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21 de novembro de 2024

Pedaladas inovadoras


Por Celso Mariano Publicado 14/06/2016 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h27
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Pedalada da mobilidadeJá pensou em trocar o carro pela bike?

Já pensou em trocar o carro pela bike? Esta pergunta costuma dividir opiniões. Há os que se entusiasmam com a ideia, já fizeram planos ou mesmo já estão indo para o trabalho ou escola movidos à pedaladas. Mas há os que se sentem mal só de pensar em ficar sem o carro, não têm bicicleta ou não consideram que essa seja uma alternativa que lhes sirva.

Há um esforço enorme neste momento, em diversas cidades ao redor do mundo para modificar o trânsito, em busca de menos congestionamentos, menos poluição e menos acidentes. Boa parte deste esforço estimula a troca do transporte individual motorizado, pelo transporte coletivo, e de ambos, pelas bikes. Nossa brasileiríssima Lei de Mobilidade (Lei 12.587 de 2012) está alinhada com estes princípios. A adjetivação que faço é por conta da pouca efetividade prática do que a lei determina, coisa incrivelmente comum em nosso país.

Neste esforço estão incluídos os saudáveis carona solidária e caminhadas. Mas de forma mais ampla, trocar a propulsão baseada só na queima de derivados de petróleo por carros elétricos ou híbridos, e até mesmo trocar veículos de quatro rodas por motos, também ajudam. Ocupar de forma mais racional os espaços nas vias, poluir menos, poupar combustíveis fósseis não renováveis e aumentar as atividade física das pessoas parece ser, ao lado de levar mais gente a usar ônibus, trens e metrôs, a receita para uma mobilidade mais inteligente.

Para muitos, ainda que simpáticos a estas opções, o automóvel ainda continuará sendo o carro-chefe, literalmente. Já tive oportunidade de escrever aqui sobre o tanto que ainda faltam a estas opções todas, especialmente ao transporte coletivo, para que alguém realmente queira deixar seu carro na garagem e ir pro trabalho ou ao supermercado de ônibus. Todos nós usuários do trânsito deveríamos preferir opções “mais adequadas” de transporte. Mas tal qual acontece com o problema do desmatamento, onde o único freio eficaz seria fazer a árvore de pé valer mais do que derrubada, a opção voluntária pelo transporte coletivo só será realidade quando ele for mais rápido, econômico, confortável e acessível do que o transporte individual motorizado. Tudo muito simples de dizer e entender, mas difícil de executar.

Já estimular a troca do carro pela bicicleta, em alguns casos específicos, não parece ser tão difícil. Há uma legião de brasileiros que curtem a ideia de aliar mobilidade à saúde e à sensação de liberdade que só uma boa pedalada dá. Mas as limitações também são grandes, desde dificuldades de circular em vias claramente otimizadas para veículos motorizados até o medo de compartilhar o espaço viário com condutores geralmente pouco amistosos com ciclistas.

Há que se melhorar a infraestrutura, por questões óbvias, e que se investir na conscientização de todos os usuários. Condutores de veículos tendem a não perceber nem a fragilidade dos ciclistas, nem o benefício indireto que ele mesmo vai usufruir, já que diminui muito a concorrência por espaço nas vias na medida em que carros são trocados por bikes. Mas acho que os CFCs não têm falado sobre isso com seus futuros condutores. Por outro lado, muitos dos “novos pedaladores” andam forçando a barra, surfando na onda da vitimização, achando que têm mais direito do que os usuários de outros modais, desrespeitando regras básicas e até cometendo os mesmos erros – muitas vezes fatais – típicos de condutores de veículos motorizados, ao beberem ou falarem e teclarem em seus celulares.

O esforço para estimular o uso de bicicletas requer mais elaboração do que para estimular a troca do carro pelo ônibus: no caso da bike, o cidadão permanece no papel de condutor. E, para conduzir bicicletas, não há qualquer processo de formação ou conscientização, nem de fiscalização. Ou seja, nem educação, nem informações básicas, como o indispensável conhecimento das regras de circulação e de segurança.

Mas vivemos um momento privilegiado na história da humanidade onde, pelo menos, acesso a informações para acompanhar o que de bom está acontecendo em outras cidades do mundo, é fácil de se obter. Na Dinamarca, por exemplo, existe até mesmo uma “autoestrada” só para bikes. É sério, veja aqui. A primeira super-ciclovia de Copenhagen foi construída em 2011. Eles levam isso tão à sério que o plano é chegarem a uma rede de 28 ciclovias interligadas, onde praticamente não haverá obstáculos.

Por aqui diversas cidades têm modificado suas vias para torná-las mais amigáveis e seguras para os ciclistas. Ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas começam a se tornar termos comuns, embora ainda haja muita confusão quanto aos seus significados, utilidades e propósitos. Curitiba deu início na semana passada a um projeto piloto que atende a uma dessas demandas que surgem fortes como a segunda onda de reivindicações (os aprimoramentos), logo após as primeiras medidas (espaço demarcados nas vias) terem seu atendimento iniciado. Experimentalmente, o ciclista poderá tomar um ônibus levando junto consigo sua bike. É a desejada e muito bem-vinda combinação de modais.

É um processo que não vai parar nunca. E não deve mesmo. Só não se pode subestimar a falta que faz desenvolver uma cultura amigável para o uso da bicicleta junto aos usuários dos outros modais de transporte. Ainda sofremos gravemente os males da ignorância, incompreensão, intolerância e individualismos no trânsito. Ai! Que falta faz uma boa política de educação para o trânsito!

Falei sobre este Projeto Piloto na Rádio CBN Curitiba, na última sexta-feira, clique na imagem para acessar a reportagem no site da emissora:

CBN_sem

Ouça aqui o que eu disse (no site da CBN o áudio está com problemas):

 

 

 

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