Será preciso parar para pensar?
No trânsito, muitas vezes, não paramos para pensar e agimos no modo “automático”. Esse é o tema do post de Rodrigo V. de Souza. Leia!
No livro “Não nascemos prontos“, do professor, escritor e filósofo Mario Sergio Cortella, há um capítulo que traz em seu título uma expressão que sempre me inquietou: Se você parar para pensar…
Nesse texto, Cortella fala sobre o caráter de eventualidade que a correria do dia a dia dá àquela que deve ser considerada a marca registrada dos seres humanos: a capacidade de reflexão e consciência.
Aristóteles já afirmava ser “o homem o único animal que possui razão”, a qual serviria para “indicar o útil e o pernicioso, portanto também o justo e o injusto”.
Essa concepção destaca o homem entre os animais pelo seu intelecto, pela sua capacidade de pensar e falar, ou seja, por ser um animal simbólico. Visto isso, me incomoda a ideia de que haja a necessidade de parar para pensar sobre algo, sobretudo no contexto do trânsito.
Veja que, diferentemente do substantivo “trânsito”, que traz consigo uma conotação mais ampla acerca das trajetórias humanas, o verbo “transitar” parece estar invariavelmente associado ao deslocamento físico, não só de veículos automotores, mas de pessoas e produtos. Levando em consideração que quando estamos transitando estamos em constante deslocamento, seria correto afirmar que durante tais deslocamentos nos privamos dessa capacidade intelectual, pela qual fomos definidos pelos maiores nomes da filosofia?
Afinal, quem nunca se rendeu aos automatismos da vida moderna e se pegou tentando lembrar por qual caminho chegara em casa?
Eu mesmo, certa feita, fiquei semanas na dúvida se havia sido autuado ou não quando, após uma descontraída conversa a caminho do serviço da minha esposa, eu me peguei questionando-a se ela notou a que velocidade eu havia passado pelo controlador eletrônico de velocidade!
O fato é que, em se tratando do trânsito, mesmo sendo uma atividade que muitos já façam quase que instintivamente, mais do que nunca é preciso parar para pensar. Ou pensar em movimento mesmo, em como estamos nos portando diante dos diversos desafios diários que ele nos suscita. Tendo em vista a quantidade de vidas que ainda se perdem ano após ano em “acidentes” inexplicáveis à luz da razão, sou obrigado a concordar com o matemático e filósofo britânico Bertrand Russell quando afirma:
A maior parte das pessoas prefere morrer a pensar; na verdade, é isso que fazem.