Micromobilidade Urbana: o sumiço dos patinetes elétricos
Depois de uma incrível ascensão, os patinetes elétricos sumiram das grande cidades. José Nachreiner Junior conta um pouco dessa história.
Era janeiro de 2019 quando experimentei, em Curitiba, na parte externa do Museu Oscar Niemeyer, um patinete elétrico alugado por meio de um aplicativo, pude aproveitar uma experiência de deslocamento que faz parte da micromobilidade urbana.
As empresas Yellow e Grin iniciaram uma competição, inicialmente, nos bairros nobres e centrais das cidades de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Não era difícil reparar, jovens e até pessoas mais velhas utilizando esta modalidade de transporte urbano pelas ciclovias, calçadas, ruas e avenidas.
Logo vieram os acidentes e com eles o poder público descobriu que, simplesmente, não havia políticas públicas brasileiras para adequar, equipamentos de micromobilidade urbana, às cidades.
Equipamentos de segurança
Os utensílios de segurança, foram os primeiros a serem exigidos por parte das prefeituras às companhias, “devidamente licenciadas”, para a comercialização dos patinetes por meio de aplicativos.
A incrível ascensão dos patinetes no Brasil, aconteceu da noite para o dia e quando esses equipamentos chegaram, tiveram enorme repercussão na mídia e logo apareceram aos milhares pelas ruas.
Todo brasileiro jovem de perfil profissional, que atua nos grandes centros urbanos, já estava se sentindo em um país de primeiro mundo. Sem qualquer política pública voltada ao mircrotransporte urbano, compartilhado por meio de aplicativos, como patinetes elétricos, bicicletas ou scooters, o poder público ficou refém dos acontecimentos.
Durante, praticamente, todo o ano de 2019, andar de patinete elétrico por motivo de lazer ou de trabalho estava se transformando em uma cena comum da micromobilidade urbana. É muito provável que o(a) leitor(a) tenha tido a experiência de conduzir um patinete elétrico em um parque ou uma ciclovia.
Os problemas revelados ao longo do ano de 2019, que brecaram a explosão dos patinetes elétricos
Outra cena comum, era observar nos bairros nobres e centrais de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, que os patinetes elétricos ficavam amontoados nas calçadas atrapalhando quem circulava por elas. Os patinetes sofreram forte ação do vandalismo, foram roubados e depredados.
Sem a infraestrutura necessária à micromobilidade urbana, o zigue-zague em meio ao trânsito provocou muitos acidentes, alguns até fatais. Tarde demais, o poder público tentou arrumar a nova mobilidade. Fez apreensões, criou regras, como a obrigatoriedade de capacetes e, por vezes, o usuário sentiu que haveriam melhoras. Ledo engano.
As empresas Grin e Yellow suspenderam seus serviços em Curitiba ainda antes da pandemia. A Lime e a Grow, as duas principais empresas que ofereciam esse tipo de serviço em São Paulo e Rio, ou reduziram drasticamente a oferta ou suspenderam as operações. Recentemente, a Uber, quis entrar neste mercado em São Paulo com 300 patinetes na Avenida Paulista, Faria Lima e Ibirapuera. Em janeiro, antes da Pandemia, desistiu das operações em São Paulo e Santos.
Questionada por este colunista, a Uber enviou a seguinte nota, por meio de sua assessora de imprensa, Bianca Beltrame:
Nota
No dia 7 de maio, a Uber anunciou a fusão da Jump, sua divisão de micromobilidade, com a empresa Lime, que está dando seguimento a uma operação combinada nas cidades que atende. Com essa fusão, as operações de patinetes elétricos da Uber em São Paulo e Santos, suspensas desde o início da pandemia, foram descontinuadas.
A Uber continua acreditando firmemente na micromobilidade e em seu poder para transformar positivamente as cidades e reconhece que a escala e o foco da Lime serão fundamentais para avançar com essa transformação. Por meio do aplicativo da Uber, nossos usuários continuarão tendo acesso aos veículos operados pela Lime onde a empresa tiver atividades.
Além do roubo e do vandalismo, andar de patinete elétrico atende somente a um público A e B. De acordo com o relatório mundial divulgado pela Organização das Nações Unidas, em 2019, mostra que o IDH brasileiro foi de 0,761, ocupando a posição de número 78 no mundo. Já a Alemanha recebeu os patinetes elétricos, também como febre, em 2019, nas cidades de Berlim, Frankfurt, Zurique e Colônia e ocupa o 4º IDH de 0,939, do mundo. Em Berlim, as empresas Bird, Ride e Lime ofertam 40 mil patinetes elétricos. Importante: a micromobilidade urbana para patinetes elétricos vinha sendo debatida pelo poder público alemão 4 anos antes da oferta deste serviço compartilhado.
Aparentemente, as empresas, que ofertaram os patinetes elétricos no Brasil, erraram o alvo e esqueceram que estamos devendo muito quando a matéria é a formação do cidadão, a educação de qualidade, a consciência crítica.
Só que além de todos esses problemas, os patinetes elétricos possuem um alto custo de manutenção no Brasil porque utilizam peças e acessórios importados e cotados em dólar.
O sistema de compartilhamento de bicicletas também encontrou problemas de vandalismo e furto e paralisou esses serviços na maior parte das cidades brasileiras. Nas cidades norte-americanas que não proibiram o uso de patinetes elétricos, há problemas de vandalismo e furto, mas, principalmente, o que mais depõe contra o setor é a manutenção cara, por exemplo a vida útil da bateria.
Uma alternativa importante
Os patinetes elétricos são uma alternativa importante para o transporte nas cidades modernas. Muitas pessoas preferem o patinete como forma de transporte para deslocamentos curtos. São equipamentos que fazem parte da micromobilidade urbana compartilhada e cuja oferta mundial é muito recente. As mudanças neste setor são muito rápidas. As empresas que retiraram os patinetes do Brasil, já estudam a própria produção dos equipamentos como forma de viabilizar economicamente a oferta e voltar a oferecer este serviço como alternativa de transporte urbano.
A importância desses equipamentos de microtransporte, nas cidades, é relevante, constituindo um mercado que gera empregos na área de tecnologia, logística, engenharia, administração, finanças, advocacia e contabilidade. Uma cadeia econômica que inclusive favorece a mão de obra primária como os “chargers”, parceiros fornecedores que se oferecem para recarregar bateria e armazenar equipamentos.