Dia do motociclista: profissionais pedem mais reconhecimento, segurança e empatia
A pandemia alavancou o uso da moto como ferramenta de trabalho, mas motociclistas ainda enfrentam perigos nas ruas. Especialista aponta alternativas para modificar esse cenário!
Hoje, dia 27 de julho, comemora-se o dia do motociclista. Porém, não há muitos motivos para comemoração. Como um meio de transporte de baixo custo e grande agilidade, as motocicletas são muito utilizadas em todo o Brasil. Conforme os dados mais atualizados do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), até maio desse ano o total de motocicletas registradas no país ultrapassava 24 milhões e representava 22,11% do total da frota brasileira.
Quem conduz o veículo, porém, acaba protagonizando outro dado: cerca de 21% dos acidentes de trabalho fatais entre 2011 e 2020 ocorreram com motociclistas, segundo números do Sistema de Informação de Agravo e Notificações (Sinan), do Ministério da Saúde.
Motociclistas são os que mais morrem nesse tipo de acidente.
Pandemia
Desde o ano passado, especialmente nos picos do isolamento social e das medidas de incentivo ao “#FiqueEmCasa”, o número de brasileiros que fizeram da motocicleta uma ferramenta de trabalho cresceu, e junto com ele o alerta para as necessidades desse grupo no espaço trânsito.
De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o número de empresários que usavam o delivery cresceu de 54% para 66% na pandemia. Assim como a adesão dos negócios aos aplicativos cresceu de 25% para 72%.
Já, segundo estudo divulgado em dezembro pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o número de entregadores e motoboys aumentou 3,5% na pandemia, chegando a cerca de 950 mil em todo o país.
“Isso ocasiona a amplitude de serviços de entrega com o uso da motocicleta, muitas vezes sem o preparo adequado. Por este motivo é importante conscientizar estes profissionais da importância de preparar-se para estar no trânsito com o objetivo de preservação da vida. Como também os gestores das empresas para que ofertem cursos de qualificação para estes profissionais, além do que é exigido por lei. O prazo de entrega dos produtos ou serviços também é um fator que precisa de maior atenção, para que esse tempo não contribua para aumentar o risco de sinistros”, opina Edira Soares, chefe de educação para o trânsito e formação de condutores do Detran de Alagoas.
A Lei 12009/09 regulamentou o exercício das atividades dos profissionais em transporte de passageiros, mototaxista, e em entrega de mercadorias motoboy, com o uso de motocicleta.
Para exercer este tipo de atividade profissional é preciso ter 21 anos completos e possuir habilitação no mínimo por dois anos na categoria “A”. Além disso, é necessária a aprovação em curso especializado com regulamentação pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Como modificar esse cenário?
Edira, que também é coordenadora do Plano de Segurança Viária para Motociclistas (PSVM) e uma das autoras do livro “Nós Somos o Trânsito. Acidentes com motos: como remediar esta epidemia?”, ainda avalia as principais razões dos acidentes.
“Nas capitais, a problemática pode se dar pelo excesso de velocidade, desobediências às regras de trânsito e a falta de preparação. Diante disso, a situação é ainda mais preocupante com o crescimento do uso da motocicleta por pessoas que residem na região rural, de baixa renda, onde muitas vezes a motocicleta se torna o veículo da família. Nesta situação, o desconhecimento às regras e a falta de preparação é ainda maior, havendo uma proporção maior da frota do veículo do que o número de habilitados. Isso mostra que estes motociclistas não passaram pelo processo de formação de condutores, o que aumenta significativamente os riscos de se envolverem em sinistros”, disse.
Segundo a especialista, há algumas alternativas que podem contribuir com a redução desses índices e modificar esse cenário a longo prazo.
“A solução para a redução da violência no trânsito para este público passa pelo processo de formação de condutores. Tanto quanto o aprimoramento desta qualificação para as localidades onde o transporte público é insuficiente. Além disso, é preciso que haja investimento em outros modais de transporte que diminuam o uso intensivo da motocicleta, como o transporte público. Dessa forma, é preciso, também, investir em mobilidade ativa e planejamento urbano. Portanto, é preciso pensar as cidades para as pessoas e não para os carros”, afirmou.