Estacionamentos: qual o preço dessa brincadeira?
Rodrigo Vargas pergunta o que faz ainda tantas pessoas crerem que têm direito ao espaço na via imediatamente em frente às suas casas? Leia o texto!
Apesar do que o título possa remeter, esse texto não tem relação com os custos relacionados aos acidentes (ou sinistros) de trânsito, tampouco com os investimentos (ou falta de) voltados à mobilidade. Enquanto revisitava um antigo artigo que aborda a questão do estacionamento de veículos particulares na via pública, a analogia nele utilizada me fez lembrar de outra situação semelhante.
Como já mencionei em outra oportunidade, há alguns anos fui síndico do condomínio onde moro. Aqui, durante muitos anos, houve uma restrição bastante grande para alguns usos das áreas comuns do condomínio. Por esse motivo, certa feita, recebi a ligação de uma condômina que realizaria o aniversário do filho no salão de festas naquela tarde. Devido às modestas metragens do mesmo, ela questionava a possibilidade de utilizar parte do pátio em frente ao salão para a montagem de uma cama elástica.
Uma vez que o próprio condomínio havia, há poucos dias, organizado uma festa para o dia das crianças com diversos brinquedos, atrações e guloseimas no mesmo pátio, considerei não haver nada que impedisse a utilização para os mesmos fins. Obviamente, desde que o brinquedo não atrapalhasse de nenhuma forma a circulação dos demais condôminos.
No entanto, já antevendo os conflitos que poderiam surgir dessa decisão, inferi que dificilmente todas as crianças do condomínio seriam convidadas para o aniversário. Visto isso, achei justo alertá-la de que, embora permitisse a montagem do brinquedo, seria dela a responsabilidade de gerenciar o acesso ao mesmo. Assim como de gerir sua correta utilização, uma vez que estando em área de uso comum, em tese, o brinquedo poderia ser utilizado por quem quer que fosse, sendo ou não convidado da festa.
Fico satisfeito ao lembrar que o “problema do pula-pula” fora resolvido de forma civilizada e democrática, que as crianças se divertiram bastantes durante a festa (tanto as convidadas quanto as demais crianças do condomínio).
Embora exista sempre aquelas vizinhas que acham um absurdo, pois, segundo essas, o condômino paga para utilizar o espaço do salão, não o do pátio. Para essas, eu respondia, sempre com irreverência, que já estava providenciando uma grua para içar os convidados da portaria diretamente para o salão, para que eles não utilizassem sequer esse trajeto da área comum.
Ironias à parte, pensemos de forma hipotética que, para esse mesmo aniversário, a condômina resolvesse reservar algumas vagas de estacionamento para os convidados em frente ao condomínio, já que o mesmo não dispõe de estacionamento para visitantes. Parece uma ideia um tanto estapafúrdia, não? Mas o que faz ainda tantas pessoas crerem que pelo fato de morarem nesse condomínio elas têm direito ao espaço na via imediatamente em frente às suas casas? Isso tem um preço para toda a sociedade…
No meu primeiro livro, O Efeito Transformers em Trânsito, no qual tive o imenso prazer e alegria de poder contar com o prefácio escrito pelo grande amigo Celso Mariano, ele conta sobre a primeira vez em que ouviu a expressão “os meninos crescem e o que muda é o preço dos brinquedos”. Me pergunto às vezes se na vida adulta os brinquedos que se tornam demasiadamente caros, ou se nós simplesmente desaprendemos a brincar? Bem, se esse for o caso, ainda deveríamos descer para o play?