Entidades médicas lançam Aliança Brasileira pela Saúde e Segurança no Trânsito
O anúncio, que marcou o pontapé inicial da Aliança Brasileira pela Saúde e Segurança no Trânsito (ABSAT), foi feito durante o 55º Congresso Anual da SBOT.
Em um esforço conjunto inédito para combater a crescente violência no trânsito brasileiro, a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET) e a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) lançaram na semana passada, em Brasília, a Aliança Brasileira pela Saúde e Segurança no Trânsito (ABSAT). A iniciativa, que reúne líderes de diversas entidades, tem como objetivo promover ações de prevenção em consonância a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir em 50% o número de mortes e lesões graves no trânsito até 2030.
O anúncio, do início da Aliança Brasileira pela Saúde e Segurança no Trânsito (ABSAT), foi feito durante o 55º Congresso Anual da SBOT. Ele contou com a participação e adesão de representantes do Conselho Federal de Medicina (CFM), Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre outros.
Também formalizaram apoio à iniciativa a Frente Parlamentar Mista da Medicina e a Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro. A Aliança continuará com os esforços no sentido de mobilizar o maior número possível de órgãos públicos, entidades da sociedade civil e demais instituições comprometidas com a causa da saúde e segurança no trânsito. “Novas adesões são não apenas bem-vindas, mas essenciais para fortalecer ainda mais a Aliança e ampliar seu impacto. Acreditamos firmemente que, através de uma mobilização abrangente e da cooperação entre diferentes setores da sociedade, poderemos alcançar resultados duradouros na redução de sinistros de trânsito e na preservação de vidas. Juntos, somos a força motriz para transformar a realidade do trânsito brasileiro”, ressaltou o presidente da Abramet, Antonio Meira Júnior.
A constituição de um Grupo de Trabalho da Aliança ocorrerá nas próximas semanas. O objetivo é concentrar esforços na consolidação de ações alinhadas aos pilares de segurança no trânsito discutidos na Assembleia Geral da ONU.
“Precisamos nos lembrar que cada país tem o número de mortes e feridos no trânsito que está disposto a tolerar. Esta Aliança, portanto, é uma declaração clara de que o Brasil não aceitará mais o sofrimento causado por ‘acidentes’ evitáveis”, disse Meira Júnior,
De acordo com ele, os médicos estão empenhados na conscientização das pessoas sobre a prevenção de sinistros bem como na elaboração de políticas de mobilidade sustentável. “A Abramet defende que o consultório de cada médico do tráfego seja uma célula para a conscientização sobre a patologia do Século XXI. Precisamos aproveitar nossa credibilidade para educar e informar. Juntos, temos a força, o conhecimento e a determinação para transformar a meta em realidade”.
O presidente da SBOT, João Matheus Guimarães, destacou os pilares para a segurança no trânsito. Eles serão a espinha dorsal das atividades do Grupo de Trabalho a se instituir.
“Nossa abordagem se baseará em evidências, estatísticas e pesquisas, garantindo que cada passo seja respaldado por dados concretos”, afirmou.
Além disso, enfatizou a importância da educação e capacitação de líderes, influenciadores e usuários. Dessa forma, promovendo uma mudança cultural que coloque a segurança viária como prioridade na sociedade.
Década do Trânsito 2021-2030
Em março de 2010, a Assembleia-Geral das Nações Unidas editou uma resolução definindo o período de 2011 a 2020 como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito. O objetivo era conscientizar os países a adotarem medidas concretas para reduzir os alarmantes números de mortalidade no trânsito. Na época do lançamento da campanha da ONU, o Brasil era o quinto país com mais mortes de trânsito no mundo. Ou seja, com cerca de 40 mil mortes anuais e mais de 300 mil feridos no trânsito.
Apesar de a resolução da ONU não ter caráter mandatório, a maioria dos países no mundo se alinhou com os objetivos traçados pela organização. Com engajamento diversificado entre as várias unidades federativas, houve mobilização de grande parte das instituições gestoras de trânsito nas três esferas de poder por ocasião do lançamento desta campanha global.
Diante da persistência de desafios e tragédias no âmbito da segurança viária ao redor do mundo, a ONU reconheceu a necessidade de uma continuidade nas ações. Ou seja, em 2021, reafirmou-se a meta, com um amplo escopo de ações que os países deveriam seguir e estipulando novas para 2030.
Panorama nacional
Recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que, no período de 2010 a 2019, houve o registro de cerca de 392 mil mortes em sinistros de transporte terrestre no Brasil. Em termos de mortes absolutas, houve um aumento de 13,5% em relação à década passada (2000-2009), frustrando a meta estabelecida pela ONU de redução de 50% no total das mortes.
Entretanto, em termos de taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, os índices praticamente permaneceram no mesmo patamar da década anterior. De acordo com o IPEA, houve pequeno aumento de 2,3%. Isso demonstra que a campanha da primeira década voltada para redução da mortalidade do trânsito estipulada pela ONU não teve resultados práticos no Brasil.
Conforme aponta o relatório, o desafio para atingir as metas de redução da mortalidade no trânsito é tornar as cidades brasileiras mais seguras. “Para isso, é preciso que haja programas de investimentos permanentes. No sentido de implementação de projetos de moderação de tráfego assim como ampliação dos espaços para pedestres. Além disso, transporte ativo focado na segurança das pessoas”, destacam os pesquisadores.