Inspeção veicular obrigatória anual poderia diminuir riscos de sinistros nas vias
Quantos sinistros de trânsito poderiam ser evitados se a inspeção veicular fosse obrigatória anualmente no Brasil? Entenda!
Recentemente, no final do mês de outubro, um sinistro de trânsito envolvendo uma carreta e uma van deixou nove mortos, entre elas sete jovens remadores, que retornavam para Pelotas (RS). O acidente aconteceu na BR-376, em Guaratuba, no Paraná e chamou a atenção de todo País. Uma matéria do programa Fantástico, exibida no final de semana seguinte ao sinistro (27/10), trouxe informações que ajudam a explicar os motivos que levaram a esse final trágico e traz um questionamento: será que se fosse implementada a inspeção veicular obrigatória anual esse sinistro teria sido evitado?
Conforme a matéria, a carreta desgovernada que causou a tragédia tinha parado ao menos três vezes por problemas mecânicos naquele mesmo fim de semana. Além disso, o motorista tirou a carteira para dirigir carretas neste ano. E, também, era a primeira viagem que ele fazia como uma espécie de “teste”, segundo o próprio depoimento do condutor. A carga tinha 27 toneladas e a carreta perdeu o freio no meio da serra.
Edgar Santana, delegado de Delitos de Trânsito de Curitiba, disse à reportagem do Fantástico que é possível que a causa do sinistro seja falta de capacidade técnica por parte do motorista ou uma falha mecânica. As investigações vão apontar o real motivo.
Ainda na matéria, outro ponto chamou a atenção. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, a cada quatro veículos de carga abordados em operações de fiscalização nas serras, um apresenta falhas mecânicas. “Problemas graves que podem terminar em tragédia”, disse Fernando César Oliveira, superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Paraná (PRF), ao Fantástico.
Todas essas informações levam a um questionamento: será que se fosse implementada a inspeção veicular obrigatória anual esse sinistro teria sido evitado?
Para Celso Mariano, especialista e diretor do Portal do Trânsito, essa é uma boa pergunta para um país com números tão ruins em relação à violência do trânsito. “Por que algo sabidamente perigoso e, por outro lado, tratável não tem merecido atenção nem dos nossos legisladores, nem dos nossos administradores de trânsito e o pior de tudo, nem de nós mesmos? A nossa cultura de percepção de riscos ainda é muito baixa”, sugere.
O especialista complementa que a grosseira falta de percepção de riscos está representada no trânsito por condutores imprudentes ou negligentes de veículos de passeio, pequenos e grandes veículos de carga, de motocicletas e, provavelmente, até de bicicletas e patinetes.
“Acidentes terríveis, como esse citado no início da matéria, certamente poderiam ser evitados com inspeção veicular obrigatória anual. De novo a pergunta, por que não temos?”, questiona.
Exemplo que vem de fora
Mariano conta que em países europeus, por exemplo, a partir do quarto ano completo, desde a fabricação do veículo, existe a obrigação de inspeção veicular em entidades autorizadas e duramente fiscalizadas pelo governo para fazer isso.
“São oficinas especializadas, o veículo não fica mais do que 10 minutos lá e o valor da taxa ser paga é algo como 20 euros, algo próximo a R$ 120, para uma inspeção veicular que tira imediatamente de circulação, qualquer veículo que não esteja dentro das condições mínimas”, detalha.
Conforme o especialista, se fizéssemos isso, os números seriam diferentes. “Nós certamente zeraríamos o número de sinistros oriundos de veículos com problemas de manutenção, com falhas mecânicas, com freios que não funcionam e com problemas de suspensão. Ou seja, todos aqueles que geram sinistros de trânsito”, complementa.
Para concluir, Mariano diz que enquanto a fiscalização e a educação fazem o seu esforço para que cada vez menos haja condutores que não percebem o risco, que abusam, que não entendem os motivos das restrições impostas pelas regras. Por outro lado, cabe às autoridades resolverem o problema da má qualidade dos veículos em circulação. “O veículo fabricado há muito tempo tem menos tecnologia embarcada. Além disso, tem menos condições de oferecer recursos que podem fazer diferença, por isso a frota deve ser renovada. No entanto, se nós toleramos veículos com idade avançada, necessariamente tinha que recair uma exigência muito maior de manutenção adequada”, finaliza.