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Bolsonaro justifica que radares não são necessários porque apenas otários entram em curvas em alta velocidade


Por Mariana Czerwonka Publicado 24/05/2019 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h03
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Curva velocidadeDe acordo com dados divulgados pelo Conselho Federal de Medicina, o trânsito mata cinco pessoas e manda para o hospital 20 pacientes a cada hora no Brasil. Foto: Arquivo Tecnodata.

Mais uma live do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Mais uma vez ele reforça o posicionamento de ser contra os equipamentos de fiscalização eletrônica. Mais uma vez ele fez questão de confirmar a solicitação de engavetar o pedido de oito mil novos radares em rodovias federais. Nenhuma novidade.

O que chamou a atenção dessa vez foi a justificativa usada pelo Presidente. De acordo com Bolsonaro, ninguém é “otário” de entrar em uma curva em alta velocidade. “Não tem novos pardais em estradas federais. Teve uma pressão de uns pequenos grupos, ai e em local, de risco? Não, não tem local de risco. Ninguém é otário. Tem uma curva na frente, uma ribanceira, o cara entrar a 80, 90, 100 km por hora. Não é otário, não faz isso aí. Não precisa ter um pardal para multar o cara lá”, afirmou o presidente ignorando as estatísticas que mostram exatamente o contrário.

De acordo com dados divulgados pelo Conselho Federal de Medicina, o trânsito mata cinco pessoas e manda para o hospital 20 pacientes a cada hora no Brasil. Ao todo mais de 1,6 milhão de pessoas ficaram feridas em dez anos ao custo de R$ 3 bilhões ao SUS (Sistema Único de Saúde) e 438 mil pessoas morreram no período.

Para Jocelaine Mallmann, que é instrutora de trânsito em Porto Alegre, quem tem comprometimento em manter vidas no trânsito não pode aceitar tais atitudes.

“Se existe limites, e mesmo assim 5 mortos por hora. Imaginem sem limites. O pardal, o fiscal, sinalizadores eletrônicos se fazem necessários porque o homem não conhece limite. Estamos em uma época de descumprimento das leis. Cada um faz o que bem entende. Se não afetasse VIDAS tudo bem, mas a VIDA precisa ser protegida. Quando a perdemos não adianta tentar rebobinar”, argumenta.

Diversos especialistas já se manifestaram contra tal medida.  Foi o caso de Mércia Gomes, que é advogada especialista em legislação de trânsito. Em texto escrito no Portal do Trânsito, ela afirmou que números divulgados por órgãos fiscalizadores, mostram a diminuição de acidentes e mortes após o uso do sistema de fiscalização eletrônica.

“Como especialista na área, observo que o presidente Bolsonaro faz declarações populistas sem o menor amparo técnico, estudo especifico, deixando todos os profissionais temerosos, porque, provavelmente, a quantidade de acidentes vai aumentar. Quando falamos de um fluxo de via rápida, como é o caso de uma rodovia, quanto maior a velocidade, os acidentes tendem a ser cada vez mais frequentes e graves. A consequência disso são vidas perdidas”, analisa a advogada.

Para Márcia Pontes, especialista em direito de trânsito, que trabalha com condutas preventivas nesse ambiente, disse em entrevista ao Portal do Trânsito que essa declaração deve ser repensada urgentemente. “A gente sabe que os redutores de velocidade, são fundamentais principalmente em trechos críticos de rodovias e até dentro das cidades, onde motoristas abusam da velocidade. Quanto maior a velocidade, maior a gravidade das lesões, maior a ocorrência de óbitos”, aponta.

Excesso de velocidade

Um dos problemas mais graves no trânsito brasileiro é o excesso de velocidade. Essa é a causa de uma em cada três mortes por acidentes de trânsito em todo mundo.

“A velocidade inadequada reduz o tempo disponível para uma reação eficiente em caso de perigo. Em alta velocidade, muitas vezes não há tempo suficiente para evitar um acidente”, explica Celso Mariano, especialista e diretor do Portal.

Uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) atrela a fiscalização eletrônica à redução de 60% de óbitos e 30% de acidentes no trânsito.

A Organização Mundial de Saúde também recomenda no mundo todo o uso de medidores eletrônicos de velocidade como alternativa para a prevenção de acidentes de trânsito e redução da gravidade, no caso da ocorrência do evento.

Para Mariano, a segurança, no trânsito, está atrelada a fiscalização.

“A expressão ‘indústria da multa´ reforça uma grave distorção que existe na compreensão deste assunto, que tem sido combatida, há décadas, com muita dificuldade, pelos especialistas na área: a crença de que fiscalização é ruim. É preciso separa o joio do trigo: fiscalização feita sob intenções arrecadatórios, sem critérios técnicos, é que é ruim. Nesta hora é fundamental lembrar que segurança é um direito do cidadão que, justamente, é protegido pela fiscalização. E é obrigação do estado garantir este ambiente seguro no trânsito. Não vai ser desligando todo o aparato de fiscalização de velocidade que garantirá isso. Mas rever o que está mal feito, otimizar os recursos disponíveis, eliminar distorções, é sim importantíssimo. É o que esperamos que aconteça”, fundamenta Mariano.

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