Comportamentos de risco contribuem com o aumento de acidentes envolvendo ciclistas
As estatísticas retratam uma realidade de risco e fragilidade que envolve os usuários que optam pela bicicleta em seus deslocamentos.
No ano de 2021, últimos dados disponíveis do Ministério da Saúde, 1.381 ciclistas morreram no trânsito brasileiro. Foram 29 mortes a mais que em 2020. Se compararmos ano a ano, desde 2016, percebe-se que é um número que ou fica estável ou aumenta. Não há uma queda em nenhum dos anos analisados. Esses números retratam uma realidade de risco e fragilidade que envolve os usuários que optam pela bicicleta em seus deslocamentos. E, conforme estudos, a população está cada vez mais usando esse meio de transporte para se locomover nas cidades.
De acordo com pesquisa realizada pela Ideia Big Data para o Instituto Clima e Sociedade (iCS) em parceria com o Instituto Escolhas, a bicicleta é considerada o transporte ideal para 16% da população brasileira. O estudo ouviu mais de três mil brasileiros de todas as regiões do país. A pesquisa diz ainda que no ranking, o modal perde apenas para o carro (30%) e ônibus (19%).
Conforme Dr. Flávio Emir Adura, médico do tráfego e diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), as vítimas ciclistas, que em 1996 representavam 0,9% do total dos óbitos no trânsito brasileiro, elevaram-se para 4,08% em 2021.
“Devido à pandemia da Covid-19, registraram-se altas históricas na frota circulante de bicicletas. Uma vez que, com o isolamento social e a necessidade de evitar aglomerações no transporte público, a bicicleta passou a ser mais utilizada como veículo de passeio para o lazer e esporte. Além disso, para deslocamentos em direção ao trabalho e estudo, transporte de cargas (mercadorias, correspondências e outros) e até como veículo para transporte de pessoas na condição de passageiros”, analisa.
O médico aponta alguns fatores de risco de sinistros que foram agravados pós pandemia. “Condições médicas, medicamentos, fadiga, sono e uso de substâncias psicoativas (drogas) são também importantes causas de acidentes de trânsito”, explica Dr. Adura.
Ciclistas x comportamentos de risco
A fragilidade dos ciclistas em relação aos ocupantes de outros veículos como motociclistas, condutores de automóveis, ônibus e caminhões é clara. Por esse motivo, estes usuários têm a preferência sobre os demais veículos automotores. Inclusive existem regras de circulação e conduta que têm como objetivo proteger os ciclistas no trânsito.
Apesar da grande responsabilidade dos demais usuários em relação ao ciclista, uma das formas de prevenção de acidentes é o comportamento correto do ciclista no trânsito.
Nas ruas, no entanto, o que vemos é uma série de atitudes que podem contribuir, e muito, com esse número de mortes de ciclistas no trânsito.
Veja reportagem abaixo do Portal do Trânsito:
Vulnerabilidade
Conforme Adriane Picchetto Machado, especialista em psicologia do trânsito, a situação dos ciclistas é extremamente complexa. “O que nós percebemos é que os ciclistas se sentindo teoricamente protegidos tendem a assumir comportamentos de risco, causando problemas no trânsito. Então é como se eles não percebessem, muitas vezes, a própria vulnerabilidade”, argumenta.
A psicóloga explica, também, que é preciso investir em infraestrutura e educação.
“Para o motociclista e o condutor de automóvel, há um processo para que tenham informações básicas e adequadas para se comportar no trânsito. No caso dos ciclistas, não existe essa possibilidade”, questiona.
Adriane cita também que o ciclista pode, e deve, ter atitudes que aumentem a sua própria segurança. “A pessoa precisa perceber que vai estar vulnerável nesse ambiente do trânsito, que é complexo bem como cheio de riscos”, finaliza.