Artigo – Exemplos dos pequenos
J. Pedro Corrêa comenta sobre os resultados animadores de segurança no trânsito no estado de Alagoas. Leia!
*J. Pedro Corrêa
Como já escrevi neste espaço, estou buscando contatos com municípios brasileiros que estejam se destacando com programas de segurança no trânsito. Sabemos que há um pequeno número de capitais e cidades de maior porte que tem dado mais atenção aos indicadores de trânsito e exibido bons resultados. Contudo, certamente haverá de ter inúmeras outras cidades, de portes variados, cujas atividades no trânsito local não tiveram ainda boa divulgação pelo país.
Ao fazer esta busca estou procurando formar um juízo de valor sobre os esforços das nossas cidades para melhorar a segurança no trânsito e chegar ao final desta segunda década mundial de trânsito, em 2030, atingindo a meta de redução de 50% de vítimas fatais.
Tenho claro comigo mesmo de que as cidades que busco não são necessariamente maiores nem mais ricas mas aquelas em que lideranças locais se dispõem a fazer a diferença.
Uma boa surpresa desta semana foi ter notícias de boas ações em Alagoas. Em outras palavras, o segundo menor estado da federação e que não se encontra entre os mais ricos. Como a maioria dos estados do Nordeste, Alagoas tem problemas sérios de segurança no trânsito, notadamente com motocicletas. Mesmo assim lá, o Detran estadual assumiu o protagonismo no enfrentamento do desafio do trânsito e tem feito a diferença.
Esta história recente começa em 2010. Mais precisamente no início da 1ª Década Mundial de Trânsito, da ONU/OMS. Foi nessa época que engenheiro civil e de segurança no trabalho, Antônio Monteiro, é nomeado chefe de segurança no trânsito do Detran-Alagoas. Logo depois ele prestou serviços em outras áreas da instituição. A segurança, porém, mostrou-se como missão maior a ser empreendida.
O primeiro desafio foi entender o sinistro de trânsito, este fenômeno tão natural em todo o País.
Questões de estatísticas, do processo de habilitação dos condutores estavam entre as prioridades pois sem dados é impossível estabelecer qualquer estratégia de combate. Seja como for, o estado já havia batido o registro de 1.000 mortes no trânsito.
Para resumir a conversa, no ano de 2011, o número de vítimas fatais em Alagoas tinha sido de 859. Em 2019, havia baixado para 613, segundo os indicadores oficiais do estado. Considerando as dificuldades que os estados enfrentam em razão das limitações de recursos, não deixa de ser um resultado bastante bom.
“Fazer o óbvio”, explica Antonio, para justificar o conjunto de ações empreendidas pelo Detran para atingir os números que exibiu no final da década passada.
Entender a dinâmica dos sinistros, qualificá-los, formar parcerias com outras instituições ligadas ao trânsito tanto na capital como no interior, segundo ele, foram de grande importância para atacar o problema. Nesse sentido, o fortalecimento da Rede, a formação de multiplicadores, o lançamento de programas como o Alagoas pela Vida e o Programa de Segurança Viária para Motociclistas, entre outros, robusteceram consideravelmente o programa. O que, obviamente contou com o apoio total dos escalões superiores do Governo do Estado.
No interior, o grande destaque ficou com Arapiraca, o segundo maior município alagoano com 233 mil habitantes, a pouco mais de 100 quilômetros da capital.
Considerada como a “capital das motos”, Arapiraca tem uma frota na ordem de 86.000 veículos, 40.000 deles, motocicletas. Estas, responsáveis por quase 90% dos sinistros registrados na cidade, segundo informa a Superintendência de Transporte e Trânsito.
Como se não bastassem os problemas locais, a cidade é a capital da região metropolitana que abriga mais 16 municípios, o que torna seu trânsito urbano ainda mais complicado. Como me disseram a Secretária Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Simone Romão e o Superintendente de Transportes e Trânsito, Josenildo Souza, Arapiraca, contudo, procurou estruturar-se adequadamente para enfrentar todo estes desafios e tem procurado fazer da melhor forma os seus deveres de casa.
Exemplos: a WRI levou o projeto de Ruas Completas ao campus de Arapiraca, da Universidade Federal de Alagoas, que amplia seus projetos de extensão universitária para outras áreas. Dessa forma, capacitando profissionais para atuar nas frentes do transporte, trânsito, meio ambiente e urbanismo. Nesse sentido, Arapiraca faz parte da Rede Cidades Saudáveis, da OMS, que que coloca a saúde e o bem-estar dos cidadãos no centro do processo de tomada de decisões.
Ao ouvir depoimentos como do Antonio Monteiro, da Simone Romão e do Josenildo Souza, de Alagoas, fico sempre com o espírito renovado de quem o trânsito do Brasil tem jeito. E que basta vontade política para que ele possa erguer e assumir seu lugar de destaque no futuro.
O papel das lideranças locais é essencial para levar adiante o sonho de um trânsito melhor que tanto alimenta as esperanças dos cidadãos.
É bom sempre lembrar que atingir a meta de reduzir pela metade as fatalidades no trânsito até 2030 não é, apenas, uma meta de governo. Em outras palavras, é, antes, um compromisso ético para com seu povo.
*J. Pedro Corrêa é Consultor em Programas de Segurança no Trânsito