Quem cuida de quem cuida de nós?
Há, aqui em Porto Alegre, um famoso vereador que, já há mais de um mandato, angaria votos disseminando um discurso de ódio contra os agentes da cidade, sobre o qual eu já havia escrito neste outro artigo. Dentre os diversos chavões utilizados no seu discurso está o de que é necessário “fiscalizar quem fiscaliza“.
Esse tipo de pensamento e de discurso não é novo e nem é uma realidade exclusiva da capital gaúcha, infelizmente. Agentes de trânsito fazem parte de uma categoria que, assim como diversas outras, presta um trabalho de suma importância para a sociedade, mas que não é aceita, respeitada e nem valorizada.
Graças ao alcance proporcionado pela internet e pelas mídias sociais, tenho recebido feedback de colegas de diversos outros estados sobre o meu trabalho. No entanto, pela minha formação na área da Psicologia, são cada vez mais constantes mensagens de colegas relatando no seu meio profissional algum tipo de desordem de fundo emocional, deles mesmos ou de colegas seus.
Sendo assim, fico me questionando: QUEM CUIDA DE QUEM CUIDA DE NÓS?
Somos desacreditados quase que diariamente pela população, pela mídia e, muitas vezes, pelos próprios órgãos de trânsito, justamente os que deveriam nos dar respaldo…
E se isso tudo já não fosse o suficiente, não temos aqui no país uma cultura de cuidado e muito menos prevenção ao que diz respeito às questões emocionais, seja no âmbito pessoal, seja no profissional.
Isso tudo acaba, infelizmente, culminando em algo que, com um pouco mais de interesse por parte desses órgãos, poderia ser diagnosticado e evitado, como afastamentos por depressão, ansiedade e, em certos casos, até mesmo suicídio.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. Estima-se um custo de 12,5 bilhões/ano para empresas e de mais de 20 bilhões/ano para contribuintes. No Brasil, 3º lugar em causa de benefício no INSS, com destaque para o alcoolismo.
Por isso:
Compreender o sofrimento psíquico do trabalhador implica em antes investigá-lo, considerando a cultura e seus valores, significa, ainda, relacionar este sofrimento aos processos subjetivos envolvidos no campo do trabalho. Os valores organizacionais servem à própria sobrevivência da organização e, por essa razão, buscam mediar conflitos para resolver problemas. (Mendes & Tamayo, 2001).
Mendes, A. M. & Tamayo, A. (2001). Valores organizacionais e prazer-sofrimento no trabalho. Psico-USF, 6(1), 39-46.