J. Pedro Corrêa aborda a importância e a oportunidade de maior número de cidades brasileiras entrarem no circuito internacional de cidades-irmãs. O objetivo é a troca de informações e experiências entre diferentes culturas de diferentes cantos do mundo, inclusive no trânsito.
O município de Dois Vizinhos, no Sudoeste do Paraná, há pouco mais de 450 km de Curitiba, está buscando um convênio de cooperação com a prefeitura de Telavive, a segunda maior cidade de Israel, dentro do projeto conhecido como cidades-irmãs.
Trata-se do estabelecimento de laços de cooperação entre municípios de áreas geográficas e políticas diferentes visando promover intercâmbio de caráter econômico, tecnológico, cultural, etc.
Esta experiência foi iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Dwight Eisenhower em 1947, durante a Guerra Fria. O intuito é fomentar a amizade, a paz e a cooperação entre diferentes culturas, principalmente as que estavam em lados opostos poucos anos antes, na Segunda Guerra Mundial.
No Brasil já há um razoável número de cidades que concluíram estes acordos.
No Europa, e principalmente nos Estados Unidos, esta cooperação é bastante desenvolvida. Na América do Norte existe até uma “liga de cidades-irmãs” (https://sistercities.org/), onde a troca de experiências funciona de forma bastante intensa.
Estou falando dos esforços atuais de Dois Vizinhos, cerca de 40 mil habitantes, ainda pouco conhecido no país, porque vejo nesta sua tentativa de cooperação internacional um bom exemplo para que outras cidades se agilizem pelo mesmo caminho em busca de mais conhecimento que possam pavimentar o desenvolvimento local.
O Brasil vive difíceis momentos. Sejam sociais, políticos e econômicos. E, nesse sentido, precisa encontrar saídas para todos eles para atender uma sociedade que não para de crescer em tamanho e nem menos em demandas.
É claro que não é o projeto de cidades-irmãs que vai resolver sozinho todos os problemas mas pode ajudar bastante na busca de novos caminhos.
Seria muito bom se pudéssemos contar no Brasil com uma instituição que concentrasse informações sobre as cidades brasileiras que atualmente desenvolvem este tipo de cooperação internacional. Saber quantas e quais são, com quem firmaram acordos, que benefícios obtiveram até aqui e, da mesma, o que ofereceram às cidades parceiras.
Posso estar enganado mas creio que atualmente devemos ter algumas dezenas, talvez mais de uma centena de cidades brasileiras envolvidas nesta atividade. Nos Estados Unidos são mais de 500 cidades, 800 parcerias com mais de 140 países.
O funcionamento de um tipo de serviço desta natureza seria bastante útil para ajudar outras cidades a passar a fazer parte deste grupo de cooperação internacional orientando quanto aos objetivos e os passos necessários para chegar lá. O país necessita de mecanismos de fomento à cooperação internacional como forma de aproveitar as oportunidades que a globalização atual oferece.
Julgo que a existência de uma instituição com este fim acabaria por incentivar uma oportuna troca de informações entre os próprios municípios brasileiros, ávidos por comparar suas experiências e adotar melhores práticas das co-irmãs tanto nacionais como estrangeiras.
Imagine quanto uma cidade brasileira de porte pequeno-médio pode usufruir de um projeto como este. E também, o quanto poderá aprender na prática sobre gestão e desenvolvimento municipal.
A troca de expediências nos campos econômico, tecnológico e cultural pode se revelar de grande valor para nossas necessitadas administrações públicas. Examinemos o campo do trânsito, por exemplo. A forma como é gerido nos países desenvolvidos, a prática da educação para o trânsito, o controle do fluxo de tráfego, a questão do comportamento das pessoas, o policiamento, a engenharia de tráfego, a manutenção de um banco de dados que permita a gestão geral do
trânsito, são áreas onde os gestores brasileiros podem fazer progressos muito grandes em proveito local.
O envio de técnicos locais às cidades-irmãs e as visitas de especialistas estrangeiros são investimentos que se pagam imediatamente. Além disso, deixam benefícios que vão permanecer por muito tempo. O administrador público brasileiro não pode mais se contentar apenas em gerenciar a realidade atual do seu município mas principalmente zelar pelo seu futuro, com todas as variáveis necessárias.
Afinal, é lá que seus filhos e netos vão morar.
Oxalá não apenas Dois Vizinhos, no Paraná, mas inúmeras outras cidades brasileiras saiam a campo em busca de cidades-irmãs. E, assim, possam tirar o melhor proveito em benefício da sociedade local. O futuro agradece!
*J. Pedro Corrêa é consultor em programas de segurança no trânsito