26 de dezembro de 2024

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nossos sites, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao acessar o Portal do Trânsito, você concorda com o uso dessa tecnologia. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

26 de dezembro de 2024

A marca pedagógica dos CFC’s


Por Márcia Pontes Publicado 24/07/2014 às 03h00 Atualizado 02/11/2022 às 20h36
Ouvir: 00:00

Marca nos CFCsJá se foi o tempo em que abrir uma autoescola era sinônimo de bom negócio sem a preocupação com as questões pedagógicas que envolvem o ato de ensinar e aprender a dirigir. Tanto é que a nomenclatura deixou de ser autoescola para se tornar Centro de Formação de Condutores (CFC).

Mas será que a mudança foi só no nome ou estamos mesmo correspondendo ao que se espera de um termo tão abrangente, profundo e sério como o da formação? Estamos mesmo formando condutores ou apenas instruindo e perpetuando a tradição da autoescola “despachante”, aquela que vende produtos e serviços?

Que tipo de formação os instrutores estão tendo para conhecer o mínimo da atividade de ensinar? Será que todo Centro de Formação de Instrutores reprova os alunos que pretendem se tornar instrutor ou a aprovação é de 100%, logo de cara?

Não deveriam ser questionamentos antipáticos, mas acabarão sendo aos olhos de alguns e isso é inevitável. Mas, quando se trata de questões pedagógicas, principalmente relacionadas ao ato de ensinar e de aprender a dirigir, a responsabilidade e a seriedade é maior.

É só começar o exercício e o compromisso de ouvir as queixas e dificuldades dos candidatos à primeira habilitação (e são os poucos que fazem isso) para se ter uma ideia do quanto as questões pedagógicas são deixadas de lado no dia a dia dos CFC’s.

Assim como são poucas as autoescolas que ouvem seus alunos e seus instrutores, também são poucas as que apresentam o diretor de ensino aos alunos com a orientação de que devem procurá-los sempre que tiverem dificuldades para aprender ou no relacionamento com o instrutor e demais pessoas da equipe.

Poucos são os diretores de ensino que se preocupam em saber se seus instrutores estão formando mesmo condutores ou apenas instruindo a executar comandos do veículo de forma mecânica, e se assim não fazem, assinam como co-autores de uma forma de ensino saturada.

Desconfio muito que apenas 16 horas-aula de Fundamentos da Educação seja muito pouco para o candidato a instrutor conhecer o básico de como o ser humano aprende em distintas fases da sua vida. Da mesma forma, 20 horas-aula de fundamentos de didática também serão insuficientes se estes conteúdos não tiveram embasamento sólido quanto aos fundamentos anteriores.

Testemunhando diariamente um ensino da direção veicular que usa e abusa de memorizações e de macetes para a finalidade única de evitar reprovações no teste de direção, me sinto no dever de lembrar que embora a memória seja considera uma das funções psicológicas superiores, a aprendizagem não depende somente dela.

O que faz o aluno aprender na sala de aula ou atrás do volante é a intencionalidade, são os aspectos afetivos na relação entre professor/instrutor e aluno, mas também a construção de conceitos e a apreensão de significados que vão lhe possibilitar a autonomia para executar o que aprendeu. Justamente, o que está faltando ao batalhão de recém-habilitados que diariamente se envolve em acidentes ou contrata pessoas e empresas para ensiná-los o que não aprendeu no CFC.

Se um dos argumentos mais utilizados para tentar justificar o alto índice de reprovação de novos condutores tem sido o nervosismo, que conteúdos são esses de Psicologia Aplicada à Segurança no Trânsito que, ministrados em apenas 8 horas-aula, não estão preparando quem ensina a saber lidar com esses aspectos ao longo de todo o processo de formação de condutores?

O fato é que os CFC’s carregam sim a marca pedagógica da formação de condutores e precisam deixar de ser apenas empresas que vendem produtos e serviços para se tornarem verdadeiras escolas de aprendizagem da direção veicular. Escolas que não vão deixar de cobrar pelos seus produtos e serviços, mas que vão colocar o compromisso com o ensino, a aprendizagem e a formação como principal diferencial competitivo.

Lembrando aqui das considerações da instrutora, diretora de ensino, formadora de instrutores e Mestre em Educação, Karine Winter, diante das queixas diárias que recebe de profissionais de CFC’s de que não é obrigação das autoescolas ensinar valores a alunos que não aprenderam em casa e, por isso, justificam que têm de ensinar mesmo é o que está na apostila.

Ocorre que os CFC’s carregam a marca pedagógica do ensino e da aprendizagem. CFC’s são centros de formação, instrutores são chamados o tempo todo de professores e respondem por seus atos aos diretores de ensino. Querem algo mais pedagógico que isso?

Certamente que a função do CFC não é a de um reformatório e não se poderá resolver todos os problemas, mas o mínimo que se espera é que como educadores e formadores de condutores consigam preparar essas pessoas para executarem aquilo que ensinam.

Os CFC’s e seus profissionais, aqueles que os candidatos chamam de professores, não podem se eximir do compromisso pedagógico, da responsabilidade de educador e de levar os seus alunos a reflexões sobre suas ações no trânsito e na vida.

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *