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Sala de Visitas com David Duarte Lima: um papo sobre o momento atual do trânsito brasileiro


Por Celso Mariano Publicado 22/08/2019 às 03h00 Atualizado 08/11/2022 às 22h00
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David_duarte_destaqueO Diretor do Portal do Trânsito Celso Alves Mariano recebeu no Sala de Visitas o Professor Dr. David Duarte Lima, Presidente do IST – Instituto de Segurança de Trânsito, para um papo sobre o momento atual do trânsito brasileiro, os exemplos internacionais de aumento da segurança viária e sobre as melhorias possíveis para a nossa realidade.

Sobre o momento atual, David pondera que algumas das mudanças propostas pelo governo brasileiro são positivas. Diz que deve ser feito um esforço para termos uma maior proximidade da população, pois o que percebemos hoje é que tudo no trânsito parece ser contra o cidadão, como se tudo tivesse sido estruturado para multar e penalizar. O Presidente Bolsonaro, percebe isso, pondera.

David considera que, realmente, o nosso Código de Trânsito Brasileiro tem falhas e que, este momento de mudanças, gera incertezas para todos. Mas vê, nisso, oportunidades. Porém alerta que é preciso que os atores do trânsito tenham um papel maior de protagonismo. E se não assumirmos o nosso papel, a coisa pode desvirtuar, andar para o lado errado, alerta.

Celso lembrou do Projeto de Lei do Deputado Federal General Peternelli e a possibilidade de desobrigar o curso numa autoescola e com um instrutor, é um dos grandes responsáveis pelo momento de incertezas que estamos vivendo. Porém as reações são como se já estivesse tudo determinado, e não está.

Sobre as diferentes realidades que vemos em cada rincão brasileiro, Celso questiona se é possível termos uma uniformidade nacional, ser igual, ou teremos que tolerar diferenças entre os DETRANs? Isso é só uma questão de bom senso ou é uma questão de capacidade e inteligência administrativa?

David pondera que é preciso um conteúdo básico, mínimo, e o DENATRAN não tem conseguido fazer, e tem trabalhado muito pouco nesta linha. Ele falou das falhas dos órgãos na coordenação do trânsito e cita como exemplo as regras do CONTRAN, que não consegue lidar com as diferentes realidades das cidades brasileiras. Essa confusão é culpa dos órgãos de trânsito, cada um diz uma coisa e o cidadão fica sem entender nada. Ou seja, há muitas falhas, inclusive de comunicação.

Experiência internacional

No 8º minuto, Celso pergunta sobre a Espanha, que aspectos podem ser copiados ou podem nos inspirar?

David começa falando da Noruega, e conta que os noruegueses não são santos, para dizer que nós brasileiros, alegres e criativos, não somos os únicos malandros e espertos. Lá tem uma lei que prevê multa com base em fotos. Eles têm usado bonés de aba reta para se esconderem e inviabilizarem a identificação do condutor.

E considera que, de qualquer forma, estes países têm avançado na segurança do trânsito. Sobre a Espanha, David diz que, apesar de não terem adotado o conhecido programa europeu Visão Zero (zero mortos e zero feridos graves), obtiveram resultados ótimos. David cita Luis Montoro, da Universidade de Valência, que participou ativamente  do desenho deste programa, e que lhe disse que os latinos têm mesmo sangue quente e que precisamos de um programa que realmente engaje as pessoas, que haja sentimento e não apenas as questões técnicas.

Formação do Instrutor

No 11º minuto, David conta que os espanhóis investiram muito em mudanças viárias significativas e em uma formação dos condutores muito boa, com ênfase no rigor da formação do formador, ou seja, do instrutor. No processo de formação dos instrutores espanhóis, existe um bom material didático, e é preciso fazer um curso de ementa densa, que tem 2 anos de duração!

David também fala da fiscalização espanhola, dizendo que lá não tem pegadinhas: eles avisam as população em quais vias e quando haverá fiscalização severa de velocidade. E tudo funciona muito bem: eles reduziram cerca de 80% na mortalidade e feridos graves em 10 anos, o que é uma melhora impressionante. David cita também Pero Navarro, diretor da DGT – Direção Geral de Trânsito, responsável pelo feito.

