A magia da comunicação
No artigo desta semana. J. Pedro Correa mostra a importância da comunicação ao serviço da segurança no trânsito e do quanto ela pode ser benéfica a todos aqueles que se envolvem na área.
J. Pedro Correa*
Desde meus primeiros tempos de repórter de rádio, tinha a sensação de que a falta de uma boa comunicação era o grande, senão o maior problema das pessoas de negócio. Mostravam dificuldades de exprimir suas ideias com clareza assim como o que desejavam fazer. Hoje, depois de décadas rodando por redações de jornais, rádios, televisão, agências de propaganda, de comunicação e consultoria empresarial, posso dizer com segurança que, sim, minha percepção estava e continua correta.
Por que escrevo hoje sobre comunicação num espaço que tenho dedicado há várias semanas apenas à segurança no trânsito?
Porque vejo que o trânsito está precisando – e muito! – da ajuda da comunicação para conseguir andar mais rápido, para ganhar mais apoio, para arrebanhar mais gente para sua causa e se fixar como um tema prioritário na agenda brasileira.
Peter Druker, o mago do marketing planetário, dizia que 60% dos problemas das pessoas de negócios estão na ineficácia da comunicação. Eu tampouco daria mais do que uma nota 6 ao setor trânsito ao avaliar como ele é gerenciado no país há muito tempo. É preciso entender que comunicação não é apenas o que falamos, mas é como as pessoas nos entendem. Este segredo do fenômeno da comunicação é que torna rigorosa a nota aos gestores de trânsito no quesito da interlocução com a sociedade.
Vou dar um exemplo. A partir de 1987, quando desenvolvemos o Programa Volvo de Segurança no Trânsito, que acabou se tornando numa das mais bem sucedidas experiências neste país, sua âncora principal era pura comunicação com a sociedade. Tinha objetivo claro – acordar o país para os índices alarmantes de mortos e feridos no trânsito. E usava instrumentos bem escolhidos para instigar os diferentes segmentos da sociedade a juntar esforços pela grande causa comum.
Deu certo. Pode-se dizer que hoje temos a sociedade brasileira muito mais antenada sobre os perigos de trânsito. A batalha, doravante é outra, mas para poder vencê-la vamos continuar precisando muito da força da boa comunicação. Por isto, esta convocação à toda a comunidade ligada ao trânsito.
Nestes termos, quais são os desafios da comunicação para gestores e demais envolvidos no trânsito?
Precisamos compreender que a maneira de dizer algo é tão valiosa quanto o que é dito e é nisso que consiste a magia da comunicação. Parece simples mas é desafiador.
Um ponto que me chama a atenção nos gestores, executivos, comunicadores, titulares de espaços na Internet dedicados ao trânsito é que se dedicam quase que exclusivamente ao seu universo de interesse. Sendo assim, têm dificuldades quando solicitados a comentar sobre outros fatos importantes ocorridos na área de trânsito.
Ora, se precisamos aumentar a cultura de segurança no trânsito no país devemos aproveitar cada oportunidade para explicar melhor à sociedade como funciona este complexo sistema. Para isto, é essencial que dediquemos mais tempo a estudar, a conhecer mais a área para que possamos traduzi-la melhor a todos. Para fazer isto, necessitamos aperfeiçoar nossa comunicação e nossa comunicabilidade.
Quando ministrava cursos de comunicação para executivos, enfatizava muito que comunicação é mais que informação: informação subsidia, atualiza, nivela conhecimento. Já a comunicação (como transmiti-la) sela pactos entre pessoas e educa.
Minha intenção com este artigo é estimular aqueles que atuam na área a que se dediquem ao máximo a conhecer as profundezas do trânsito. E, tão importante quanto isto, que consigam passar conhecimentos aos que estão começando ou a aqueles que assumem posições importantes na gestão do trânsito sem estar devidamente preparados, o que infelizmente se vê com certa recorrência. Aí surge a importância e o valor da boa comunicação, ao serviço do trânsito, captando uma oportunidade de intervenção e transformando-a numa boa contribuição à causa.
O Brasil só sairá das dificuldades atuais com o uso do saber e isto vale para todas as áreas.
No meu livro “20 anos de lições de trânsito no Brasil – desafios e conquistas do trânsito brasileiro de 1987 a 2007” reforço, na 20ª lição, que precisamos aprender a vender melhor o trânsito, se quisermos que nossos filhos e netos se beneficiem dele mais à frente.
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Utopia imitada
*J. Pedro Correa é Consultor em programas segurança no trânsito