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Paul Walker: a arte imita a vida ou a vida imita a arte?


Por Márcia Pontes Publicado 02/12/2013 às 02h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h40
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Morte de Paul Walker

A morte prematura do ator Paul Walker à bordo de um carro de luxo em alta velocidade, com apenas 40 anos, chocou o mundo, causou comoção entre os fãs, mas também polêmica. Desde domingo a notícia e alguns comentários comportam certa dose do que muitos chamam de ironia do destino. No entanto, em alguns momentos parece que as pessoas não estão sabendo diferenciar o ator do personagem.

Talvez, porque o ator Paul Walker, gostasse mesmo tanto de carros e de velocidade quanto Brian O’Connor. Pelo menos, foi isso que ele afirmou na entrevista coletiva de lançamento do filme da série rodada no Brasil: que a maioria das pessoas gosta de certos tipos de carro e de velocidade, mas ele gostava de todos os carros.

Outra ironia do destino foi aquela que vitimou em 2012 um dos mais respeitáveis no mundo da segurança no trânsito, o educador Paulo Adhemar, que dedicava sua vida a salvar outras vidas. Figura constante na tevê em programas de direção defensiva, ele também estava de carona quando o motorista que foi buscá-lo para uma palestra se envolveu num acidente.

A colisão foi bem na porta onde Paulo Adhemar estava. Depois de 3 sofridos meses lutando contra a morte, ele não resistiu e foi mais uma vítima de acidente de trânsito no Brasil. Paulo Adhemar me influenciava e muito.

O que talvez mais choque as pessoas é que o ator morreu vítima da alta velocidade à bordo de um carrão potente e de luxo como aqueles que ele dirigia protagonizando as cenas de cinema. Só que no cinema o herói não morre, diferente da vida real, mesmo que esteja no banco do carona.

Na vida real Paul Walker era mais que um ator que interpretava motorista que participa de racha. Era um homem apaixonado por carros de todos os tipos, era mais que um jovem galã de Hollywood e na vida real tinha uma fundação beneficente. Estava a caminho de um evento para ajudar as vítimas do tufão nas Filipinas e também participava e promovia outros eventos humanitários de todos os tipos.

Já Brian O’Connor era o mocinho do filme cuja série tem como temática o mundo da velocidade, dos rachas, das corridas de rua em que os personagens (ainda que fictícios) reproduzem na tela do cinema o comportamento real de motoristas ainda muito jovens que gostam de sentir a adrenalina provocada pela velocidade.

Brian era o homem da lei que vivia para servir e proteger, mas que também era desafiado e desafiava a velocidade e a segurança nas ruas do mesmo modo que qualquer motorista que participe de um racha.

Eu não sei em que artigo ou que tipo de crime as autoridades americanas do filme e da vida real classificam o que Brian O’Connor fazia na tela do cinema, mas aqui no Brasil está enquadrado como crime de trânsito no artigo 308 do CTB: “participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada.”

Talvez a polêmica não fosse tanta se a causa de sua morte fosse outra que não num acidente de trânsito que reproduziu e não teve o mesmo final feliz das cenas que ele protagonizava no cinema.

A questão nem é essa, mas sim, se o filme Velozes e Furiosos influencia ou não as pessoas a terem comportamento agressivo no trânsito, se as arrancadas, aceleradas e se a emoção e a adrenalina mostradas nas telas influenciam os jovens motoristas da vida real.

Porque é exatamente isso, a emoção de correr ou morrer como diz o personagem de Vin Diesel no filme, que busca quem faz racha na vida real. Não seria a mesma emoção e a mesma adrenalina daquele motociclista que deu entrevista neste final de semana se orgulhando de jogar 300km/h na moto e dizer que só pára quando estiver morto?

Não seria a mesma emoção que buscava a moça de 19 anos que acelerou até 170km/h, que fotografou a “proeza” antes de morrer e que já havia postado foto do velocímetro a 180km/h com as legendas #instadivertido e #instaveloz?

Vocês já viram a quantidade de adesivos alusivos ao filme Velozes e Furiosos vendidos na internet para o público que faz racha?

Quem aí pode afirmar de certeza, com toda garantia, que muitos motoristas que fazem racha, que cometem imprudência e negligência não se influenciaram ou não tentaram imitar o que viram nas telas do cinema sendo estes os mais jovens e os mais influenciáveis?

Seres humanos são os únicos que precisam de exemplos para seguir. Quantos e tantos filmes tem suas cenas transformadas em mensagens motivacionais para fazer equipes de vendas superarem metas e até para fazerem outras pessoas reencontrarem o sentido da vida?

Que fique bem claro que quem morreu foi Paul Walker, o ator, porque Brian O’ Connor, o personagem, nunca morre, nunca se machuca gravemente nem de carona.

Propositalmente, o cinema nunca mostra as consequências de ser veloz e furioso nas ruas, cometendo todo tipo de imprudência e de risco à própria vida e à dos outros. Talvez, seja por isso que possa influenciar tanto.

Meus sentimentos à família do ator que perdeu o homem de carne e osso em mais um acidente de trânsito.

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