Aos 13 minutos, David afirma que o que a Espanha fez, é possível de ser feito no Brasil. E compara: na Espanha, morrem 3 a cada 100.000 habitantes a cada ano. Aqui, estamos na faixa de 20 mortos. No estado do Tocantins, que detém a maior taxa, é 40. São 350 mil feridos com invalidez permanente. Ele lamenta que temos é uma indústria de cadeiras de rodas, lembrando dos graves impactos nas famílias das vítimas de acidentes. David afirma que não há no Brasil, uma política efetiva de controle desta situação. E lembra o J. Pedro Correa: temos a bússola mas não sabemos o que fazer com ela.

O modelo brasileiro

No 16º minuto, a conversa foi sobre como formamos instrutores e condutores no Brasil. O nosso curso de formação de instrutores é muito simplificado em relação ao similar espanhol. Celso pergunta o quanto é importante a formação do instrutor?

David pondera que, se o instrutor não sabe ensinar, seu aluno não vai aprender bem. Ensinar a dirigir não é uma questão trivial. Não é fácil: dirigir um veículo exige mais de 1.500 sub-habilidades. Para dirigir, é preciso ficar ligado no ambiente que muda constantemente, numa dinâmica maluca.

Ele declara sua admiração aos instrutores, pela dificuldade que é dar aula, nestes casos. Para a aula prática, por exemplo, é necessário uma didática muito especial, de ensinar o aluno, sem que o aluno olhe para o professor. Ele precisa trabalhar com 2 coisas: a atenção do aluno, que deve ser orientada para o trânsito, não para o instrutor. E segundo, o instrutor deve orientar a visão de rastreamento do aluno. É um tipo de didática nada simples. Afinal, a “sala de aula” deste instrutor, anda. Para atender esta didática especial, o instrutor deve ter tido uma formação especial. Ele precisa treinar para conseguir desenvolver estas habilidades de preparo de seus alunos. Ele, comenta que os nossos instrutores não ganham o quanto mereceriam e trabalham muito.

A importância dos CFCs e dos instrutores

No 21º minuto David comenta sobre a importância do processo e formação de condutores. É evidente que é essencial, afirma. É preciso autoescolas. Num contexto onde morrem mais de 40 mil/ano, há mais de 1 milhão de feridos, sendo que 350 mil ficam com lesões irreversíveis, com sobre-peso na previdência e danos materiais, não resta dúvida que este é um tema prioritário. Isso sem falar nas pessoas feridas, que geram pesadas despesas, pois os politraumatizados podem gerar diárias de UTI de R$ 40 mil/dia, por exemplo. E ainda há o período de recuperação, que pode se prolongar por mais de um ano, dependendo do caso.

Oportunidades de melhora

Aos 23 minutos, Celso comenta que as mudanças a serem feitas não podem ocorrer de qualquer forma. David lembra que temos problemas em todas as partes do sistema, mas podemos melhorar. David fala sobre outras possibilidades como negócio para as autoescolas oferecerem outros produtos, além da primeira habilitação. E cita com exemplo cursos livres, independentes de legislação ou regramentos do DETRAN/DENATRAN, tipo Direção Defensiva para Idosos, direção econômica, etc.

Celso lembra do projeto CEFC, desenvolvido pelo Instituto Prevenir e Tecnodata Educacional (veja aqui).

No 28º minuto, Celso pondera que as adaptações são necessárias e que, independente do que vier a acontecer no regramento do trânsito brasileiro, os profissionais que têm as melhores chances de se dar bem, são, justamente, os profissionais que estão atuando hoje. David concorda e critica a postura dos DETRANs com as autoescolas, que diz sempre ter sido ruim.

Aos 32 minutos, David defende que a pessoa que melhor conhece as habilidades do candidato é o seu instrutor e que, por isso, uma parte da nota deveria vir dele. Outra vez, citando a Espanha e também a Bélgica, David conta as autoescolas são muito respeitadas e que a avaliação dos candidatos leva em conta o relatório emitido pelo instrutor.

Finalmente, David comenta que este período em que se pensa em grandes mudanças deve ser aproveitado para melhorar a autoescola e o processo de formação dos condutores.

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