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26 de dezembro de 2024

As polêmicas em torno da campanha da Vó Gertrudes


Por Márcia Pontes Publicado 22/08/2013 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h43
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Leve, irreverente, ingênua, divertida e dando o que falar. Assim é a campanha Vó Gertrudes, uma iniciativa da prefeitura de Curitiba. Se a intenção era essa, objetivo atingido.

A campanha da Vó Gertrudes não agradou a muita gente porque é considerada inócua e inofensiva, não corresponde ao tipo de campanha educativa de trânsito que precisamos e queremos ver, nos padrões daquelas que se faz na Europa: chocantes e que retratem a realidade como ela é.

Talvez o abismo entre as campanhas água com açúcar que se faz no Brasil e as campanhas de países europeus e de outros continentes, que repercutem em todo o mundo e conseguem efetivamente diminuir os acidentes e modificar o comportamento das pessoas, esteja na plataforma cultural.

Por lá, historicamente os estrangeiros tem uma preocupação voltada para a segurança das pessoas no trânsito e para as ações sistêmicas, integradas e conjuntas enquanto aqui no Brasil as pessoas “acham” que as campanhas educativas de trânsito vão, isoladamente, resolver todos os problemas.

O fato é que a personagem que recria a figura da velhinha simpática, bondosa, cheia de experiência de vida, mas que puxa a orelha de um jeito que não choca ninguém parece que não está agradando. Talvez chame à atenção a garotada dos primeiros anos escolares.

Só não se sabe que tipo de público a campanha da Vó Gertrudes quer atingir considerando que para cada público-alvo há uma linguagem específica.

Tenho dúvidas se o jeito que oscila entre o ingênuo, austero e doce da Vó Gertrudes vai falar a mesma língua dos jovens entre 18 e 30 anos que são os mais morrem em acidentes de trânsito.

Penso que dificilmente um motorista que vá para a balada desista de dirigir depois de beber por causa dos conselhos da Vó Gertrudes. Tampouco, mais pedestres irão atravessar em cima da faixa.

Quem sabe vire bordão e ganhe a simpatia dos motoristas gente boa, dos que dirigem de um jeito pacificador, os ingênuos que em algum momento vão dizer: “Olha a Vó Gertrudes!” cada vez que verificar uma imprudência ou desrespeito no trânsito.

Mas, efetivamente, não vai causar impacto entre aquela parcela da população de pedestres e motoristas que toda campanha de trânsito pretende ao ponto de sensibilizar para a mudança necessária de comportamentos.

A meu ver, não saiu do estilo morno de se fazer campanhas de trânsito no Brasil, sem atingir os objetivos necessários para a realidade dos nossos motoristas.

Efetivamente, as campanhas de trânsito no Brasil deveriam ter uma linguagem emocional adequada para atingir e falar a língua de cada público-alvo, mostrando, principalmente, as consequências do acidente para quem o provoca, para a vítima, para a família e para a sociedade.

Não são as campanhas doces, melosas, ingênuas que vão tocar as pessoas, sensibilizá-las, abrir-lhes os olhos para o escândalo e o sofrimento causado pelos acidentes de trânsito no Brasil, mas sim as campanhas com o máximo de realismo possível sem serem apelativas. Campanhas com impacto visual, imagens fortes, recortes da realidade vivenciada no cotidiano.

Mas, como eu disse, para a categoria leve ou peso pluma a Vó Gertrudes é única.

Daí os insatisfeitos tecem todo o tipo de crítica: que não existe vovó Ninja que faça malabarismos em cima da faixa de pedestres; que a Vovó não é boa motorista porque não reduz a velocidade no cruzamento e que deveria ser autuada no art. 44 do CTB.

Outros apontam que o cinto de segurança do Fusca da Vó Gertrudes não é original, que a velhinha modificou itens de segurança originais do veículo ao colocar o cinto de 3 pontos. Criticaram até os detalhes do cenário e a falta de policiais militares na blitz do filme da Vó Gertrudes, que destacou o valor da multa por dirigir embriagado e nenhuma menção à suspensão do direito de dirigir por 12 meses.

De tanto que procuram furos na campanha da Vó Gertrudes daqui a pouco alguém vai ganhar o Troféu Mustela putorius furo ou Troféu Furão.

Muita gente dando ponta pé no vazio e catando papel na ventania, uma campanha correndo o risco de viés e Vó Gertrudes correndo o risco de ser hostilizada.

Quem sabe, o objetivo da campanha tenha sido esse mesmo: divertir, tratar um assunto tão sério com uma leveza que beira a ingenuidade quando nossos motoristas não tem nada de ingênuos e a violência no trânsito é bem maior do que nos países que fazem campanhas mais realistas.

Para muita gente, Vó Gertrudes parece ter saído do maravilhoso, de um roteiro de conto de fadas onde os netinhos traquinas ainda respeitam os conselhos da vovó. Nada a ver com o filme de ação que todo mundo quer assistir.

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