É possível enganar o bafômetro? (o que você acha?)
Nas aulas de Química a pergunta que mais ouço com relação ao tema “etanol” é:
– Professor César, tem como enganar o teste do bafômetro?
Observação primeira: o dispositivo que mede a quantidade de etanol – por quem é submetido ao teste -, presente nos alvéolos pulmonares chama-se “etilômetro”.
Observação segunda: já o “bafômetro”, deve medir o mau hálito…(o “bafo” por assim dizer!)
Dizer bafômetro corresponde a falar:
– Não percisa;
– Nóis fumo;
…para citar alguns tropeços selvagens do nosso idioma. (bem sei que a maioria entenderá o que você está querendo dizer, mas certamente o impacto auditivo para aqueles que lhe escutam será tremendo e bulhufas hospitaleiro).
Mas, e a pergunta inicial sobre se existem ou não maneiras de enganar o “etilômetro”…?
– É pouco provável que você alcance êxito, o que levanta diversas questões importantes e delicadas. (defendo que a opinião técnica deve desencorajar as pessoas a tentarem por à prova esta crendice que é uma clássica lenda urbana)
Tem havido muitos relatos equivocados e boa parte desses absurdos já foi exposto e refutado anteriormente.
Mas aqui menciono algumas semeadoras de irresponsabilidades que poderiam – são probabilidades, não certezas -, enganar o equipamento:
1- tomar um pouco de vinagre antes de se submeter ao teste;
2- dissolver um comprimido de permanganato de potássio na boca;
3- mascar chiclete, pois ele entope o canudo no qual o analisado deve soprar;
4- chupar gelo minutos antes do teste;
5- comer muita banana com a bebida alcoólica;
6- antes de se submeter ao teste você deve ficar sentado, ou mesmo acocorado, e respirar bem fundo, e bem rápido várias vezes, durante cerca de 2 minutos;
7- introduzir dois supositórios – no suposto e futuro analisado -, antes de beber. Mas só funciona com o da marca “granado”;
9- praticar exercício físico durante 15 minutos antes do teste até ficar bem ofegante;
8- engolir determinados medicamentos;
…e diversas outras bobagens caducas que não vou expor. (pois poderia despertar a “ira” da honestidade)
Triste, mas o “ato de enganar” continua no sonho de consumo daqueles insanos infratores. (mas como sonhar não é proibido, que para estes a espera nunca acabe…)
Mas voltando a sala de aula…
Alguns tópicos são escorregadios e não tão bem mapeados, por isso exercito este tipo de pergunta provocativa dos alunos evitando o menor vestígio de atividade irresponsável, exercitando a arte de expressar com convencimento e conhecimento um discurso tipo:
– Creiam em mim, e o reino dos céus se abrirá para vocês…(serve para provocar à faxina ética de que tanto precisamos. Também auxilia como analgésico, na esperança de que pretensos cidadãos não venham a cometer tantas asneiras seguidas)
Por instantes vejo nos olhos dos alunos que o esperado desta perigosa pergunta, deveria trazer como resposta um cristalino:
– “Depende pessoal”! (para ter apreciação dos não especialistas)…como não presenteio o “bando educacional” com esta alternativa vocal, a sala de aula é tomada do desencanto.
Tal e qual a frustração ao célebre mandamento cristão de “amar ao próximo como a si mesmo”. (ambas envolvendo recomendação ingênua, fácil de anunciar, mas difícil de executar)
E assim a “desilusão” e o “descrédito” transbordam o ambiente de braços dados com o grupo de principiantes desabando no imenso silêncio.
OBS: mas no final das contas, qual o objetivo de tentar provar que não bebeu, havendo bebido? (ficamos diante de mais problemas do que soluções, pois por mais insensato e improvável que pareça este absurdo, é algo concreto)
Mas o questionamento por parte dos educandos às vezes avança:
– E para aqueles que transitam pelo domínio do “consumo moderado”; terá o professor César uma observação terceira? (sussurra algum valente aluno)
E mais uma vez, sendo impossível adivinhar o motivo da pergunta, mando o revide:
– Sim, tenho!
