20 anos sem Ayrton Senna: um legado
Neste 1º de maio, além do Dia do Trabalho, foram várias as homenagens, praticamente pelo mundo todo, pela passagem de 20 anos da morte de Ayrton Senna, o herói do Brasil.
Do muito que já foi dito sobre sua trajetória nesta vida, no esporte e no que este homem representou para o povo brasileiro, vale lembrar que, considerando nossa ênfase na segurança no trânsito, certa vez numa entrevista Ayrton declarou: “Todo piloto anda no seu limite e não é por que o meu limite é um pouco superior que eu sou imortal”.
Ayrton era um profissional da velocidade, o risco era sempre real e inerente à atividade que ele escolhera para se realizar como indivíduo produtivo e de destaque, mas, até mesmo por isso, ele levava muito a sério o exercício de sua profissão. Era uma das principais vozes a criticar os potenciais perigos à vida dele e de seus colegas pilotos.
Na fatídica prova de Ímola, após o grave acidente que envolveu Rubens Barrichelo e a morte de Ratzenberger, na noite de véspera da corrida, Ayrton teria declarado que não sabia se correria na manhã seguinte. Reginaldo Leme, em seu comentário em rede nacional na noite de 30 de abril, chegou a afirmar que tinha cem por cento de certeza que o nosso piloto não correria em sinal de protesto.
O respeito pelas suas palavras não advinha apenas de sua já alcançada notoriedade. Como ativista pela segurança, o comportamento de Ayrton era totalmente compatível com suas atitudes e seu desempenho. Segundo seu personal trainner, ele dormia de 8 a 10 horas por dia, mantinha seu condicionamento físico sempre “em dia”, mesmo em períodos de descanso, e nunca tomava bebidas alcoólicas. Tecnicamente, estudava muito a estratégia que adotaria em cada prova, o circuito, o seu carro, os adversários e repetia exaustivamente o quê deveria fazer durante uma corrida, enfim se preparava e treinava, treinava e treinava.
Mesmo com todo esse preparo físico e técnico, mas tenso com a pressão que sofria em decorrência dos maus resultados em duas corridas anteriores, visto que sua Willians não era estável como a Benneton do então jovem e promissor Michael Schumacher, e visivelmente abalado pelos acidentes acontecidos, surpreendentemente, Ayrton foi para a pista para superar as desvantagens com as quais lutava, para tentar superar a si próprio, mas acabou aniquilado pelo seu carro.
Então, se um atleta de altíssimo desempenho como Ayrton Senna não negligenciava aspectos físicos, técnicos e psicológicos antes de colocar a sua vida em risco, como podemos imaginar condutores debilitados ou doentes, mal preparados, transtornados e, em muitos casos, sob os efeitos de bebidas alcoólicas ou de substâncias que afetam a consciência?
Frequentamos inúmeros eventos motociclísticos e, como já afirmamos reiteradamente, trajar roupas e equipamentos caros e estar sobre potentes motos de luxo não tornam ninguém um “Valentino Rossi” ou um “ás das estradas”.
Quando vemos conhecidos beber o que flagrantemente não seriam doses recomendáveis e acelerar imprudentemente até velocidades não permitidas e incompatíveis com a segurança, infelizmente, lamentamos muito, oramos por proteção, mas, não raramente, enfrentamos a tristeza de receber más notícias, comumente relatando fatalidades, e nos sobrecarregamos com a incumbência que assumimos de, apesar de tudo isso, procurar difundir uma boa imagem do motociclismo perante a sociedade, notadamente atenta para casos de sinistros que venham corroborar a discriminação contra os motociclistas de forma generalizada.
Enfim, se mesmo para um homem dotado de um dom acima do comum como foi Ayrton Senna, para o qual segurança em todos os aspectos e alto desempenho sempre “corriam” lado a lado numa disputa sem favoritismos, por que, entre tantos legados que este “super homem” nos deixou, tantos motociclistas negligenciam a inegável fragilidade da vida e a dor que seus entes queridos podem vir a sofrer com atos que proporcionam apenas sensações efêmeras, se tudo der certo, e uma grande probabilidade de perda eterna, se qualquer coisa der errada?
O mês de maio está iniciando, sendo reconhecido como o “Mês das Mães”, símbolo maior da natalidade, da vida, então, se for pra correr em desvairadamente, que seja em defesa da vida.