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Engenharia de baixo custo reduz o número de acidentes


Por Talita Inaba Publicado 15/05/2015 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h51
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Os números dos acidentes de trânsito são tão alarmantes que até na Assembléia Geral da ONU em 02 de março de 2010, o tema foi motivo de discussões a respeito das possíveis soluções para diminuir os índices de vítimas. Como resultado, foi proclamada a Década Mundial de Ações de Segurança no Trânsito que pretende, de 2011 a 2020, envolver toda a sociedade na busca de um trânsito menos violento.

No Brasil, um dos 10 países com maiores índices de violência no trânsito, foram indenizados 763.400 vítimas, somente em 2014, segundo dados do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), sendo 52.200 por morte, 595.700 por invalidez e 115.400 por despesas com assistência médica. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS), que coordena e instrumentaliza a Década de Ações, considera ser essencial o envolvimento das pessoas, explica o especialista de trânsito e diretor da Tecnodata Educacional, Celso Alves Mariano. “Sem a mudança de comportamento de todos os usuários do trânsito, será um milagre diminuirmos pela metade as mortes de trânsito, como pretende a meta da OMS até 2020. Não há lei ou fiscalização que dê conta de cidadãos que não percebem riscos, não se submetem às regras ou não se dispõem a agir com responsabilidade”, analisa Mariano.

Uma possível solução para diminuir os problemas de trânsito está na aplicação de medidas de engenharia de baixo custo, o que não significa que os acidentes serão necessariamente evitados, no entanto, os riscos podem ser sensivelmente reduzidos e isso aumenta muito a segurança. Projetos simples podem ser implantados em locais onde se observa maior concentração de acidentes, podendo incluir medidas como: melhora na sinalização vertical e horizontal, adoção de sonorizadores associados à sinalização de advertência, criação de áreas nos acostamentos para conversões em interseções, separação física de pedestres e veículos em áreas de travessias urbanas, criação de ciclovias ou ciclofaixas, uso de tachões refletivos para delineação das curvas mais acentuadas, entre outros.

Na cidade de Curitiba/PR, uma rotatória completou aniversário de quatro anos com muitos motivos para comemoração. Isso porque os moradores do bairro Hugo Langue, no cruzamento da Rua Fernandes de Barros com a rua Jaime Balão, preocupados com as frequentes colisões no local, tomaram uma atitude cidadã que resultou na queda efetiva dos índices de acidentes. Tudo iniciou com a mobilização popular, pesquisas, debates e a busca pela solução. A instalação de uma minirrotatória no cruzamento, que obriga os motoristas a reduzirem a velocidade, é que proporcionou uma impressionante melhora da segurança no local. A ideia funcionou tão bem que, desde então, nenhum acidente foi registrado, o que leva os moradores a afirmarem que 208 acidentes foram evitados, considerando que acontecia uma média de uma colisão por semana.

De acordo com Stephan Knecht, vice-presidente do Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG) e morador do bairro, entre os principais argumentos enviados a prefeitura a favor da implementação da rotatória foram a alta eficiência deste recurso para diminuir a velocidade média no cruzamento, o baixo custo de implementação e manutenção, menos estresse para os motoristas, mais segurança para os pedestres e ainda, menos poluição ambiental e sonora. Tudo em comparação com a tradicional, cara, e não desejada pelos moradores, implementação de semáforo.

Knecht é suíço e trouxe de seu país algumas experiências marcantes de cidadania. Ele revela que nos anos 1980 e 1990, milhões de semáforos foram substituídos por rotatórias em seu país, e que essa mudança levou os municípios e os estados a diminuírem muito os gastos públicos e, ainda, a melhorarem o visual e o bem estar das cidades que ganharam rotatórias embelezadas com arte ou jardinagem. Knecht defende que qualquer medida que faça o usuário do trânsito aceitar regras democráticas como naturalmente impõem as rotatórias, cruzamentos ou bifurcações, resultam em mais responsabilidade para esse motorista.

No entanto, não são apenas medidas como esta que contribuem para a redução das fatalidades no trânsito. A combinação da educação para o trânsito com a mobilização cidadã, tem apresentado resultados muito positivos. Trabalhando há 18 anos em uma empresa de transporte coletivo e, de tanto testemunhar acidentes de trabalho e conviver com a realidade das vias públicas, Luiz Carlos André, fundou e é o atual presidente da ONG Educar para o Trânsito Educar para a Vida (ETEV), uma organização que realiza várias ações voltadas à educação na Paraíba. Entre elas está o projeto ‘zona escolar modelo no trânsito’, que tem como objetivo melhorar a mobilidade urbana e por consequência a qualidade de vida da comunidade e dos alunos ao realizar diferentes intervenções ao redor das escolas com foco em melhorias permanentes no ambiente e na infraestrutura da segurança viária.

Nesse projeto foram construídos 333 metros de calçadas; 3 faixas de pedestres; 5 rampas para cadeirante; 18 placas de sinalização; e a pintura do muro de uma escola com placas ilustrativas de trânsito. Os resultados apontaram que a cada 100 crianças, 68  passaram a andar sobre a calçada e de cada 100 pessoas, entre crianças e adultos, 71 passaram a atravessar a rua na faixa de travessia a eles destinada.

Nesse sentido, o especialista de trânsito Celso Alves Mariano considera que é necessário a população assumir sua responsabilidade de cidadãos, “seja botando a mão na massa, quando possível, seja criticando e exigindo, mas de forma minimamente inteligente, consistente e organizada, pois não há administração fraca que sobreviva à maturidade cidadã”. O especialista alerta que “entretanto, não se pode, simplesmente, pôr ou tirar uma placa, um semáforo ou promover uma alteração na engenharia da pista, pois isso é atribuição do órgão de trânsito. Mas se pode anunciar o fato, denunciar a situação e exigir que seja feito”, ressalta.

Uma pesquisa realizada pelo site Portal do Trânsito em maio de 2015, revela que 95,83% dos entrevistados acreditam que pequenas ações de educação e engenharia de trânsito são capazes de diminuir acidentes de trânsito em uma comunidade, contra 4,16% que não consideram que isso possa fazer diferença.

Os órgãos de trânsito consideram as intervenções de baixo custo, como as rotatórias, apenas como medidas paliativas, conforme se pode ler no Guia de Redução de Acidentes com Base em Medidas de Engenharia de Baixo Custo, publicado pelo extinto Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), uma das únicas referências oficiais ao tema. Porém a experiência mundial mostra que tais ações podem apresentar resultados positivos no que diz respeito à segurança no trânsito, gerando redução de acidentes com um ótimo custo-benefício. “Ações simples e com a participação direta do cidadão, conscientização e mobilização social, promovem a tão desejada aproximação da administração pública e da população, o que é saudável e produtiva sob todos os aspectos”, complementa Mariano.

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