E acrescentando sabores sutis a esse coquetel de emoções primárias mando o torpedo intelectual ao inimigo:
– Esse consumir moderadamente seria consumir um “dedal”, um “copo” ou uma “jarra cheia” da sua bebida etílica predileta?
OBS: essa e outras perguntas que normalmente residem na cabeça de todo o mundo, a resposta na verdade é muito simples:
– Um copo, um gole, uma gota, uma molécula…se é de etanol, certamente ocasionará mudanças; por vezes até não detectada por aquele que bebe…(mas acredite, a mudança ocorre)
Casos de mortes do trânsito são como fogo na sociedade, cujo combustível são os irresponsáveis, que na sua maioria são agrestes.(e você, é irresponsável e esclarecido?)
Os que bebem e dirigem pertencem a uma organização que é aceita e tolerada pela sociedade, logo não somos tão inocentes assim. (você chama a atenção para quem bebe e vai dirigir? Você recusa pegar “aquela” carona com este tipo de condutor?)
Muitas vezes é necessário tomar uma posição forte para combater esta injusta agressão à sociedade para ao menos assegurar que alguns estragos sociais sejam reduzidos ou disfarçados.
Então fique à vontade e continue bebendo a sua bebida alcoólica…(se assim o desejar)
…mas se for beber, não dirija.
Mesmo que o motivo esteja na busca de chamar a atenção num mundo de diversão sem limite ou talvez até para chocar. Agora se você é dependente desta droga procure os Alcoólicos Anônimos – AA, da sua região. (os cínicos diriam que a maior parte desse comportamento é para relaxar)
Ao tomar bebidas contendo álcool/etanol nunca você estará isento de riscos…(este é um fato que nunca polariza os especialistas)
O que podemos fazer?
Como acabar com estes casos de imprudência antes que eles tenham chance de acabar conosco, e especialmente…acabar com outros? (particularmente acredito que esta última pergunta é a mais incomodativa)
Campanhas educativas, blitz, imagens e vídeos estarrecedores, discussões, debates etc. (elas não podem ser a história toda)
Beber e dirigir, é uma atitude completamente isenta da “razão”, é claro, e esconde vastas profundidades de ignorância.
Acrescente a esse coquetel, a influência da mídia e dos costumes, e teremos uma poderosa mistura pronta para a explosão.
Minha própria concepção – inteiramente livre de tendenciosidades -, com certeza despertará comentários favoráveis…(pois sinto que a sociedade está inquieta e aflita)
A chave para compreender esse dilema e que deveria a princípio impedir de procurar nossos impulsos animalizados, não está em nenhum encantamento produzido por forças sobrenaturais…primeiramente devemos fazer com que o interesse geral passe adiante do interesse particular numa marcha de “adeus” silenciosa e depois, que haja uma surdina nas notas musicais da “falta de harmonia” que vivemos.
Acrescente cuidadosamente a isto uma porção significativa de “ética” e misture tudo com grande “quantidade de informação”…
Pronto, beba tudo e vá dirigir! (teus maus comportamentos certamente já foram dissipados no ar ou derreteram como a neve, sob o sol escaldante do bom senso).
Enxergue que você pode não ter a consciência da imprudência, mas certamente terá culpa nas consequências!
Muito boa esta reportagem
Buscava informações técnicas sobre a possibilidade de o teste por etilômetro ser burlado, pois trabalho com a prevenção de acidentes ocupacionais, ao qual, o realizamos diariamente, pois temos percebido o alto risco durante nossas execuções no ambiente industrial. Fui parcialmente respondido, mas muito mais que isso, profundamente sensibilizado com essa postagem. Parabenizo o Prof. César pelo excelente trabalho compartilhado. Muito obrigado!