Simulador de direção: antes ou durante as aulas práticas?
Já abordei esse assunto há alguns meses, mas assistindo à performance de alguns casais e da própria Ana Maria Braga no simulador de direção no Programa Mais Você, faço um convite à aprofundarmos um pouco mais a questão do ponto de vista de quem não sabe dirigir.
Foi bacana ver o simulador em uso num programa de tevê em rede nacional, as condições adversas de tempo e de clima para simular a direção durante o dia, a noite, em tempo seco, chuvoso, com neblina, a sinalização da via, dentre outros fatores que interferem numa condução segura. Inclusive o comportamento dos motoristas virtuais.
Muito interessante o resumão na tela com o desempenho do candidato, as infrações que cometeu, até porque isso indica o que ele precisa melhorar.
O que não me agrada na ideia dos simuladores é a determinação pelo Contran de seu uso antes das aulas práticas, ou seja, sem que o aluno tenha tido qualquer contato com os pedais, o volante, o câmbio de marchas e outros equipamentos do veículo que temos de estar familiarizados para dirigir e aprender a dirigir. Me refiro a esse contato em situações reais.
Para aqueles que dirão que a finalidade óbvia do simulador é justamente aprender os principais comandos do carro e que isso, por si só, justifica o seu uso, respeito a opinião, até porque cada ponto de vista é a vista de ponto, mas não a vista do todo.
Mas, eu entendo que a aprendizagem inicial, pelo menos, a parte em que o aluno é apresentado pela primeira vez ao veículo tem que ser presencial, o mais realista possível, e não virtual. Depois sim, utiliza-se o simulador de direção para o acompanhamento e aperfeiçoamento da aprendizagem prática do aluno.
Até porque o total de horas aula no simulador, cinco, com duração de 30 minutos e intervalos de meia hora, de acordo com a Resolução nº 444, de 25 de junho de 2013, não é suficiente para a etapa inicial de aprendizagens básicas, tais como pisar nos pedais, trocar marchas, dentre outras. Dirigir em condições adversas de tempo é questão básica de direção defensiva e beneficia mais, nesse caso, quem já tem noções avançadas de direção.
O intuito do simulador é muito bom e que fique claro que não sou contra essa ferramenta poderosa de aperfeiçoamento da aprendizagem, claro, desde que ela seja usada no momento oportuno. Ou seja, assim que o aluno já tem construídas as noções básicas de direção, de domínio do carro, de direção defensiva, não antes das aulas práticas e, por consequência, antes da Licença para Aprendizagem da Direção Veicular (LADV).
Se a finalidade do simulador de direção é verificar como o aluno vai dirigir na chuva, sob neblina, com condições adversas e com obstáculos na via, respeitando a velocidade, a sinalização e outros fatores é óbvio que o aluno terá que aprender a dirigir primeiro. Ou, pelo menos, saber colocar o carro em movimento, ter noções avançadas de direção.
Caso contrário, o aluno deixará para aprender a pisar nos pedais com o simulador, o carro ficará parado, engasgando, empacando e uma lista enorme de infrações de trânsito aparecerá no resumão mostrado na tela para um aluno que sequer sabe dirigir.
Alguém já pensou no impacto negativo disso para o aluno que nem começou a aprender a parte prática e já é reprovado de cara pelo simulador de direção? Qual a sensação de ver uma lista enorme de erros antes mesmo de começar a aprender?
Que comentários esse aluno fará com os outros candidatos? Que dirigir é difícil? Que nunca vai conseguir dirigir? Ficará assustado?
É por essas e outras que penso que a utilização do simulador de direção teria bem mais utilidade durante as aulas práticas para complementar e aperfeiçoar a aprendizagem iniciada no carro de verdade. Afinal, nem todos que aprenderão no simulador de direção já brincaram naqueles games que costuma ter no shopping, em que a gente compra a ficha, coloca na máquina e já sai competindo.
Uma questão me parece óbvia: não colocar a carroça na frente dos bois.