pretendem apostar no seu preparo para atender os alunos nesta nova modalidade de aula.

Neste caso, Diretores Geral e de Ensino, Instrutores e Proprietários de CFC terão, cada um em sua área de atuação, problemas nada comuns para serem resolvidos. Os proprietários, por exemplo, precisam analisar o cenário em todas as suas nuances, dos investimentos à receptividade do mercado, para decidirem por ofertar ou não a modalidade. Não é fácil porque significa investir, em um momento de muitas incertezas, em uma solução que tem caráter temporário.

Os Diretores Geral e de Ensino terão o enorme desafio de ajudarem os instrutores a preparar uma aula com o uso de uma interface nunca antes pensada ou experimentada por nenhum deles. É novidade para todo mundo. Inclusive para os DETRANs que, confirmando a máxima do setor de que o CONTRAN inventa e o DETRAN que se vire para tornar realidade, recém começam a definir os protocolos técnicos para os fornecedores das plataformas. Demorou mais de uma semana para que o primeiro DETRAN, o do Paraná, divulgasse o seu manual de operações.

Instrutores na linha de frente

É mesmo sobre os instrutores que recaem os maiores dos desafios. É como se lhes fosse pedido para sair da sala de aula para dar aulas através do Rádio ou da TV.  A maioria não saberia por onde começar. Uma experiência inusitada nestes não menos inusitados tempos de pandemia.

Instrutores de trânsito são profissionais preparados apenas para o olho no olho dentro de uma sala de aula real, compartilhando o mesmo espaço físico com os alunos. Foi a Covid-19 e o ineditismo do distanciamento social que oportunizou algo até então impensável para aulas teóricos do curso de Primeira Habilitação. Veja aqui a Deliberação 189/20.

“Se fossem apenas explicações gravadas para serem levadas aos alunos pelo WhatsApp, já seria um grande desafio. Mas ainda seria um desafio menor do que uma transmissão ao vivo, pela internet, especialmente pela interatividade que, naturalmente será muito exigida”, explica Celso Mariano, especialista em trânsito com larga experiência em comunicação e instrutor de cursos à distância.

É ele quem sugere um teste que pode ajudar aos profissionais da área a perceberem o tamanho da dificuldade que enfrentarão com a nova modalidade e que também apontará os aspectos mais desafiadores da Aula Remota.

Você está preparado?

Aqui vai um teste, no formato de exercício, para você ter uma ideia do que vai enfrentar como professor de aula remota.

Você agora é um professor que vai dar uma aula sobre aquaplanagem, assunto frequente nas aulas de Direção Defensiva e nos exames teóricos dos DETRANs. Escolha uma ou duas pessoas para ficarem no papel de alunos na aula remota.

Exercício 1: explique por telefone o que é aquaplanagem. Importante: vá para outra sala, sem ver ou ouvir “diretamente” o seu aluno.

Exercício 2: agora explique o que é aquaplanagem (para outro aluno) por meio de uma vídeo chamada (pode ser WhatsApp, FaceTime, ou equivalente).

Exercício 3: configure o seu computador/notebook para exibição em tela expandida (dica: veja os Tutoriais do Portal do Trânsito)

Exercício 4: crie uma sala no Zoom, Hangouts, Skype ou similar, e explique aquaplanagem compartilhando sua tela (pode ser de um conteúdo qualquer).

• Se você não entendeu as instruções acima, ou não sabe o que é WhatsApp, FaceTime, Zoom, Hangouts, Skype, tela expandida ou compartilhamento de tela, você certamente terá dificuldades em ser um instrutor de Aula Remota.

• Se você tem um boa ideia do que é tudo isso e também manja sobre aquaplanagem, só falta conhecer e exercitar suas habilidades na plataforma que o seu CFC adotar.

O quinto exercício deve ser feito em uma plataforma “homologada” pelo seu DETRAN. Isso talvez demore um pouco a ser possível, porque as plataformas ainda não estão prontas, uma vez que os DETRANs recém estão começando a divulgar seus protocolos técnicos, com uns 10 dias de atraso em relação a publicação da Deliberação 189.

A sugestão deste teste ficará ainda mais produtiva se os Diretores Geral e de Ensino tomarem estes exercícios como preparo para o instrutor enfrentar a Aula Remota, direcionando os assuntos a serem abordados e incrementando diferentes graus de dificuldade à tarefa.

Sem o olho no olho

Desenvolver a habilidade de ensinar de forma eficaz não estando presente, sem o olho no olho, será fundamental para que a Aula Remota funcione. Perceba que o essencial neste processo é muito mais a habilidade do instrutor em desenvolver uma didática adequada para o novo jeito de dar aula, do que propriamente os recursos técnicos disponibilizadas pela plataforma a ser utilizada. 

“Se o instrutor for capaz de explicar o que é aquaplanagem em um telefonema ou chamada de vídeo, sem outros recursos que não sua capacidade de comunicação, certamente ele vai se dar bem na Aula Remota. Basta que ele não se atrapalhe com as funcionalidade da plataforma adotada pelo CFC”, diz Celso Mariano.

Finalmente, dificuldades adicionais como a queda da conexão ou delay (atraso) de áudio ou vídeo de alguns dos alunos na sala virtual, poderão adicionar pequenos ou grandes problemas para que este instrutor de aulas remotas consiga desempenhar bem o seu papel.

Boa sorte!