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22 de dezembro de 2024

Artigo: O que esperar de 2021


Por Artigo Publicado 16/11/2020 às 17h48 Atualizado 08/11/2022 às 21h39
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Esta semana J.Pedro Correa escreve sobre expectativas do trânsito brasileiro para 2021. O consultor está fazendo uma enquete com entidades e especialistas da área e quer também sua opinião.

J. Pedro Correa*

Depois do início da pandemia do Covid-19 uma das expressões que mais se usou pelo país era sobre o “novo normal” do trânsito. Como ele seria? Que novidades incorporaria no novo cotidiano da sociedade brasileira? Lá se vão mais de 8 meses, a população dá sinais de fadiga diante da insistência do vírus mas ele persiste em seu ataque e provoca cada vez mais baixas não só no Brasil como no mundo todo. A grande pergunta sobre o novo normal continua sem resposta objetiva, mas inúmeras lições foram passadas e, agora, resta saber se foram apreendidas.

Como o assunto continua válido, resolvi fazer uma enquete junto a pequeno grupo de instituições e especialistas do setor de trânsito para sentir a percepção com relação ao ano que vem e aos posteriores.

As respostas podem ser úteis para comparar com as nossas ou eventualmente até mesmo para refazer planos para o futuro imediato. Pelo visto, até agora ninguém mostrou possuir bola de cristal para revelar o que vai acontecer em 2021 e como este começo de década poderá influenciar os anos seguintes. O cenário nacional está confuso em vários setores como o econômico, o social para não falar do político. Na área do trânsito temos muitas perguntas, mas por enquanto, poucas respostas.

A partir de 2021 teremos novos prefeitos, novos vereadores e isto pode alterar significativamente o quadro municipal do trânsito em praticamente todo o país.

Cidades que desenvolviam ações planejadas em educação ou segurança no trânsito terão condições de continuar seus planos se mudar o comando político local? Infelizmente a falta de continuidade de programas municipais, quando muda o governo, tem sido um dos grandes problemas brasileiros. Temos visto muito esforço e muito dinheiro abandonados por picuinhas partidárias, o que é lamentável.

O Programa Vida no Trânsito, que começou em 5 capitais, depois foi ampliado para todas as capitais e acabou chegando a várias outras cidades importantes, conseguiu produzir bons resultados em muitos municípios pelo país e se este esforço for perdido será realmente catastrófico, mesmo diante de promessas de “retomada logo em seguida”.

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Oxalá as mudanças municipais não afetem negativamente o desenvolvimento de programas de mobilidade segura que têm sido elogiados em várias cidades. A mobilidade ativa que envolve pedestres, ciclistas e outros modais, está em franco desenvolvimento pelo país. Aos poucos o Brasil vai despertando para esta tendência relativamente nova que deve ser preservada e ampliada.

Uma preocupação crescente está no futuro imediato do uso de motocicletas, cujo número de acidentes fatais continua acima da casa dos 10.000 por ano, cifra absolutamente inaceitável.

Trata-se de tema extremamente complexo que desafia a criatividade e a coragem de gestores.

É bom deixar claro que, embora o Brasil não tenha atingido a meta da ONU/OMS de reduzir pela metade o número de fatalidades na primeira década mundial de trânsito, não significa que o período de 2011-2020 tenha sido nulo, pelo contrário: a segurança no trânsito faz parte do cotidiano nacional, amplamente discutido nos meios de comunicação e, consequentemente inserido na agenda do país, ainda que não no nível desejado. O reforço que está faltando para sua consolidação pode vir exatamente com a 2ª Década Mundial, que começa agora em 2021 e vai até 2030.

Uma grande pergunta é sobre o que o Governo Federal fará a partir do ano que vem.

As fatalidades no trânsito baixaram 30% durante a década que está acabando; os efeitos da pandemia do Covid 19 devem possivelmente aparecer nos resultados de 2020 através da redução de vítimas de acidentes. Se o Governo encampar um programa robusto de diminuição das perdas no trânsito, poderemos estar dando um grande passo para chegar em 2030 com números efetivamente promissores. Estados e municípios reagirão sempre aos estímulos federais.

Neste sentido, o convênio de cooperação assinado em setembro pelo Ministério da Infraestrutura com a Embaixada da Suécia para aplicar no Brasil conceitos do programa Visão Zero, pode ser de grande relevância para o andamento da segunda década mundial no país. Não podemos querer implantar aqui um sistema de trânsito que está sendo implementado na Suécia desde a metade dos anos 90.,Podemos, porém, começar a aplicar aqui algumas práticas que independem do grau de desenvolvimento do país que as utilizam.

Por exemplo, uma das áreas em que somos muito dependentes é a de capacitação de gestores de trânsito em praticamente todos os níveis. Um campo em que os europeus estão bastante adiantados. Seria de enorme valia que dirigentes municipais – prefeitos, secretários, vereadores, executivos – tivessem uma visão mais profunda da mobilidade segura e soubessem tirar melhor proveito de sua aplicação. Isto é vital para o futuro das cidades brasileiras num momento em que tanto se fala do conceito de “cidades inteligentes”.

Cidades inteligentes demandam gestores inteligentes e consequentemente sociedade inteligente, capazes de absorver conhecimentos para melhorar a qualidade de vida da população. Hoje a sociedade brasileira valoriza bem mais o fluxo do que a segurança no trânsito, mas o passar dos tempos vai se incumbir de provocar a necessária mudança.

O Governo parece disposto a recuperar grande parte da malha rodoviária federal, sob sua responsabilidade. Esse fato será de grande importância e pode produzir reflexos sensíveis na economia brasileira.

As rodovias federais, como se sabe, pedem uma recuperação há muitos anos e são apontadas como fatores de riscos e de acidentes. A correção deste problema será vista como uma sinalização importante do Governo para envolver estados e municípios num esforço maior para a redução de perdas no trânsito nas cidades brasileiras. Ao mesmo tempo será um incentivo de peso para o transporte rodoviário de carga cujo passivo é bastante pesado no que diz respeito aos acidentes nas rodovias.

Como se vê, por enquanto, 2021 continua uma incógnita, mas aos poucos pode ser desvendado. As nuances políticas tenderão a ter papel crucial no processo municipal, que naturalmente atingirá os estados e, na sequência, todo o país. Se hoje já estamos vendo ações locais que levam em conta a eleição presidencial de 2022, é claro que ano que vem este clima será muito mais sentido ainda.

Estou ansioso por ver e ouvir as opiniões dos meus convidados nesta enquete que, espero, possa divulgá-las no próximo comentário, semana que vem. Gostaria muito de receber também a sua opinião, leitor, sobre 2021 para juntar às demais. Só com uma ampla e profunda discussão nacional, vamos melhorar a cultura de trânsito neste país. Participe deste debate!

*J. Pedro Correa é Consultor em Programas de Trânsito

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