Educação é a chave para um trânsito mais seguro, apontam pesquisadores da UEPA
Especialistas analisam o aumento das infrações e destacam a pressa e o individualismo como desafios para a segurança viária.

Na última semana, Maria Auxiliadora, de 69 anos, aguardava na faixa de pedestres para atravessar a avenida Independência, na Região Metropolitana de Belém (RMB). Um motociclista parou para dar passagem, sinalizando para outros veículos. Quando finalmente iniciou a travessia, foi atingida por outro motociclista, que ignorou a sinalização e a atropelou. Ele estava embriagado. Dona Maria não sobreviveu.
Casos como esse refletem um problema recorrente no trânsito da RMB: o desrespeito às regras, impulsionado pela pressa e pelo individualismo. As pessoas ignoram o sinal vermelho, a faixa de pedestres e outras normas básicas de segurança, aponta a professora Diana Lemes, da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Ela lidera o Grupo de Estudos e Pesquisas Pedagogia em Movimento (Geppem) e destaca que o trânsito se sustenta em três pilares: educação, engenharia de tráfego e fiscalização. No Brasil, no entanto, a educação ainda é um desafio para um trânsito mais seguro.
“Precisamos formar uma cultura de respeito e gentileza. Onde há respeito, gera respeito. Onde há gentileza, gera gentileza”, afirma Diana. Ela ressalta que a infraestrutura viária deve ser inclusiva, considerando pedestres e ciclistas, e que a fiscalização deve atuar de forma educativa, não apenas punitiva.
Trânsito reflete crise social e ética
O filósofo e professor da Uepa, Mario Tito Almeida, avalia que o desrespeito às regras de trânsito é reflexo de uma crise social mais ampla. Ele atribui esse comportamento à cultura da pressa e à busca incessante por resultados, que reforçam o individualismo.
“As pessoas conhecem as regras, mas priorizam sua própria liberdade em detrimento da vida em sociedade. Isso não acontece só no trânsito, mas em várias esferas da vida. Criar uma cultura de cooperação e respeito ao outro é essencial para reverter esse quadro”, explica.
Ele também questiona a eficácia de medidas punitivas isoladas, argumentando que, sem uma mudança cultural, as infrações continuarão acontecendo. “O cuidado com o próximo é essencial para o funcionamento do coletivo. Precisamos falar mais sobre isso e reforçar a ideia de que só avançamos juntos.”
Educação como ferramenta de transformação e de um trânsito mais seguro
O Geppem tem atuado diretamente na educação para o trânsito, desde a educação básica até o ensino superior. Diana Lemes destaca que as crianças são agentes multiplicadores dessas informações, levando o aprendizado para suas famílias.
“As crianças absorvem muito bem o conhecimento e querem compartilhá-lo. Já tivemos casos de pais que nos procuraram porque os filhos passaram a corrigir seus comportamentos no trânsito. Esse tipo de impacto mostra o poder da educação”, finaliza.
Por Fernanda Martins (UEPA)