Artigo – O que querem os brasileiros?


Por Mariana Czerwonka

J. Pedro Corrêa aborda a 6ª Semana Global de Segurança no Trânsito e aproveita para destacar a importância da pesquisa e outras ações para o sucesso de projetos de trânsito.

*J. Pedro Corrêa

Foto: Arquivo Tecnodata.

A 6ª Semanal Global de Segurança no Trânsito, organizada pela ONU/OMS, terminou neste domingo, 23 de maio com um saldo aparentemente positivo. Ela convocava os membros a unirem esforços pela paz no trânsito. Manifestações em vários países promoveram as “Ruas pela Vida” e instigavam as nações a reduzir a velocidade nos centros urbanos, notadamente nas vias onde a inteiração entre pedestres e carros for mais intensa. “We love 30 km/hr” – nós amamos 30 km/h – foi a mensagem que ecoou mundo afora.

Os argumentos para baixar a velocidade são sólidos o bastante para convencer parte da sociedade. Pelo jeito, porém, ainda continuarão a enfrentar boa resistência de outra parte, justamente aquela que sabe fazer mais barulho e quer ganhar no grito (o que, de certa forma, tem conseguido).

Mobilizações mundiais como esta, contudo, são importantes para ganhar mais suporte popular, mesmo sabendo que o caminho será longo e difícil.

No Brasil, algumas cidades fizeram mobilizações pelos 30, 40 ou 50 km/h, sinal que aponta para futuros movimentos mais sólidos, de maior duração e, consequentemente mais eficazes. Dessa forma, todos sabemos que repetir é um dos segredos para chegar ao sucesso. A sociedade acabará aderindo, ao longo do tempo.

Há muito tempo falo sobre a importância de fazer pesquisas como fator essencial para entender o que pensa a sociedade sobre o trânsito e como ganhar o seu suporte para os grandes temas da segurança. Estranhamente, parece ser um assunto sobre o qual os órgãos de governo não têm o menor interesse em “perder tempo”.

Vamos tomar como exemplo a redução de velocidades nos centros urbanos: todos queremos menos mortos, menos feridos, menos sinistros, mas não toleramos (ou resistimos) às decisões das prefeituras quando implantam limites de velocidade a 50, a 40 ou a 30 km/h, dependendo da área da cidade. Paradoxal! Onde é que está o problema?

Na minha opinião, falta melhor comunicação entre o órgão público e a sociedade.

Quando falo de “melhor comunicação”, estou pretendendo dizer que não basta enviar aos veículos de comunicação um press release informando do novo limite de velocidade e esperar obediência total. Em outras palavras, falo de um processo de comunicação mais sólido, bem mais profundo, com maior duração e utilizando vários mecanismos. Atendendo pedido de um leitor, vou tentar citar os passos mais importantes para implantar mudanças no trânsito que “mexem” com a sociedade:

Não há garantia absoluta de sucesso de um projeto desses, mas as chances de bons resultados são muito grandes.

Não há grandes novidades no processo descrito. Sendo assim, tenho a sensação, apenas, de que falta aos governos locais um pouco mais de disciplina, de determinação, de coordenação dos esforços para implantar projetos deste tipo. Uma equipe governamental alinhada com os objetivos da missão é indispensável. Geralmente um projeto desses envolve técnicos de várias áreas da prefeitura. Seja como for, o importante é que não se trata de projeto caro, basta que seja bem planejado.

O segredo – ou um deles – está em ter uma ampla visão do que se pretende. Em conseguir antever as objeções possíveis que um projeto destes pode provocar, mostrar que o poder público está atento e, assim, evitá-las. Isto é democratizar o debate, dar voz a todos os lados e mostrar sintonia afinada com a sociedade, cuidando dos detalhes essenciais.

Oxalá nossas cidades possam se esmerar cada vez mais nos estudos de projetos importantes e possam concluí-los com resultados que beneficiem a sociedade. Esta, por seu turno, vai aprendendo cada vez mais como se envolver e assim viverá melhor. Com mais autoestima e mais orgulho da cidade em que vive.

*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito

Sair da versão mobile